DOSSIÊ DO ORGASMO: CAMINHOS PARA CHEGAR AO AUGE DO PRAZER - EJACULAÇÃO FEMININA EXISTE?

 

Dia do Orgasmo (Foto: Reprodução/Giphy)

O orgasmo pode gerar reações (voluntárias e involuntárias) diferentes em cada pessoa  (Foto: Reprodução/Giphy)

  • BEATRIZ CRISTINA
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La petite mort (ou a pequena morte, em tradução literal) é a forma que os franceses usam para descrever o orgasmo. Essa foi a definição que encontraram para traduzir a sensação e que tem a ver com o relaxamento total, o descontrole do corpo e a breve perda de consciência que acompanha os segundos seguintes ao ápice do prazer sexual


Por mais que seja uma resposta fisiológica do corpo, muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre o tema. Por vezes, esses questionamentos podem até impedir que consigam acessar o próprio prazer. Para esclarecer desde as perguntas mais básicas até as que chegam aos consultórios de terapeutas e sexólogos, ouvimos especialistas que trabalham para dismistificar o tabu e deixar o tema mais acessível e menos complicado

O que é o orgasmo?

O orgasmo é um prazer muito característico, diferente de outros estímulos sexuais. Ele acontece quando o ponto máximo da excitação é atingido, relaxando os músculos do corpo, com duração média entre cinco a 15 segundos.

“É uma descarga de energia no corpo. Mas, para acontecer, o orgasmo depende de uma sequência de fatores. É preciso que seja construída uma tensão de carga, para, então descarregá-la”, explica Mariana Stock, fundadora do Prazerela, psicanalista e terapeuta orgástica.

Quais sensações o orgasmo provoca?

Na prática, as sensações variam de pessoa para pessoa, por isso não podem ser generalizadas. “É uma situação bastante subjetiva, mas existem algumas respostas do corpo que são mais comuns”, diz Mariana.

“Normalmente, ele é acompanhado do aumento dos batimentos cardíacos e da pressão arterial, tremores, algumas contrações involuntárias de todo o assoalho pélvico e contrações voluntárias de outras partes do corpo, como pés e mãos”, detalha Ana Canosa, sexóloga e psicóloga. Reações como riso, choro e vocalizações como gritos e gemidos também são recorrentes.

Além do relaxamento, o orgasmo promove a liberação de substâncias como ocitocina e dopamina. “A ocitocina dá uma sensação de bem-estar e aconchego, já a dopamina garante foco e motivação, além de prazer e gratificação”, completa.

Como saber se eu tive um orgasmo?

A dúvida sobre já ter tido ou não um orgasmo é muito comum entre as pessoas que Ana atende. “Acredito que isso aconteça, porque estamos falando de sexualidade feminina de maneira mais aberta e clara há pouquíssimo tempo. Então, muitas pessoas não conhecem de fato o seu corpo e não conseguem ter essa percepção sensorial”, opina Ana.

“Também existe a idealização de que o orgasmo sempre é algo arrebatador, muito forte, mas não funciona assim. É importante lembrar que existem variações de intensidade para essa descarga”, esclarece.

Distração cognitiva forte, preocupação com outras situações e falta de foco no momento podem levar alguém a deixar de perceber o próprio corpo, aponta a sexóloga. “Normalmente quando um orgasmo acontece, a gente sabe. Mas pode acontecer de algumas pessoas não acharem que aquilo era o ápice da excitação sexual”, pontua. 

É possível nunca ter tido um orgasmo?

Sim, é possível. A anorgasmia é um transtorno que, literalmente, significa falta de orgasmo. Essa condição pode ser primária, quando a mulher nunca chegou ao clímax, ou secundária, se ela tinha orgasmos, mas a partir de um determinado momento da vida, passou a não ter mais.

“Em nível mundial, sabe-se hoje que 25% das mulheres sofre de anorgasmia e, na maioria dos casos, as causas são psicoemocionais ou comportamentais. São poucas as pessoas que possuem condições fisiológicas que as impedem de gozar”, diz Ana.

É possível também que a anorgasmia seja situacional. Isso quer dizer que em algumas situações a pessoa tem o orgasmo e em outras não. “É muito comum receber pacientes dizendo que têm orgasmo na masturbação e não têm durante a relação sexual”, conta. “Isso diz muito sobre a autonomia feminina para a comunicação do prazer, sobre a dificuldade que ainda existe de falar para o parceiro quais são os estímulos que excitam mais e estabelecer uma troca satisfatória.”

Mariana conta que essa situação é bastante comum em relações heterossexuais, quando há uma referência falocêntrica de que o prazer precisa de penetração para ser alcançado. “É preciso abstrair essa mentalidade. Quando a gente fala da sensação do orgasmo, existem várias maneiras de chegar até ela, para além do sexo prenetativo. O corpo possui diversos pontos de prazer que fazem parte da excitação, desde o beijo na boca até o estímulo clitoriano”, informa Mariana.

Apenas uma minoria das mulheres conseguem gozar apenas com penetração vaginal, reforça. “É algo que vai contra a anatomia feminina, já que a vagina é uma região pouco inervada, especialmente por se tratar do canal de parto”, destaca. “Por mais que algumas sintam o orgasmo com o estímulo vaginal, o nosso maior centro de nervos e sensibilidade é o clitóris.”

Estar confortável, conhecer o próprio corpo e entender do que você precisa para disparar o orgasmo é essencial para alcançar o prazer de forma positiva, acredita Ana. A anorgasmia, inclusive, pode ser tratada com exercícios de autoconhecimento.

É verdade que mulheres demoram mais tempo para gozar?

De acordo com as especialistas, é verdade. Em média, as mulheres demoram 13 minutos para gozar. Em relações heterossexuais, pode-se afirmar que a mulher demora o dobro do tempo que um homem leva para chegar ao orgasmo, diz Ana.

Contudo, nas especificidades, alguns fatores podem alterar esse tempo. “Às vezes, a pessoa está extremamente excitada o dia inteiro e com uma breve estimulação já tem o orgasmo”, esclarece.

A paixão também é um critério importante para se levar em conta. “Se você está completamente apaixonada por alguém, o momento da transa vai ser muito mais excitante. Picos hormonais interferem para chegar ao auge do prazer mais rápido”, continua. Estímulos visuais e sensoriais mais intensos, combinados, podem acelerar o processo da mesma forma.

O ponto G existe?

Não há consenso sobre isso entre a comunidade científica ainda. “Anatomicamente, quando se fez pesquisas não foi encontrado nenhum ponto específico diferente no canal vaginal”, explica a sexóloga. “Mas existem muitas mulheres que vão relatar que quando colocam o dedo no primeiro terço do canal vaginal, na parte anterior, sentem essa região mais sensível.”

Alguns especialistas acreditam que essa área pode ter alguma ligação com o clitóris e, por isso, é um ponto de prazer maior. “O clitóris é uma estrutura que fica montada em cima da uretra e da vagina. Então, no momento em que se faz o movimento de ‘vem cá’ com os dedos, pode haver o estímulo dos nervos da região clitoriana”, esclarece Mariana.

E a ejaculação feminina?

Também não existe um consenso sobre esse fenômeno. O que se sabe é que algumas pessoas podem produzir e expelir um fluido pelo canal vaginal, com características semelhantes ao líquido prostático, quando ficam muito excitadas.

“As glândulas parauretrais (também chamadas de glândulas Skene), que são responsáveis pela secreção, são contraídas junto aos músculos do assoalho pélvico durante o orgasmo. Com isso, elas podem liberar o líquido pela uretra, processo que é chamado de ejaculação feminina por alguns estudiosos”, diz Mariana.

Porém, é importante destacar que a ejaculação feminina não é um tipo de orgasmo e também não acontece com todo mundo. “Algumas mulheres não liberam esse líquido, mesmo durante um orgasmo intenso. Também é uma situação normal”, reforça Ana.

Fonte:https://revistamarieclaire.globo.com/Sexo/noticia/2022/07/dossie-do-orgasmo-caminhos-para-chegar-ao-auge-do-prazer.html

Conhecer o próprio corpo e saber seus pontos de prazer é importante para atingir o orgasmo

Conhecer o próprio corpo e saber seus pontos de prazer é importante para atingir o orgasmo Pexels

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01/03/2023 12h31  Atualizado há 4 meses


Sempre me sinto em conflito quando alguém me pede para definir um orgasmo. Eu conheço de cor a definição médica : um pico transitório de prazer sexual intenso acompanhado de contrações rítmicas e involuntárias da musculatura do aparelho genital.

Mas, sinceramente, ela é muito simplista para resumir esse fenômeno tão intenso e almejado. Orgasmos são sempre uma experiência vivida de maneira muito única e peculiar por cada pessoa.

Eu já vi descrições como : “uma explosão de cores” , “estar em uma montanha-russa em alta velocidade”, “meu corpo derretendo lentamente”, entre outras.

Em resumo, o orgasmo é uma liberação súbita e involuntária de uma tensão sexual que vamos acumulando durante a excitação. Ou seja, os estímulos que recebemos fazem com que o prazer vá crescendo, crescendo e se acumulando até chegar a um pico máximo, quando uma onda de bem-estar se espalha pelo corpo. Isso pode acontecer em intensidades diferentes, dependendo de vários fatores, e pode ser um orgasmo curto e rápido, ou mais intenso e prolongado. Todos são válidos, o que importa é o resultado final ser prazeroso.

Como tudo o que diz respeito à sexualidade, o orgasmo também é um assunto tabu, sobre o qual pouco se fala, o que acaba deixando muitas mulheres na dúvida se chegaram lá, como fazer para chegar, além da perpetuação de muita desinformação e mitos sobre o tema. Hoje, vamos quebrar alguns deles e desmitificar de vez, o tal do orgasmo!

Mito 1 - ORGASMO E PRAZER SÃO A MESMA COISA

O prazer é uma percepção pessoal de uma sensação agradável e positiva mediada por hormônios que atuam no cérebro promovendo bem-estar. É também algo subjetivo: o que pode ser prazeroso para você pode não ser para mim , assim como um estímulo pode ser prazeroso em uma situação e desconfortável em outra.

Já o orgasmo tem um conceito mais objetivo. Ele é uma reação fisiológica dos nossos corpos. Mesmo que a percepção dele seja diferente para cada pessoa, o que acontece no corpo não muda.

É muito comum confundir os dois, no entanto, é importante distingui-los por dois motivos:

1. É possível ter prazer sem ter orgasmos: uma relação sexual pode ser extremamente prazeirosa e desencadear muitas sensações agradáveis e de realização, mesmo quando não termina em orgasmo.

2. É possível ter orgasmos sem prazer: existem orgasmos em situações não sexuais —como durante o sono ou ao realizar atividades físicas— e, em alguns casos, até mesmo em situações desagradáveis, como nas ocorrências de abuso sexual. Isso acontece porque, às vezes, apenas a estimulação física é suficiente para provocar uma resposta fisiológica involuntária de orgasmo, mesmo em situações em que não há excitação nem desejo físico ou psicológico.

Se você já passou por algo parecido, uma situação de orgasmo indesejado, não se culpe! Nosso corpo recebe estímulos voluntários e involuntários de muitos tipos, e, por vezes, há reações sobre as quais não temos controle. Isso não significa que você gostou da situação.

Mito 2- TODA RELAÇÃO TEM QUE SER ORGÁSTICA

É claro que orgasmo é bom, mas ele não precisa ser o único objetivo de uma relação sexual. Muitas vezes, o sexo pode ser extremamente prazeroso sem necessariamente acabar em orgasmo. Intimidade, conexão com a parceira ou o parceiro —ou com mais de uma ou um— e troca de afetos podem ser outros ganhos muito positivos de uma relação sexual.

Tudo vai depender do que você está buscando naquele momento. Orgasmos não deveriam ser raridade, mas também não precisamos estipular uma obrigatoriedade de acontecer todas as vezes. Até porque uma cobrança assim pode te afastar mais do que te aproximar das chances de gozar.

Mito 3 - EXISTE UM ORGASMO VAGINAL

Outro grande mito acerca de diferentes orgasmos são os chamados “orgasmo clitoriano” e “orgasmo vaginal”. Apesar de bem difundida, essa história não passa de uma invenção masculina moderna que nasceu em 1905 com Sigmund Freud, o famoso pai da psicanálise.

Para Freud, o orgasmo clitoriano era o orgasmo da mulher jovem e imatura. O psicanalista defendia que, assim que se tornasse moça e conhecesse o sexo masculino, o interesse pelo clitóris seria substituído pelo desejo ardente de ser penetrada. De acordo com ele, mulheres de verdade tinham orgasmos vaginais, e não clitorianos. E mais: para ele, mulheres que sentissem prazer ao tocar o clitóris ou não atingissem o orgasmo na penetração, deveriam procurar um terapeuta com urgência porque certamente sofriam de uma condição chamada frigidez.

Freud foi (e ainda é) um homem influente, e sua teoria ganhou muitos adeptos, o que diluiu a importância do clitóris, diminuindo, inclusive, estudos sobre essa preciosa região anatômica e fazendo com que ela fosse esquecida por décadas.

Não há diferença entre 'orgasmo clitoriano' e 'orgasmo vaginal', como acreditava Freud — Foto: Pexels

Não há diferença entre 'orgasmo clitoriano' e 'orgasmo vaginal', como acreditava Freud — Foto: Pexels


Hoje, sabemos que não há diferença entre “orgasmo clitoriano” e “orgasmo vaginal”. Descobertas recentes mostram que o clitóris é um órgão grande, muito maior do que o botãozinho visível do lado externo, e que se distribui internamente, espalhando-se pela vulva, ao redor da uretra e da entrada da vagina. Tais partes internas também podem ser estimuladas indiretamente em pontos da vulva e da vagina.

Existem nervos que conectam o clitóris ao cérebro e que atuam como os principais reguladores do orgasmo feminino. Ao estimular o clitóris de maneira direta ou indireta, esses impulsos nervosos são levados ao cérebro por diferentes vias de acesso. As sensações podem ser experimentadas de maneiras diferentes, justamente por existirem muitos trajetos para os impulsos nervosos do prazer. Ou seja: os chamados orgasmos vaginais são, na verdade, orgasmos por estímulos indiretos do clitóris.

E isso nos leva ao nosso próximo mito, talvez um dos que mais confundem as mulheres.

Mito 4 - PENETRAÇÃO É A CHAVE PARA O ORGASMO

Ainda hoje, séculos depois, Freud nos deixou uma herança: a ideia da “hierarquia de orgasmos”, em que aquele provocado pela penetração vaginal seria o mais especial e importante. É muito comum o relato de mulheres que pensam que têm algo de errado consigo por não conseguirem gozar ao ser penetradas e se sentem mal por precisar da ajuda de dedos ou da língua no processo.

Na realidade, para as mulheres, a penetração é uma maneira bastante incomum de atingir o orgasmo. Estima-se que menos de um terço das mulheres cis goze regularmente com penetração. O canal vaginal tem poucas terminações nervosas (com exceção do comecinho), e isso significa que é uma região pouco sensível. Por isso conseguimos usar absorventes internos e coletores, por exemplo.

Sendo assim, alguns estudiosos acreditam que —mesmo para mulheres que gozam na penetração— o clitóris é o grande protagonista. Nesse caso, o tamanho e a localização fariam diferença. Um clitóris maior e que se aproxime mais da entrada da vagina, por exemplo, facilitaria o orgasmo, porque seria estimulado em suas partes externas e internas pela penetração.

É uma questão básica de anatomia. Encarar o orgasmo com penetração como algo superior não faz o menor sentido e não passa de uma herança de informações erradas baseadas em conceitos machistas, já que os homens dominaram, por muito tempo, as pesquisas sobre a sexualidade feminina e os discursos públicos sobre sexo.

Em vez de continuarmos propagando essa ideia errada, que tal ampliarmos o repertório do sexo incluindo mais práticas além da penetração? Ou, ainda, que tal investirmos no estímulo direto ou indireto do clitóris durante a penetração para aumentar nossas chances de prazer?

Mito 5 - EM UMA RELAÇÃO, AS PESSOAS DEVEM TER ORGASMOS AO MESMO TEMPO

O orgasmo simultâneo é um grande mito reforçado com frequência em filmes e novelas, naquelas cenas em que duas pessoas transando acabam chegando ao ápice juntas em poucos minutos.

Na vida real, sabemos que isso raramente acontece. Esse mito provavelmente se originou do fato de que, geralmente, o orgasmo masculino é considerado o marcador final das transas, e quase nunca vemos retratado um sexo que segue acontecendo após a ejaculação do pênis.

Essa foi a mensagem internalizada e, como as mulheres ainda estão aprendendo sobre seu prazer —e sobre como ele funciona para além da penetração—, criou-se a ideia da sincronicidade e de que haveria algo de muito errado caso ela não acontecesse.

Mas devemos lembrar que cada orgasmo é um processo muito único e particular, e dificilmente será possível sincronizar tempo e estímulos para que ambos gozem juntos. Algumas pessoas precisam de mais tempo do que outras para se excitar e chegar ao clímax. Um estímulo que pode estar funcionando muito bem para um, pode não estar causando o mesmo efeito no outro, e a preocupação com o prazer do outro pode ser um fator de distração na hora de gozar.


 Portanto, embora não seja impossível, o orgasmo simultâneo não é tão simples e natural quanto os filmes fazem parecer. Forçar essa ideia acaba gerando uma pressão desnecessária que, às vezes, incentiva as mulheres a fingirem orgasmos. O ideal é respeitar as individualidades, o tempo e as preferências de cada pessoa para que todos os envolvidos saiam satisfeitos da relação.

Mito 6 - É NORMAL FINGIR ORGASMO

Não é normal, mas é bastante comum, e as razões para fingir são variados. O cansaço e o desejo de que a relação acabe logo estão no topo dos motivos, mas também há quem finja somente para aumentar a excitação do(a) parceiro(a). Tem, ainda, quem queira agradar ou não ferir a autoestima da outra pessoa e até quem sinta medo de parecer “ruim de cama” ou carregue a insegurança de que não vai chegar lá.

Acontece que, quando fingimos, estamos tirando nossa chance de realmente chegar ao orgasmo. Estamos deixando o outro acreditar que aquilo é o que nos agrada, diminuindo a chance de acertar nos estímulos —além de prejudicando nossa saúde sexual, pois o sexo pode acabar se tornando uma obrigação e, no futuro, isso pode impactar até o desejo.

Resumindo, fingir mostra que, em geral, estamos mais preocupadas com a nossa performance ou com agradar o outro do que com o nosso prazer.

Mito 7 - MULHERES NÃO TÊM EJACULAÇÃO

A ejaculação feminina, conhecida também como squirting, não é nenhuma novidade. Na verdade, há mais de 2.000 anos já existiam relatos sobre esse fenômeno.

Algumas mulheres liberam um líquido, sim, quando estimuladas. A quantidade pode variar, mas cuidado com as versões distorcidas encontradas nos filmes pornográficos, em que o squirting é representado por mulheres que jorram verdadeiros jatos de líquido da sua vagina. Isso é, na verdade, um truque em que um líquido é introduzido nas partes íntimas para simular um jato superintenso. É nada mais do que uma performance montada para impressionar o espectador. Em geral, a quantidade é menor e pode acontecer em forma de “esguicho”.


A ciência ainda precisa de mais explicações sobre esse fenômeno, como por exemplo, o que compõe o líquido. O que sabemos é que ele é liberado por um par de glândulas que fica localizado na vulva, bem próximo à uretra, chamado glândulas de Skene. Sabemos que ejaculação não é xixi, uma preocupação muito frequente das mulheres.

Também não é a mesma coisa que lubrificação. São fluidos diferentes, produzidos em locais diferentes e com funções distintas. A lubrificação é produzida nas glândulas de Bartholin, localizadas próximas à entrada da vagina, enquanto a ejaculação feminina é produzida nas glândulas de Skene. O líquido da lubrificação costuma ser mais espesso e ter cheiro mais característico de genital, enquanto o da ejaculação é fluido, transparente e sem cheiro. A lubrificação é produzida durante a excitação e tem como função facilitar as práticas sexuais, enquanto a ejaculação, aparentemente, costuma ocorrer quando há necessidade de relaxamento e resfriamento do corpo.

Não se sabe se todos os corpos com vulva são capazes de ejacular. Conforme alguns estudos, isso dependeria da presença e do tamanho das glândulas.

O importante é saber que ejacular é normal, e não ejacular também é normal. Então, se a ejaculação vier, não há motivo para constrangimento e, se não acontecer, isso não faz de você alguém menos potente sexualmente. Afinal, é possível ter orgasmos inesquecíveis e não ejacular.


E, para finalizar nossa coluna desta semana, vale relembrar que um dos maiores mitos acerca do orgasmo é que ele é responsabilidade do outro. Terceirizar nosso prazer é o caminho mais curto para a frustração.

É claro que é essencial que as pessoas com quem nos envolvemos estejam dispostas a nos estimular e se preocupem com o nosso prazer. Porém, antes de tudo, precisamos ser especialistas em nós mesmas. Conhecer nosso corpo, saber o que nos dá prazer e saber comunicar isso na cama vai multiplicar (muito!) as chances de chegar lá! Sozinha e/ou acompanhada.


Fonte:https://revistamarieclaire.globo.com/blogs/marcela-mc-gowan/noticia/2023/03/clitoris-penetracao-fingimento-e-ejaculacao-7-mitos-sobre-o-orgasmo.ghtml

 

Squirting - Sue Nhamandu  é professora  no curso siririca molhada (Foto: Coletivo Amapoa)

Sue Nhamandu é professora no curso siririca molhada (Foto: Coletivo Amapoa)

  • DOLORES OROSCO, EM COLABORAÇÃO PARA MARIE CLAIRE
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No meio de um amasso quente, enquanto o parceiro a masturbava, a empresária Gisele Freitas, 35 anos, expeliu uma incomum quantidade de líquido da vagina. “Morri de vergonha. Foi um jato tão forte que chegou a molhar a parede. Na hora achei que tivesse feito xixi. Talvez por estar tão excitada, não consegui segurar”, recorda. Essa transa molhada, que aconteceu dez anos atrás, marcou a vida sexual de Gisele. Sempre que se lembrava do episódio, sentia um misto de tesão e constrangimento. Só bem recentemente, em uma conversa com uma amiga, descobriu que não foi xixi o que saiu do meio de suas pernas, mas ejaculação. “Ela me contou que fez um curso onde aprendeu técnicas para ejacular e me descreveu toda a sensação. Era exatamente o que havia acontecido comigo no passado”, diz. “Fui atrás da tal aula na mesma hora.”

Squirting - Sue Nhamandu  é professora  no curso siririca molhada (Foto: Coletivo Amapoa)

Sue Nhamandu é professora no curso siririca molhada (Foto: Coletivo Amapoa)

Era a oficina imersiva de sexualidade I Love My Pussy, criada há um ano pela filósofa e terapeuta tântrica Carol Teixeira. Com abordagem feminista e discurso de que “o empoderamento precisa ir além e incluir nossas vaginas”, a aula de Carol – e de várias outras professoras na mesma linha – promete ensinar como chegar às glândulas de skene, a “próstata feminina”. Localizada na entrada do canal vaginal, seria ela a responsável pela ejaculação. Isso se acariciada do jeitinho certo, claro. Há uma espécie de mapa da mina para tentar tamanha façanha – ilustrado abaixo.

Squirting - “Não podemos dizer que as mulheres que ejaculam têm  Orgasmos mais  intensos”  – Carolina Ambrogini, ginecologista (Foto: Coletivo Amapoa)

“Não podemos dizer que as mulheres que ejaculam têm Orgasmos mais intensos” – Carolina Ambrogini, ginecologista (Foto: Coletivo Amapoa)

Psicanalistas com formação em Tantra (a filosofia indiana que inclui olhar para a sexualidade em busca de uma integração de corpo e mente) apresentam técnicas para chegar lá. Durante imersões, que duram um dia ou até um final de semana inteiro, as demonstrações são in loco, no corpo de uma aluna voluntária ou da própria professora. É o caso de Sue Nhamandu, psicanalista e instrutora do workshop Siririca Molhada, criado há um ano. “Com uma luva cirúrgica, as alunas colocam o dedo dentro da minha vagina e vou indicando onde está a próstata. Algumas também pedem que eu as ajude a encontrar as delas”, explica.

Antes de pôr a mão na massa, as frequentadoras dessas oficinas passam por um intensivo teórico, cuja finalidade é criar um pacto. Fica combinado que todas ali estarão 100% focadas no próprio prazer – e não em servir a ninguém, mesmo que essa seja a intenção que as levou ao curso. “Infelizmente, o grande interesse das mulheres que chegam a mim querendo ejacular é fazer malabarismo erótico para o parceiro”, conta a psicanalista Mariana Stock, idealizadora do curso Empoderamento do Prazer para Mulheres, criado este ano. “É meio parecido com a busca pelo pompoarismo, que vende a ideia de que a vagina fica apertadinha como a de uma virgem para enlouquecer o homem. Com a ejaculação elas também pretendem impressionar.” 

Nesse objetivo de “agradar o parceiro”, a pornografia dá sua contribuição. Cenas de atrizes tendo gozos ejaculatórios são populares entre a audiência masculina. Na plataforma on-line Pornhub, o “YouTube do pornô”, o termo “squirt” (esguicho) está entre os mais buscados, em filmes que chegam a ter mais de 10 milhões de visualizações. É por isso que nessa etapa inicial, a de desconstrução de conceitos machistas, as alunas entram em contato – e muitas pela primeira vez – com informações sobre clitóris (sabia que ele tem mais de 8 mil terminações nervosas que podem nos proporcionar prazer, enquanto a glande do pênis tem só 4 mil?), além de serem incentivadas a falar abertamente sobre suas vulnerabilidades.
“Desde criança ouvimos ordens do tipo: ‘Feche as pernas, menina!’”, diz Carol Teixeira, do I Love My Pussy. “Não adianta ensinar técnicas de ejaculação sem fortalecer a base emocional dessas mulheres. É preciso que antes de tudo se autorizem a sentir prazer de verdade. Algo que lhes foi negado desde que o mundo é mundo.”

Por mais de uma década, a doula Jessica Scipione, 29, teve a vida sexual abalada por uma violência. Aos 14, quando sonhava ser modelo, um fotógrafo a convenceu a posar nua. “Estávamos sozinhos no estúdio quando ele começou a esfregar o pênis em mim. Fugi chorando”, diz. “Dois anos depois, comecei a namorar um cara. Mesmo apaixonada, transar era algo desagradável. Ficamos juntos por nove anos e ele nunca entendeu minha frigidez.” Apesar da ajuda da psicanálise, que frequentou por dois anos, Jéssica seguia traumatizada. Só encontrou “a cura” ao ejacular pela primeira vez em uma sessão individual de massagem orgástica com Mariana Stock, em agosto de 2017. “Quando comecei a gozar, veio uma angústia enorme. Mas me entreguei. Esqueci que era uma mulher ali me tocando com um vibrador e encharquei o edredom.” Desde então, Jessica está mais livre no sexo. “Sinto que passei por uma limpeza espiritual fazendo a imersão.”

Squirting - “Não adianta ensinar  técnicas sem fortalecer o emocional das mulheres” - Carol Teixeira, filósofa e terapeuta tântrica (Foto: Coletivo Amapoa)

“Não adianta ensinar técnicas sem fortalecer o emocional das mulheres” - Carol Teixeira, filósofa e terapeuta tântrica (Foto: Coletivo Amapoa)

Apesar da forma quase religiosa com que algumas de suas alunas descrevem esse ápice de prazer e de a massagem ser inspirada no transcendentalismo do Tantra, Mariana, a condutora do “milagre”, prefere deixar tudo no plano terreno. “O que as mulheres conseguem acessar é biológico. Quando associamos o orgasmo feminino a algo divino, mais uma vez delegamos uma capacidade que é do nosso corpo a outro dono”, esclarece a psicanalista.
Biológico? Então existe comprovação científica de as mulheres podem ejacular? “Não é bem assim. Não há consenso sobre esse fenômeno”, responde Carolina Ambrogini, ginecologista e coordenadora do projeto Afrodite, do Ambulatório de Sexualidade da UNIFESP. “O que se sabe é que algumas de nós têm maior propensão a ejacular.” E como se explica a produção do tal fluido e mais, o seu caminho fisiológico no corpo feminino? “Imagine que as glândulas de skene, duas bolinhas responsáveis pela produção da secreção, são contraídas pelos músculos do orgasmo. Então, os ductos das glândulas transportam essa secreção para a uretra, que libera a ejaculação.”

Preocupada com o surgimento de mais uma opressão feminina, “a de que não basta gozar, agora tenho que ejacular”, Carolina chama atenção para um erro comum quando pensamos em mulheres ejaculando: “Não é ‘um tipo de orgasmo’. Também não podemos dizer que as mulheres que ejaculam têm orgasmos mais intensos – algumas podem ter um orgasmo inesquecível e não ejacular”.

Coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), a psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo afirma que “ejaculação feminina” é um tema controverso entre a comunidade médica, que se divide em acreditar no fenômeno e invalidá-lo completamente. “Precisamos estudar mais a anatomia do prazer feminino para termos uma verdade universal sobre mulheres ejaculando. Enquanto isso não acontece, contamos com a experiência dos consultórios, que mostra, sim, pacientes chegando lá.”

Uma das poucas informações com respaldo científico que se tem sobre o tema é a de que há enzima PDE5 – a mesma associada à ejaculação masculina – no genital feminino. Segundo um estudo feito na Itália, na Universidade de Aquila, essa substância está concentrada nas glândulas de skene, situadas na entrada do canal vaginal, bem próximo à uretra. Desde a descoberta, de 2002, esse par de glândulas passou a ser chamado de “próstata feminina” e seria o agente ligado à nossa capacidade de ejacular, quando estimulado. O que não muda o fato do squirt ser visto pela comunidade médica como um fenômeno raro.

Caso da fisioterapeuta pélvica Monica Lopes, membro da Associação Brasileira de Sexualidade Humana. Para ela, é mais comum que o excesso de líquido expelido pela vagina durante um orgasmo esteja relacionado a um caso de bexiga hiperativa ou a uma incontinência urinária coital. Monica também critica a forma “nociva” com que a pornografia retrata o squirt. “Quando há ejaculação o líquido escorre da vagina. Não é um jorro com toda aquela intensidade”, diz. “Temos caminhos para gozar, e ejacular é apenas um. Funcionamos diferentemente dos homens, e essa ideia de querer ejacular como eles pode se tornar mais um peso na vida sexual da mulher, que muitas vezes não consegue nem ter um orgasmo.”

Desde que começou a tomar um antidepressivo, a professora Bruna Romero, 30, tem sofrido para gozar. “Com o remédio, só fico excitada no meu período fértil.” Bruna ficou sabendo do workshop Siririca Molhada pelo Facebook e se interessou. “Minha neura era ter de ficar pelada entre desconhecidas.” Nua ela não ficou. Mas participou de atividades conduzidas por Sue. Na “carimbo-vulva”, as alunas passam tinta de beterraba (você sabe onde) para depois sentarem em uma folha de sulfite. O objetivo é imprimir o mapa do próprio genital no papel. Em “meditaçõesmasturbativas”, mulheres se masturbam após escreverem e lerem em voz alta o último sonho erótico que tiveram. Bruna ainda não conseguiu ejacular, mas viu uma colega ao lado chegar lá no curso. Agora, tem tentado obter êxito na “siririca molhada” sozinha.

Fonte:https://revistamarieclaire.globo.com/Amor-e-Sexo/noticia/2018/10/ejaculacao-feminina-existe-significa-orgasmos-intensos-toda-mulher-pode.html

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