O ponto G existe mesmo? O que a ciência diz sobre área que intensifica o orgasmo em mulheres
Descoberto há mais de 70 anos, o ponto G promete intensificar os orgasmos femininos e foi tido por anos como a principal zona erógena das mulheres. No entanto, até hoje pesquisadores e médicos continua incertos sobre sua existência
Por Camila Cetrone, redação Marie Claire — São Paulo (SP)
15/02/2024 04h01 Atualizado há uma semana
Certamente você já deve ter cruzado com a definição do ponto G por aí, uma área dentro do canal vaginal que promete orgasmos intensos e muito mais prazer – seja durante o sexo, seja na masturbação. Mas, mesmo 70 anos depois de ser definido pela primeira vez, essa zona erógena ainda é cercada de mistérios e pode não ser, exatamente, o que pensávamos todo esse tempo.
O ponto G é definido como uma zona erógena que fica dentro da vagina. O que se diz é que, se for estimuladas de forma prazerosa, pode aumentar a excitação e até mesmo culminar na ejaculação feminina – conhecida atualmente como squirting.
Seria um conjunto de vasos sanguíneos, nervos e terminações nervosas que se aglomeram logo na entrada do canal vaginal, aproximadamente na parte de trás do clitóris. E como estimular essa região? O passo a passo mais comumente repassado para quem quer encontrá-lo é inserir metade dos dedos indicador e médio na vagina, com a palma da mão virada para cima, e dobrá-los – como se você estivesse chamando alguém para perto.
No entanto, a existência do ponto G não é um consenso. E ainda: nas hipóteses em que ele é levado em consideração, se explicita que a região não é uma área milagrosa. Isso porque o orgasmo não depende apenas dessa região, mas de uma série de outros fatores, como o comportamento, o conforto e os gostos particulares de cada pessoa.
Quando o ponto G foi descoberto?
A descoberta do ponto G aconteceu em 1950, pelas mãos do pesquisador, fisiologista e médico alemão Ernst Gräfenberg. Enquanto pesquisava qual é a função da uretra no orgasmo feminino, Gräfenberg topou com a área e a descreveu como "uma zona erógena localizada na parede anterior da vagina, junto do caminho da uretra, que se dilata na estimulação sexual".
Para ele, o ponto G teria uma capacidade surpreendente de não só levar uma mulher ao orgasmo, mas torná-los mais intensos. Por isso, poderia ser considerada a zona erógena suprema de uma pessoa com vulva.
Duas décadas mais tarde, essa tese foi reforçada por um estudo conduzido pelo médico Frank Addiego, chamado Ejaculação Feminina: Um Estudo de Caso. Publicado em 1981 no Journal of Sex Research, Addiego e sua equipe chegaram à conclusão de que a ejaculação feminina – ou seja, quando líquidos são expelidos durante o orgasmo – acontece quando o ponto G é estimulado.
Uma curiosidade, aliás, é que o ponto G ganhou esse nome oficial neste estudo, como uma abreviação do termo "ponto de Gräfenberg", em referência ao médico alemão que descobriu a região.
Entre os pesquisadores que trabalharam com Addiego estava a sexóloga norte-americana Beverley Whipple, considerada pioneira e uma das maiores autoridades quando se trata de descobertas sobre o ponto G.
Em seu livro The G Spot: And Other Discoveries about Human Sexuality (O ponto G: e outras descobertas sobre a sexualidade humana, em português; o livro foi best-seller em plena década de 1980), Whipple – junto de Alice Kahn Ladas e John D. Perry – coloca a área como um tecido erétil que pode ser sentido na parede frontal da vagina, bem atrás do osso púbico.
A sexóloga chegou a conduzir um estudo com 800 mulheres para provar sua existência. A pesquisa, que foi publicada no Scandinavian Journal of Sexology, consistia em orientar homens casados sobre de que forma penetrar os dedos no canal vaginal de suas mulheres para, assim, mapear a área em que as mulheres sentiram mais prazer.
Com a pesquisa, Whipple constatou que a maioria delas indicaram a região onde o ponto G estaria localizado como a que mais as levaram ao orgasmo.
Não há consenso sobre existência do ponto G
Por mais que existam relatos de mulheres que afirmam sentir mais prazer quando uma área próxima de onde seria o ponto G é estimulada, a existência da zona erógena, por si só, ainda divide a comunidade médica e científica.
Em 2008, pesquisadores da Universidade de Áquila, na Itália, disseram ter encontrado um tecido diferenciado entre a uretra e a vagina ao realizar ultrassons em mulheres que diziam ter um ponto G, em comparação com as que diziam não ter. O que os cientistas viram era que existia uma área mais espessa que não foi identificada em todas as mulheres. Isso seria um indicativo de que nem todas nascem com um ponto G.
Já em 2010, outro estudo da King's College, em Londres, refutou sua existência – e a definiu como “fruto da imaginação das mulheres”. Os cientistas pediram para que 1.084 mulheres, irmãs gêmeas idênticas ou não, respondessem um questionário afirmando se tinham ou não um ponto G.
Mais da metade que afirmou ter a região era mais jovem e sexualmente ativa; e as gêmeas idênticas tinham maior tendência a respondem que contavam com a região em seus corpos do que as não idênticas.
À época, Beverley Whipple chegou a contestar o estudo. A sexóloga afirmou que não foram mapeadas diferentes técnicas sexuais – como as usadas por mulheres bissexuais e lésbicas – e que as irmãs não dividiram o mesmo parceiro sexual. Na visão dela, a estimulação e a percepção de prazer de cada uma pode variar.
Dois anos depois, o ginecologista Adam Ostrzenski, do Instituto de Ginecologia da cidade de São Petersburgo, na Flórida, publicou um artigo na The Journal of Sexual Medicine em que afirma que encontrou o ponto G após examinar o corpo de uma mulher morta de 83 anos.
Segundo ele, o ponto G é um casulo de 3,3 milímetros que pode ser estendido a até 8 milímetros quando estimulado – ou seja, mais que o dobro do tamanho original. Ostrzenski também afirmou que a cor do tecido da área era azul e com fibras, diferente do restante da região.
Na época, o médico disse ao G1: “Sei que é um assunto controverso, mas acredito que a estrutura anatômica do ponto G existe. E um corpo foi o suficiente para me dizer isso. O ponto G pode ser diferente em outra mulher, como a minha cor dos olhos é diferente da sua. Por isso temos que estudar a anatomia.”
O que o ponto G tem a ver com o clitóris?
Um dos pontos mais citados pelas pesquisas que refutam a existência do ponto G é de que o ponto nada mais é do que a parte de trás do clitóris. O órgão, que tem como único intuito oferecer prazer a pessoas com vulva, só foi descoberto e mapeado em 2005 pela urologista australiana Helen O'Connell – ou seja, 55 anos depois da descoberta do ponto G por Ernst Gräfenberg.
O’Connell conduziu uma pesquisa no Hospital Royal Melbourne em que, depois de dissecar 50 vaginas, observou que o que se estimula, na verdade, é a região do clitóris – o órgão pode variar de 9 cm a 11 cm e tem uma área interna que vai muito além da glande, que fica na vulva.
Além disso, em 2017, médicos do Austin Hospital não encontraram nenhuma outra estrutura além da parede vaginal, após examinarem mulheres entre 32 anos e 97 anos, e também atribuíram a intensificação do orgasmo com a proximidade do clitóris.
Essa ressalva havia sido feita pelo médico Tim Spector, do Hospital Saint Thomas, em Londres, como reação ao estudo feito em 2008 pela Universidade de Áquila.
"Os autores acharam uma parede vaginal mais espessa próxima à uretra e postulam que isso esteja ligado à presença do controverso ponto G. Mas muitas outras explicações são possíveis, como o tamanho real do clitóris, que, apesar de não ter sido medido neste estudo, parece ser altamente variável", Spector afirmou ao The Independent na época.
Fonte:https://revistamarieclaire.globo.com/sexo/noticia/2024/02/o-que-e-ponto-g-existe.ghtml
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