O que é gouinage? Conheça prática do sexo sem penetração: 'Corpo todo é uma zona erógena'
Vindo do francês, a palavra pode parecer algo diferente, mas na verdade tem um significado bem simples: fazer sexo sem penetração. A Marie Claire, a terapeuta sexual e sexóloga Bárbara Bastos comenta sobre a prática e dá dicas para quem quer começar: 'Não existe um jeito único de ter relação sexual'
Por Bruna Liu, redação Marie Claire — São Paulo
11/11/2023 05h00 Atualizado 13/11/2023
Você já ouviu falar de gouinage? Vindo do francês, a palavra pode parecer algo diferente, mas na verdade tem um significado bem simples: fazer sexo sem penetração. Ainda que o termo se traduza como “sapatão” para o português, a prática não se restringe a orientação sexual ou gênero algum.
“O importante é ter pessoas dispostas a se entregarem, se vulnerabilizarem e se permitirem viver um sexo diferente do que foi construído ao longo do tempo”, explica a terapeuta sexual e sexóloga Bárbara Bastos a Marie Claire.
A especialista ainda fala sobre como, normalmente, o ato do sexo em si fica focado somente na penetração, principalmente para os heterossexuais. “O problema é que se perde uma possibilidade enorme de prazer, pois o corpo todo é uma zona erógena”.
“Além disso, são deixadas de lado oportunidades de maior conexão com a parceira ou parceiro, já que você fica somente no movimento mecânico e no mesmo repertório sexual de sempre, que inclusive acaba cansando diversos casais ao longo dos anos”.
Por isso, a ideia do gouinage é “aprofundar na relação sexual, aproveitando todos os sentidos e toda a potência que esse envolvimento pode trazer”. “No sexo gouinage é possível aproveitar cada parte do corpo, experimentar com o toque, com a língua, estar mais atento aos cheiros e sabores e, claro, se permitir que a outra pessoa mergulhe dessa forma em você também”, diz a sexóloga.
Qual a diferença para as preliminares?
Como o próprio nome já sugere, as preliminares vem antes de algo, ou seja, “é tudo aquilo que precede o sexo”. Já o gouinage é o ato do sexo em si: “É uma ótima forma de aprofundar mais no corpo da(o) parceira(o) e aumentar a conexão entre o casal.”
No ato também é possível chegar ao orgasmo, já que ele “é uma sensação que começa na nossa mente e independe do estímulo”. “Inclusive, tem pessoas que gozam dormindo. Então, não é necessário o estímulo no pênis, nem no canal vaginal e nem no clitóris para ter orgasmo. Óbvio que essas são formas mais diretas e fáceis de chegar lá, mas de longe são as únicas”, aponta a terapeuta sexual.
Quem são as adeptas ao gouinage?
É possível perceber que o termo é mais popularizado entre os homens, principalmente entre os gays. Aqui no Brasil, a maioria do público frequentador de grupos do Facebook sobre o tema é homem. Mas isso não quer dizer que mulheres não gostem de gouinage.
Esse é o caso de Bruna S.*. Ela passou a ser adepta do gouinage quando encontrou um parceiro que não curtia penetração. “No começo eu achei esquisito, passaram mil coisas na minha cabeça. Como um cara hétero não gosta de penetração? E aí ele disse que sente prazer dando prazer”, revelou.
“Outras práticas como oral e masturbação dão mais satisfação para ele também. Depois que descobri que dá pra ter muito prazer dessa maneira, parei de achar estranho não ter penetração e tentar encaixar um roteiro no sexo.”
Além disso, Bruna cita que a massagem é um ponto que a excita e conta mais: “Toques no pescoço, na cintura, no quadril. Acho que a audição é bem poderosa também.”
Já Rebecca Maia é uma mulher que gosta de outras mulheres e também prefere o sexo sem penetração. “Gosto de carinho, ser beijada, tocada, abraçada, de me sentir amada e desejada. Mas, por exemplo, não curto muito sexo oral (fazer e receber) acho algo ‘distante’ gosto da proximidade dos rostos e da respiração”, explica ela.
“Também aprecio proporcionar prazer, sentir o cheiro da pessoa, a pele, etc. É um conjunto! Tudo isso me excita e me faz ter, em tese, uma boa experiência sexual.”
A carioca afirma que passou a curtir o gouinage naturalmente, já que nunca conseguiu penetrar nenhum objeto, como vibrador e afins, assim como o dedo, em sua vagina: “Simplesmente não entra, começa a doer e eu peço pra parar. Nas consultas com ginecologista eu abordei o assunto, fui examinada e não há nenhum ‘problema’. É algo do meu corpo mesmo.”
Para Vanessa*, no entanto, o gouinage foi a forma que ela encontrou para sentir prazer sexual depois de passar por cinco sessões de braquiterapia. A paranaense teve câncer de endométrio e o elemento radioativo (iridium) que ficava na cúpula vaginal fez com que o canal estreitasse até quase fechar.
“Isso causa dor na penetração. A cirurgia de retirada do tumor também diminui o tamanho do canal. Embora tenha que fazer exercícios pélvicos com dilatadores vaginais, não é prazeroso e sim uma rotina terapêutica para que o canal não se feche totalmente e eu consiga fazer os exames obrigatórios de acompanhamento oncológico, como a transvaginal”, afirma.
Quais dicas a especialista dá?
Para quem quer começar na prática, a dica da sexóloga Bárbara Bastos Claro é estar 100% presente no ato sexual: “Coloque os pensamentos que te atormentam pra fora do quarto e se comprometa a estar ali, vivendo aquele momento, sem regras e sem script.”
“Não existe um jeito único de ter relação sexual, mas o que acontece é que os casais vão limitando as possibilidades até chegarem apenas na penetração e em algo monótono”, complementa.
Outra dica é estar aberto a descobrir o corpo do(a) parceiro(a) e se permitir a isso também. “Como sugestão, comece fazendo a massagem sensitive, muito falada no tantra, que possui um toque suave com as pontas dos dedos, por todo corpo do(a) parceiro(a). Comece pelos pés e tenha atenção às reações do seu amor, onde tem mais sensibilidade e onde não fez tanta diferença”.
“Após isso, aproveite para passear com os próprios lábios no corpo e não somente na boca, que é o mais comum. Esteja sempre presente e com a mente curiosa nesse novo sexo. Claro, aproveite os outros sentidos, acendendo uma vela cheirosa, por exemplo”, finaliza.
*Nomes foram abreviados e alterados a pedido das entrevistadas
Fonte:https://revistamarieclaire.globo.com/sexo/noticia/2023/11/o-que-e-gouinage-conheca-pratica-do-sexo-sem-penetracao-corpo-todo-e-uma-zona-erogena.ghtml
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