O que é squirting? Toda mulher pode ter um? Como chegar lá?
Tabu para umas, motivo de vergonha para outras, o líquido em abundância que escorre da vagina depois de um orgasmo é perfeitamente normal, mas a ciência ainda conhece muito pouco sobre ele
Por Camila Cetrone, redação Marie Claire — São Paulo (SP)
13/02/2024 04h01 Atualizado 14/02/2024
É de lei: sempre que Larissa* tem um orgasmo, ela molha a cama. O toque seco do lençol dá lugar para “poças enormes” de líquido, a ponto de precisar trocá-lo a cada relação sexual ou mesmo depois de se masturbar. O que sai de dentro dela não é xixi, mas ejaculação feminina, que também é conhecida como squirting – termo que, em inglês, significa “esguichando”.
A primeira vez que isso aconteceu foi com o primeiro namorado. “Demorei muito a conseguir gozar. Sentia aquela sensação parecida com a vontade de fazer xixi, que é o esguicho, e ficava insegura e com medo. Logo que consegui nem acreditei, precisei olhar a cama e assimilar. Com sorte já era um namorado e éramos muito íntimos, então nunca senti vergonha”, conta. “Meu parceiro fixo atualmente já sente escorrer uns 30 segundos antes do orgasmo.”
O squirting, como Larissa ilustra, é quando o orgasmo e o prazer sexual são tão intensos que a vagina libera líquidos e fluidos. Além de ser um dos tabus relacionados à sexualidade feminina, essa imagem da ejaculação é mais vinculada aos homens e a outras pessoas com pênis (como mulheres trans, travestis e algumas pessoas não binárias e intersexo), e nunca a mulheres e outras pessoas com vulvas (como, além de intersexos e não binárias, homens trans).
No pornô, o squirting chegou a se tornar categoria, e frequentemente se vê mulheres soltando jatos fortes de líquidos da vagina. No entanto, não necessariamente a ejaculação feminina vem em jatos. Além disso, não são todas as pessoas com vulva que chegam ao ponto de ter um squirting – na verdade, ele é tido pela comunidade científica como algo raro de acontecer. Mas isso não quer dizer que quem não tenha essa ejaculação não tenha chegado ao orgasmo.
Como conseguir um squirting?
Mesmo com o avanço da medicina, parte das definições e características do que seria um squirting continuam desconhecidas. Para se ter ideia, até hoje não se sabe ao certo qual é a composição do tal líquido que escorre por entre as pernas.
Um estudo conduzido pelo médico Frank Addiego, publicado no Journal of Sex Research em 1981, indicou que esse líquido poderia ser expelido devido a estimulação do chamado ponto G. Ele e sua equipe também constataram que o fluido da ejaculação era diferente da urina.
No entanto, um estudo mais recente de 2022 refuta essa tese. Pesquisa do Hospital Central de Okayama, no Japão, publicada no periódico científico International Journal of Urology, identificou que o principal componente do líquido do squirting é urina. Além disso, os pesquisadores conseguiram identificar que o volume do esguicho pode variar de 1 ml ate 1 litro.
Uma das poucas coisas que se sabe sobre o squirting e que tem respaldo científico é que a enzima PDE5, que é encontrada na ejaculação masculina, também está presente na vagina. Um estudo feito na Universidade de Aquila, na Itália, aponta que essa enzima fica concentrada nas glândulas de skene, que ficam localizadas na vulva, bem próximas à uretra.
Na ciência, essas glândulas ganharam o nome de próstata feminina. A possível explicação é que, quando elas são estimuladas de forma prazerosa, os ductos levam esse líquido para a uretra, o que resulta no squirting.
Squirting não é motivo de vergonha
Por mais que seja o clímax esperado em alguns vídeos pornô, na vida real o status é outro: o squirting – assim como as secreções vaginais e a menstruação, por exemplo – é visto como algo nojento, do qual se deve ter vergonha.
No entanto, a ejaculação feminina é algo perfeitamente comum e saudável, quando acontece; e também quando não acontece. Vale lembrar que a comunidade científica considera o squirting um fenômeno raro, e não tê-lo não significa que uma mulher não tem orgasmos.
O orgasmo em pessoas com vulva é definido pelas contrações rítmicas e involuntárias que acontecem na musculatura da vagina ânus e reto, resultando em uma sensação de relaxamento, bem-estar e libertação da tensão sexual. Algumas ainda podem experimentar uma redução na sensibilidade da vulva por algum tempo. No entanto, a sensação pode variar de pessoa para pessoa.
O squirting não deve ser uma imposição
Por outro lado, para algumas pessoas – sobretudo homens cis –, a presença da ejaculação feminina virou algo mandatório, um sinal de que provação de que conseguiram fazer com que uma mulher goze.
No entanto, além do fato de que não são todas as pessoas com vulva que conseguem tê-lo (sim, é preciso lembrar de novo) e de a ejaculação não necessariamente acontecer com frequência, o squirting deve ser celebrado como parte do auto prazer – não como uma forma de agradar a parceria.
Larissa, por exemplo, diz que se sente confortável e feliz quando tem um squirting porque, para ela, é um sinal de que se sente confortável o suficiente com o próprio corpo e para demonstrar prazer.
"Conhecer nosso corpo é motivo de orgulho. Eu quero poder conhecer ainda mais detalhes do meu prazer. Os homens gozam da vida como querem e devem, e nós deveríamos também", diz.
*O nome foi alterado a pedido da personagem.
Fonte:https://revistamarieclaire.globo.com/sexo/noticia/2024/02/o-que-e-squirting-ejaculacao-feminina.ghtml
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