Adeptos buscam lugares públicos e ermos para a prática do "dogging"
Conheça o 'dogging', prática de fazer sexo em público e até com desconhecidos
A depender da situação,
estranhos são convidados a assistir e até a participar da transa, mas lei prevê
até prisão para praticante
O risco de ser flagrado é um dos ingredientes, mas não é a única
característica do “dogging”, uma modalidade de sexo, geralmente heterossexual,
que tem endereço certo, acontecendo em lugares públicos e mais ou menos ermos,
como estacionamentos de parques e praças. Também parte da dinâmica, a prática
exige a presença de uma plateia um tanto quanto incerta, formada basicamente por
desconhecidos conectados a um mesmo desejo: o de compartilhar a própria
intimidade sexual. Hoje, é comum que o “dogging” esteja associado a mais uma
característica: tornou-se comum que os adeptos participem dos encontros em seus
carros, dentro dos quais transam com suas parcerias.
“Nesse tipo de situação, é incomum e indesejado que as pessoas
verbalizem o que querem. Por isso, elas recorrem a outra forma de linguagem,
emitindo sinais do que estão buscando naquele momento”, explica Victor Hugo de
Souza Barreto, doutor em antropologia pela Universidade Federal Fluminense
(UFF). “Se o casal deixa a porta aberta ou sai do veículo, está mais disposto a
interações com quem está assistindo. Se a porta está fechada, mas a luz interna
está acesa, é porque querem ser vistos. Com a janela aberta, sinal que toques
são aceitos. Já piscar o farol é um pedido ou uma autorização para que os
outros se aproximem”, complementa o pesquisador, que estuda práticas sexuais
consideradas de risco e seus desafios para as políticas públicas de saúde.
Barreto expõe que, aparentemente, o “dogging” surgiu na década
de 70, na Inglaterra. “É algo que surge muito inspirado no ‘cruising’, que é
uma pegação gay em espaços públicos. Então, quando os casais hétero começam a
aderir à prática, buscam separar uma coisa da outra, optando por outro nome”,
examina, lembrando que, conforme leituras sobre o tema, a origem da expressão
vem da ideia de passear com o cachorro, uma atividade que acabava em “pegação”.
Diferentemente do “cruising”, em que homens sozinhos buscam um
ou mais desconhecidos para o sexo, no “dogging” são casais que buscam explorar
sua sexualidade diante de estranhos ou permitindo que eles também participem do
deleite erótico – o que pode trazer uma maior sensação de segurança. Em comum,
em nenhuma dessas modalidades existe a formação de uma comunidade, pois não há
a intenção dos praticantes de estabelecer laços com os outros participantes.
“Mesmo que atualmente essas pessoas se organizem em grupos em redes sociais, em
fóruns na internet, esses canais servem apenas para repassar uma informação
para mais pessoas que têm o mesmo interesse que você, mas dificilmente essa
relação vai para além daquele momento”, observa o antropólogo.
A ausência de um sentido de comunidade é algo que distancia o
“dogging” e o “cruising” do swing (relacionamento sexual entre casais estáveis,
que praticam sexo grupal como uma atividade recreativa ou social) e do BDSM
(conjunto de práticas consensuais envolvendo bondage e disciplina, dominação e
submissão, sadomasoquismo). Barreto expõe que as duas últimas modalidades
sexuais tendem a se tornar um estilo de vida, sendo comum que os praticantes
criem vínculos uns com os outros. Já as duas primeiras práticas são ainda mais
demarcadas pela necessidade de anonimato por envolver o perigo, o risco e a
ilegalidade.
“O ‘dogging’ poderia ser criticado por um viés moralista, mas é
interessante ver que existem ali formas de cuidado, como: os adeptos não vão
para qualquer lugar, havendo locais específicos em cada cidade em que a prática
acontece, e, para ter mais segurança, há uma troca de informações entre eles.
Além disso, não é porque essas pessoas estão fazendo algo que é visto como
atípico que elas vão abrir mão da proteção à saúde”, pondera o pesquisador.
Transtorno. A
sexóloga Fabiana Barcelar situa que o “dogging” pode ser apenas uma aventura,
mas também pode ser um transtorno parafílico, como são chamados os distúrbios
psíquicos que se caracterizam pela preferência ou obsessão por práticas sexuais
socialmente não aceitas. “Para que seja assim considerado, o ato normalmente
não acontecerá com consentimento da pessoa envolvida, e existirá a presença de
angústia associada à prática, afetando e causando prejuízos à pessoa que tem
tais vontades e desejos”.
Benefícios. Citando
que o “dogging” está muito associado a comportamentos exibicionistas (desejo de
exibir a própria nudez ou as próprias genitálias) e/ou voyeuristas (quando o
prazer consiste em observar uma pessoa no ato de se despir, nua ou realizando
atos sexuais), a psicóloga e sexóloga Enylda Motta lembra que a prática pode
repercutir positivamente em um “possível aumento da cumplicidade do casal em
falar e executar fantasias sexuais”.
Crime. Segundo
o artigo 233 do Código Penal Brasileiro, praticar ato obsceno em local público,
aberto ou exposto ao público é crime. A pena é de três meses a um ano de
detenção ou o pagamento de uma multa. “É importante lembrar que, além de
estarem sujeitos aos efeitos da lei, esses praticantes ainda correm risco de
serem alvo de violência ou mesmo de assaltos”, comenta Victor Hugo Barreto.
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