Dizer não para o sexo é um novo tipo de revolução?
Ter a coragem de negar uma transa – ou falar sim, quando tiver vontade – provoca uma verdadeira transformação na vida de mulheres maduras
Em uma entrevista, Jane Fonda foi questionada se “ainda estava fazendo sexo” quando estava com 82 anos (hoje ela está com 84). Ela riu e respondeu: "Não, não, zero. Não tenho tempo. Estou velha e já fiz muito sexo. Eu não preciso disso agora porque estou muito ocupada. Não tenho mais interesse. Tenho uma vida bem completa, com filhos, netos e amigos. Não quero mais saber de romances. Não tenho tempo para isso."
A atriz brincou que havia um desencontro de desejos em seu último relacionamento amoroso: enquanto o namorado tomava Viagra, ela preferia um remédio para dormir. Os dois se separaram em 2017. Jane usou o mesmo argumento de Rita Lee que, quando estava com 72 anos, revelou que se aposentou do sexo. Ela disse que já havia feito muito sexo no passado e que hoje prefere investir seu tempo, foco e energia em outros prazeres e propósitos mais significativos.
Em uma entrevista intitulada “Velho não quer trepar e usar drogas, quer ser dono de casa”, Rita disse que descobriu novos prazeres na velhice. Ela contou que “trepou a vida inteira” e que agora tem vontade de ler mais, aprender coisas novas, pintar. Passou a gostar de lavar louça, arrumar a cama e outras tarefas “fantásticas”. “E hoje estou aqui, velha e dona de casa”, já que “fazer sexo e usar drogas” não lhe interessam mais.
E a roqueira mais famosa do Brasil, que revolucionou comportamentos no século passado, não é a única que se aposentou do sexo. Pesquisas recentes nos Estados Unidos mostraram que grande parte dos casais tem uma única relação por mês e que cerca de 20% não fazem mais sexo. Como é provável que muitos tenham vergonha de confessar, o número pode ser ainda maior.
Como mostro no livro A Invenção De Uma Bela Velhice, muitas mulheres – e também homens – revelam que o sexo deixou de ser uma prioridade em suas vidas e que descobriram novos prazeres na velhice. Algumas dizem que nunca tiveram prazer no sexo, mas que faziam por obrigação ou para se sentirem atraentes e desejáveis. Outras afirmam que sempre gostaram, mas que, com o avanço da idade, descobriram outros propósitos mais prazerosos.
Elas querem ter mais tempo com as amigas, fazer cursos, ir ao cinema e teatro, viajar, passear, rir e conversar. Querem ter tempo para cuidar de si, pois passaram a vida inteira cuidando dos outros. Mais velhas, descobrem que o tempo é um bem precioso e buscam aproveitar a liberdade tardiamente conquistada. Há uma inversão interessante. Quando envelhecem, as mulheres ganham o mundo da liberdade e da amizade, que não puderam aproveitar quando mais jovens já que, além da profissão, se dedicaram ao cuidado da família e da casa.
Sei que posso provocar desconforto ao afirmar que boa parte das mulheres – e também dos homens – que tenho pesquisado não tem tanto prazer e interesse no sexo, como uma publicitária de 45 anos: “Tive filhos com quase 40 anos. Depois do segundo filho, minha vida sexual ficou devagar quase parando. São tantas as preocupações e obrigações, que não sobra mais tempo para o sexo. Prefiro mil vezes uma boa noite de sono do que uma noite de transas e loucuras. Pode ser até que a minha libido sexual volte quando as crianças estiverem maiores e eu estiver mais tranquila profissionalmente."
"Mas agora, sinceramente, o sexo não é a coisa mais importante da minha vida. Lógico que fico insegura, pois tenho medo do meu marido transar com outra mulher. Mas se isso acontecer é porque ele dá mais importância ao sexo do que a tudo mais que construímos juntos, nossa família, nosso amor, nosso companheirismo. Se for isso mesmo, não quero um homem assim na minha vida".
Voltando às entrevistas de Jane Fonda e Rita Lee, elas parecem dizer nas entrelinhas: “Eu me aposentei do sexo, mas não me aposentei do meu tesão e da minha alegria de viver. Descobri na maturidade que outros propósitos e interesses me dão mais prazer do que o sexo. Qual é o problema?” Elas não estão defendendo que a aposentadoria do sexo é a melhor escolha para todas as mulheres. Estão apenas dizendo que, para elas, outros desejos e atividades podem ser mais prazerosos. Para Jane e Rita, a aposentadoria do sexo não é uma falta, uma perda ou um fracasso feminino. É simplesmente uma escolha.
Por que tanta dificuldade para aceitar que “velho não quer trepar” – ou melhor – que “velha não quer trepar” ou que nem todas querem? Será que é porque não conseguimos enxergar outros aprendizados, descobertas e propósitos tão ou mais gratificantes do que o sexo? Será uma nova revolução das mulheres maduras ter a coragem de dizer não – e também dizer sim, se quiserem – para o sexo?
Fonte:https://vogue.globo.com/sua-idade/noticia/2022/05/dizer-nao-para-o-sexo-e-uma-nova-revolucao.html
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