Erika Hilton para Vogue Brasil (Foto: Cai Ramalho; Direção de arte: Felipa Damasco; Direção de conteúdo: Paula Merlo; Direção de moda: Pedro Sales; Direção criativa: Júlia Filgueiras; Coordenação: Renata Garcia e Lais Franklin; Reportagem: Claudia Lima; Produção executiva: Monica Borges)
Um guia do que não se deve falar para pessoas trans
Neste Dia da Visibilidade Trans, convidamos 14 personalidades para ensinarem como se comunicar de forma efetiva e empática
Vogue convidou 14 personalidades de destaque em diferentes segmentos para que dessem exemplos do que não se deve dizer a nenhuma pessoa trans. Cada uma delas listou ao menos um item que precisa sair do linguajar do brasileiro já. Confira no guia a seguir.
NÃO RELACIONE PESSOAS TRANSGÊNERO COM FEIÚRA
“‘Nossa, como você é linda, nem parece trans, parece mulher mesmo’. Essa frase soa como ofensiva, pois não tem nada de errado em ser trans. E ainda deixa claro que não nos considera mulheres, ou seja, parecemos, mas não somos. Nós, mulheres trans, somos pessoas como todas as outras. É importante explicar alguns conceitos básicos da questão de gênero. A identidade de gênero é como a pessoa se enxerga, seja como mulher, homem ou outra denominação dentro do espectro de gênero”, Valentina Sampaio, modelo.
"Esse tipo de comentário desvirtua completamente a minha identidade. Para as pessoas que dizem isso, ser trans é feio, e eu só seria bonita porque 'me pareço' com uma mulher cis. Acho isso extremamente deselegante e desnecessário. Se quer me elogiar, enxergue minha beleza do jeito que ela é: trans", Alice Marcone, atriz.
NÃO USE A PALAVRA TRAVESTI NO MASCULINO
“Nunca se deve questionar a identidade de gênero de ninguém, incluindo aquelas pessoas que se denominam e se apresentam como trans. Deve-se tomar cuidado ao empregar a palavra ‘Travesti’, que sempre deve ser antecedida do artigo ‘A’, pois toda travesti é uma mulher travesti, portanto é “a” travesti e jamais “o” travesti, sendo esse segundo um termo pejorativo. ‘Homem vestido de mulher’ também é completamente inaceitável, pois a identidade de uma pessoa não é uma fantasia que ela veste e desveste quando quer”, Élle de Bernardini, artista visual.
NÃO PERGUNTE SOBRE A GENITÁLIA
“Eu acho que o bom senso deve sempre prevalecer. E sempre penso que independente do que se diz, a intenção do que se fala é mais importante. Quando a intenção é ofender - você pode dizer ‘eu te amo” que será ofensivo. Ainda assim, acho indelicado e invasivo perguntas sobre a nossa genitália”, Raquel, cantora e compositora.
...OU COMO REALOCAM SEUS ÓRGÃOS SEXUAIS
A comunidade T não aguenta mais responder como fazemos para ‘esconder’. Além de ser indelicadeza, esta é uma curiosidade preconceituosa. A minha genitália não diz respeito a ninguém, não vai mudar a vida de ninguém, Renata Bastos, coordenadora de moda na agência Lema, atriz e performer.
NÃO DIGA A UMA MULHER TRANS QUE ELA PARECE MULHER (O MESMO VALE PARA HOMENS TRANS)
“‘Você parece mesmo uma mulher de verdade’. Mulheres trans são mulheres de verdade. A transgeneridade é um fator de diferença em meio a uma infinidade de intersecções do que é ser mulher. Há mulheres indígenas, negras, brancas, gordas, altas, baixas, cis e trans”, Assucena Assucena, cantora e compositora.
NÃO PERGUNTE QUAL ERA A ANTIGA IDENTIDADE
“Como era seu nome antigamente? Você é operada? Tem foto antiga? Posso ver? Nem parece que você é trans! Você mija em pé ou sentada?’ São pequenas palavras e perguntas que doem e que nos ferem. Eu queria que as pessoas entendessem e se colocassem no lugar de uma pessoa trans, por isso que gritamos e batemos no peito que SOMOS RESISTÊNCIA. E é muito fácil: eu te respeito, você me respeita e a gente se respeita. Quando você olha para o espelho, qual imagem você vê? Eu me vejo com uma mulher e quero ser tratada assim”, Pepita, cantora e apresentadora.
NÃO REDUZA TODA EXISTÊNCIA DE UMA PESSOA À SUA IDENTIDADE DE GÊNERO
"Bom, outra coisa bastante desconfortável é quando vocês resumem a nossa existência à nossa identidade de gênero, à trans. Sou sempre ajdetivada como 'a trans'. No meu caso por exemplo, ‘a cantora trans’ ‘a modelo trans’, ‘a trans ali’, ‘a trans aqui’. Gente, ser trans é apenas uma característica minha, é uma característica bastante pontual? Sim. Mas não é a única. Então, eu estou aqui para falar de assuntos importantes e vocês resumem minha existência apenas à minha identidade de gênero, isso é bastante pesado, não acham?", Urias, cantora.
JAMAIS UTILIZE O TERMO “TRAVECO”
“O sufixo ‘eco’ significa um diminutivo com valor pejorativo. É diferente de ‘travesti’, que não é ofensivo e não deve ser confundido com crossdressers e drag queens. Também não pergunte ‘o quê você tem entre as pernas?’. Isso é de foro íntimo e você não faria o mesmo questionamento a uma pessoa cis”, Lana Santucci, modelo.
NÃO PERGUNTE SE A PESSOA É TRANS
“Primeiro, não se deve perguntar se a pessoa é trans. As pessoas são pessoas e é assim que nós devemos enxergar a ‘todes’ sem diferenciar os gêneros. ‘Todes’ deveríamos ser tratados da mesma forma. Também não se deve perguntar se uma pessoa trans pretende passar por um tratamento hormonal. Uma coisa é querer entender sobre o assunto, outra é invadir lugares que são particularidades de cada indivíduo”, Majur, cantora.
NÃO USE O TERMO “MUDANÇA DE SEXO” (O CORRETO É ‘REDESIGNAÇÃO SEXUAL’)
“Quando estamos falando do mês da visibilidade trans, a gente não está falando só de mulheres trans e travestis, a gente também precisa lembrar dos homens trans, e não permitir que esse apagamento seja feito. E aí, para cunhar todas essas identidades, eu digo o termo que eu mesma cunhei que é transvestigenere. E o que não dizer para pessoas transvestigenere? Uma delas, são inúmeras coisas, é usar o termo ‘mudança de sexo’’. A palavra já está em desuso há muito tempo, pelo menos pela militância”, Erika Hilton, vereadora.
NÃO DIGA A UMA PESSOA TRANS QUE ELA NASCEU NO CORPO ERRADO
“O que nunca falar para nenhuma mulher, seja ela cis, trans, ou uma mulher que não se reconheça nesse binarismo de gênero, é: ‘você nasceu no corpo errado’. O corpo é um instrumento de gênero, a gente se percebe, se identifica, se reconhece, se movimenta, se transforma, todo mundo está em transição. Você passa de bebê para criança, de criança para adolescente, de adolescente para adulto, de adulto para pessoa idosa. A gente está em transição o tempo todo, não só as pessoas trans estão em transição. E a questão do corpo é uma coisa de como você se percebe. Quando abri um processo pedindo a mudança de nome e gênero, me recusando a passar pelo processo patologizador, eu disse isso: ‘esse é um corpo de uma mulher. Esse corpo contém um pênis, esse é o pênis de uma mulher”, Neon Cunha, ativista.
NÃO PRESSUPONHA A SEXUALIDADE DE UMA PESSOA TRANS
“Sexualidade e gênero são coisas diferentes, mas muitas pessoas insistem nisso. Existem pessoas trans gays, assim como existem mulheres e homens cisgêneros gays. Também não utilize ‘trans’ como adjetivo. ‘Essa é minha amiga trans’. Ninguém apresenta alguém falando de seu gênero”, Valentina Saluz (diretora executiva da Nexxt PR na Europa).
NÃO TENTE ADVINHAR COMO UMA PESSOA TRANS QUER SER TRATADA, PERGUNTE
"Não se deve falar para uma pessoa trans o que você não falaria pra qualquer pessoa, fico indignada de nós, pessoas transvestigenes, precisarmos ainda em 2021 sermos abordadas com assuntos que todos precisam saber. Não falta na internet a educação travesti! E, por favor, o mínimo que você precisa antes de perguntar pra qualquer pessoa é como ela prefere ser tratada, respeitando o pronome. Não pergunte sobre hormônios e cirurgias porque isso é MUITO inconveniente. Recomendo seguir essas travas que eu acompanho e, mesmo sendo trans, também aprendo muito. @gabialmeidam @transpreta @quesiasonzaa @bi_xarte @arethasadick @papodetrava @manauaraclandestina @venturaprofana @castielvitorino", Taka Kasahara, DJ, modelo, produtora e atriz.
Fonte:https://vogue.globo.com/atualidades/noticia/2021/01/um-guia-do-que-nao-se-deve-falar-para-pessoas-trans.html
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