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De 'situationship' a 'casamento lavanda': conheça os novos arranjos afetivos que redefinem vínculos
Entre combinações flexíveis e personalizadas, as diferentes formas de se relacionar ganham espaço e mudam padrões
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— Rio de Janeiro
23/11/2025 03h30 Atualizado há 5 horas
A história deles, que já dura quatro anos, passou por pelo menos três das muitas nomenclaturas criadas nos últimos tempos para definir novos arranjos afetivos. Há termos para definir relacionamentos com duas, três, quatro ou mais pessoas; relações com proximidade afetiva e distância física; e até para quem evita o envolvimento com afeto. No caso de Dante e Vitória, os dois são bissexuais e, mesmo morando juntos, optaram por uma relação livre, na qual podem sair com outras pessoas.
— Nossa relação é uma construção, prezamos a comunicação, e através dela, tudo vai se acertando. Não acreditamos em papéis de gênero determinados, sou um homem trans, conectado com meu lado feminino, e minha mulher adora. Assim como ela é “amadeirada” e acho incrível. Temos uma real compreensão do outro, um amor forte que está acima de qualquer regra — explica Dante.
A psicanalista e escritora Regina Navarro Lins, que já publicou 14 livros sobre relações amorosas, entre eles “Novas formas de amar”, avalia que cada vez mais a sociedade caminha para que as pessoas possam escolher suas formas de viver, sem precisar seguir modelos sociais.
— A gente vive sob o mito do amor romântico, que prega ideias equivocadas como a de que quem ama não se interessa por mais ninguém. Mas esse tipo de amor está dando sinais de sair de cena, já que os anseios contemporâneos tratam da busca pela individualidade. Com isso, surgem novas formas de amar que não têm a exclusividade como base — explica.
Neste universo de novos arranjos, conheça alguns:
Agamia
Não ter interesse em relacionamentos românticos
Mais que uma forma de relação, a jornalista e palestrante Maira Reis, de 41 anos, explica que a agamia é um estilo de vida, uma opção de quem não busca um compromisso. Como o nome já evidencia, é negação com gamia (de casamento), representando quem não tem interesse nesse tipo de vínculo. A ideia é se relacionar, mas sem formalizar.
— Não quer dizer que a pessoa não goste, não ame. Ela só não quer a estrutura socialmente imposta — explica a influenciadora, destacando ainda que essa opção pode ser temporária: — A pessoa que acabou de terminar uma relação e não quer outro envolvimento profundo naquele momento, por exemplo, está em uma fase agâmica.
Casamento lavanda
União entre pessoas de diferentes orientações sexuais
A regra aqui é não ter regra. O que no passado era um relacionamento de fachada, hoje se tornou uma forma genuína de relacionamento, visando a construção familiar.
É o caso do casal americano Jacob Hoff, de 32 anos, e Samantha Wynn Greenstone, de 38. Ele é gay e ela é hétero. Mas, apaixonados, decidiram se casar e hoje esperam a chegada do primeiro filho. Nas redes sociais, onde acumulam mais de 500 mil seguidores, compartilham detalhes da relação e provam que a amizade é a base de qualquer conexão.
Conversante
Relação que se dá unicamente via redes sociais com conversas, curtidas, stalks
O que começa como um simples “oi” em uma rede social com o tempo ganha intensidade e status de relacionamento, mesmo sem sair do virtual. Assim surgem os conversantes: parceiros que trocam mensagens seja no WhatsApp, Instagram ou até no TikTok, dedicam tempo um ao outro, mas não necessariamente presença.
A psicóloga Amanda Morais, doutora em Análise do Comportamento, explica que as redes sociais podem, sim, ser o local de start de muitos relacionamentos, mas que se deve ter cautela para não supervalorizar as interações.
— Existem diferentes formas de demonstrar interesse e uma delas é a digital. Há sempre um risco, em todas as relações, de se criar expectativas que depois não são alcançadas, mas o maior risco está em a gente só encontrar reconhecimento social nessas demonstrações de afeto e não enxergar isso nos outros campos da nossa vida — diz.
DADT (Don’t ask, don’t tell)
Não há interesse em saber o que o outro faz quando estão separados
“O que os olhos não veem, o coração não sente”, já diz o ditado. É nisso que acredita quem opta pelo arranjo DADT, sigla para a expressão em inglês “Don’t ask, don’t tell”, que no português significa: “Não pergunte, não conte”.
Quem escolhe esse modelo de convivência aceita que o parceiro tenha outros afetos, mas prefere não conversar sobre o assunto. Entre quatro paredes, a vida segue como em uma relação monogâmica, mas fora de casa, ambos podem fazer o quer quiserem, contanto que o outro não saiba.
LAT (Living apart together)
Casados que moram em casas diferentes
Já faz oito anos que a coordenadora de IA e empresária Manuela Bolsonaro Ferreira Lima Miziara, de 35 anos, e o empresário do mercado financeiro Guilherme Muniz Miziara, de 46, casaram-se, mas optaram por ficar em casas separadas. O casal aderiu ao estilo de vida conhecido como LAT, em inglês “living apart together”, que pode ser traduzido como “vivendo juntos, mas separados”. O combinado é que durante a semana eles fiquem cada um em sua casa, distantes dois quilômetros uma da outra, focados nas próprias atividades de trabalho e obrigações domésticas, e no fim de semana se encontrem para aproveitarem juntos os dias de folga.
— Morávamos em cidades diferentes no namoro e só mantivemos a mesma logística no casamento, quando mudamos para a mesma cidade. Foi um consenso natural, que para a gente funciona muito bem. Cada um tem que viver como quer, e com certeza o nosso modelo tem muito menos briga — garante Manuela.
Não monogamia
Aceitam que o parceiro tenha outros relacionamentos
“A monogamia sempre me podou, me sentia presa e me perdia ao ponto de deixar de ser eu”, lembra a agente de viagens Fidalma Chahine, de 36 anos, que há quase dois anos se descobriu uma pessoa não monogâmica. Hoje, ela se sente livre e dona do seu tempo, vivendo pelo menos cinco afetos, todas relações diferentes.
— Tenho uma rede de afeto na qual não tenho dúvida que sou amada por quem eu sou. O amor expande, não é substituído. Não vejo sentido na vida de solteira, de sair pegando todo mundo. Eu gosto de me conectar com as pessoas, viver amores genuínos, mas também manter a minha liberdade, sem ter o peso de ter que ser o centro da vida uma pessoa — afirma.
Neo monogamia
Casais que estabelecem regras para dates fora do relacionamento
Há um meio-termo entre os relacionamentos abertos e fechados, em que o combinado não sai caro. Na neo monogamia, o casal escolhe uma relação a dois, a maior parte do tempo monogâmica, mas com momentos de flexibilidade, definidos previamente. Poder se envolver com alguém que conheceu numa viagem, se relacionar com algum famoso e viver um amor de carnaval são algumas das regras, que devem ser fixadas com diálogo e concordância mútua.
Poliamor
Relacionamentos que envolvem mais de duas pessoas. Exemplo: um trisal
Há quem faça confusão com os termos poliamor e a relação não monogâmica, e ela é mais do que justificada, já que um está relacionado ao outro. A influenciadora Priscila Mira, de 41 anos, que vive uma relação de trisal, explica que todos os poliamoristas são não monogâmicos, já que optaram por não se enquadrarem em um sistema onde só podem ter relação com uma pessoa.
— O poliamor nada mais é do que a capacidade das pessoas de amarem mais pessoas. Uma palavra que dá extensão e expansão. Acho válida a nomenclatura, e a tendência é só ir aumentando, já que vamos criando rótulos pelas coisas que vamos descobrindo.
Situationship
Estar numa relação sem compromisso com o futuro
“Pega, mas não se apega”, já diz o bordão. A assistente jurídica Morgana Maisner, de 23 anos, viveu uma “situationship” por sete meses. No final, uma conversa selou o fim do que sequer começou e evidenciou o que ela já desconfiava: a relação não tinha futuro.
— A situationship é mais unilateral, uma pessoa vê a relação com mais complexidade sentimental do que a outra. Acho que o requisito é haver algum sentimento não correspondido ou não correspondido 100%. É diferente de só “ficar” com uma pessoa porque envolve sentimentos complexos e por certas vezes profundos, mas ainda ser um relacionamento formal.
Throning
Relacionamentos que priorizam status social
A corretora de imóveis e acadêmica de Direito Emily Höpner, de 21 anos, não esconde que o fato de o empresário Júnior, de 29 anos, ser rico foi um dos motivos que a levaram a aceitar o namoro. A opção por colocar a condição financeira do parceiro como prioridade na hora de assumir um compromisso ganhou o nome de “throning”, palavra me inglês que traduzida significa “trono”. E é exatamente assim que a estudante garante se sentir:
— Sempre pensei que de pobre no relacionamento já bastava eu e deixei claro que ele teria que me dar uma vida de princesa, se fosse para gente namorar, que ele realmente pudesse facilitar minha vida — lembra ela.
O início do namoro, em fevereiro, foi acompanhado de um anel de ouro branco com diamante e da decisão de morarem juntos.
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