Por que sentimos atração por determinadas pessoas e por outras não?
Pesquisador da Universidade de Boston testou as condições que determinam se nos sentimos atraídos ou rejeitados uns pelos outros
Por Redação Galileu
06/08/2023 17h54 Atualizado há 4 horas
Segundo o pesquisador, quando alguém acredita que uma essência dirige seus interesses, gostos e desgostos, essa pessoa assume que o mesmo acontece para todas as outras pessoas. Por isso, quando encontramos alguém com um interesse correspondente, tendemos a acreditar que essa pessoa compartilha também a nossa visão de mundo mais ampla.
“Argumentamos que acreditar que as pessoas têm uma essência subjacente nos permite supor ou inferir que, quando vemos alguém que compartilha uma única característica, eles também devem compartilhar toda a minha essência profundamente enraizada.”, explica Chu, que divide a autoria do artigo com Brian S. Lowery, da Stanford Graduate School of Business. No entanto, o cientista alerta que a pressa em abraçar uma semelhança indefinível e fundamental com alguém por causa de um ou dois interesses em comum pode ser baseada em um pensamento falho - e restringir com quem encontramos uma conexão.
“Somos todos tão complexos”, diz Chu. “Mas só temos uma visão completa de nossos próprios pensamentos e sentimentos, e as mentes dos outros costumam ser um mistério para nós. O que este trabalho sugere é que muitas vezes preenchemos os espaços em branco da mente dos outros com nosso próprio senso de identidade e isso às vezes pode nos levar a algumas suposições injustificadas.”
Como foi feito o estudo
Para examinar por que somos atraídos por algumas pessoas e não por outras, Chu montou quatro estudos, cada um projetado para revelar diferentes aspectos de como fazemos amigos - ou inimigos.
No primeiro, os participantes foram informados sobre uma pessoa fictícia, Jamie, que poderia ter atitudes complementares ou contraditórias em relação a eles. Em seguida, eles são questionados sobre suas opiniões a respeito de um de cinco tópicos polêmicos: aborto, pena de morte, posse de armas, testes em animais e suicídio assistido por médicos. Por fim, o cientista questiona se o entrevistado sente que Jamie concorda ou discorda dele nesta questão-alvo.
Os resultados mostraram que quanto mais um participante acreditava que sua visão de mundo era moldada por um núcleo essencial rígido, mais essa pessoa se sentiam conectados ao Jamie que compartilhava suas opiniões sobre um assunto e não ao que contrariava.
Em um segundo estudo, foi analisado se esse efeito persistia quando os tópicos-alvo eram menos substantivos. Em vez de investigar se as pessoas concordavam com Jamie em algo tão divisivo quanto o aborto, Chu pediu aos participantes que estimassem o número de pontos azuis em uma página e depois os colocou em um grupo como super ou subestimadores. No mesmo grupo estaria o Jamie fictício. E assim, foi possível perceber que mesmo com essa conexão tênue, as descobertas se mantiveram: quanto mais alguém acreditava em um núcleo essencial, mais próximo se sentia de Jamie como um colega super ou subestimador.
“Descobri que tanto com dimensões bastante significativas de semelhança quanto com semelhanças arbitrárias e mínimas, as pessoas que são mais altas em sua crença de que elas têm uma essência são mais propensas a serem atraídas por esses outros semelhantes em oposição a outros diferentes”, explica o professor.
Em dois estudos complementares, Chu começou a interromper esse processo de atração, eliminando a influência do raciocínio autoessencialista. Em um experimento, ele rotulou atributos (como gostar de uma certa pintura) como essenciais ou não essenciais e em outro ele disse aos participantes que usar sua essência para julgar outra pessoa poderia levar a uma avaliação imprecisa dos outros. “Isso quebra esse processo de raciocínio essencialista, corta a capacidade das pessoas de assumir que o que estão vendo reflete uma semelhança mais profunda”, explica o pesquisador.
Efeito prático
Na prática, o estudo comprova que se, por um lado, é uma estratégia psicológica útil buscar a nossa comunidade, afinal isso permite que as pessoas vejam mais de si mesmas em novas pessoas e estranhos, por outro, a predominância do raciocínio essencialista também exclui pessoas, estabelece divisões e limites - às vezes com fundamentos muito frágeis. O que pode ter consequência não só nas escolhas que fazemos para estabelecer nossas relações mais íntimas de amizades e romances, mas também nas decisões que tomamos como negociadores e cidadãos.
"O raciocínio autoessencialista pode até influenciar a distribuição de recursos da sociedade", diz Chu. Para ele, quem consideramos digno de apoio, quem recebe fundos e quem não recebe, pode ser impulsionado por “essa crença de que os resultados das pessoas são causados por algo profundo dentro delas”. Por isso, a pesquisa alerta: estamos constantemente tentando descobrir quem é como a gente e quem não é como gente, mas essa nem sempre é a maneira mais produtiva de formar impressões sobre outras pessoas. Afinal, ss pessoas são muito mais complexas do que pensamos.
Fonte:https://revistagalileu.globo.com/sociedade/comportamento/noticia/2023/08/por-que-sentimos-atracao-por-determinadas-pessoas-e-por-outras-nao.ghtml
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