TANTRA, CAMINHO DO ÊXTASE E DA VERDADE
Há duas maneiras de abordar a realidade: o caminho do intelecto e o caminho da inteligência. O caminho do intelecto é o de teorizar, de pensar a respeito, de especular. E todas as especulações não têm sentido, pois como você pode especular sobre o que você não sabe? Como você pode pensar sobre o que você não sabe? O desconhecido não pode ser pensado, não há como pensar sobre ele. Tudo o que você fica pensando é sobre o conhecido que fica se repetindo na sua mente. Sim, você pode criar novas combinações de velhos pensamentos, mas só por fazer novas combinações você não irá descobrir o real. Você estará se enganando. O intelecto é o grande enganador do mundo. Através dele o ser humano enganou a si mesmo desde o início dos tempos: através dele você muda a realidade e não a explica; através dele você cria uma tal poeira à sua volta que absolutamente não pode perceber a realidade e é afastado do existencial.
O Tantra é o caminho da inteligência, e não do intelecto. Ele não responde a nenhuma pergunta, absolutamente não explica coisa alguma; ele é não explicativo. Ele não é um questionamento, mas uma busca; ele não indaga sobre a verdade, mas investiga a realidade; ele penetra na realidade. Ele tenta destruir todas as nuvens à sua volta, de tal modo que você possa perceber a realidade como ela é. O Tantra vai além do pensamento, e é por isso que o amor foi tão louvado pelos tântricos; é por isso que o orgasmo se tonou o símbolo da realidade suprema. A razão é que apenas no orgasmo você perde a sua mente por alguns momentos. Esse é o único estado de não mente disponível para o ser humano comum, essa é a única possibilidade para você ter um vislumbre da realidade. Daí o orgasmo sexual ter se tornado imensamente importante no caminho do Tantra. Não que ele lhe dê a realidade suprema, mas pelo menos lhe dá uma chance de espiar além da mente. Ele lhe dá uma pequena janela, muito momentânea, não ficando ali por muito tempo, mas ainda assim essa é a única possibilidade de você ter algum contato com a realidade. Fora isso, você está sempre cercado pelos seus pensamentos, e os pensamentos não explicam nada. Todas as explicações são simplesmente tolices.
UMA AVENTURA EXISTENCIAL
A realidade do ser humano é um mistério. Não há resposta que possa respondê-la, pois, em primeiro lugar, ela não é uma questão. Ela é um mistério a ser vivido, e não um problema a ser resolvido. E lembre-se da distinção entre problema e mistério: o mistério é existencial, o problema é intelectual. O mistério não é criado pela mente; então a mente também não pode resolvê-lo. O problema é criado pela mente em primeiro lugar; então a mente pode resolvê-lo; não há dificuldade nisso. Mas o mistério da vida, este mistério existencial que o circunda, estas árvores, estas estrelas, estes pássaros, as pessoas, você próprio... Como você pode resolvê-lo através da mente? A mente chegou muito recentemente. A existência viveu sem a mente por um longo período, e a mente é apenas uma adição recente, ela acabou de acontecer. Os cientistas dizem que, se dividirmos a história humana em vinte e quatro horas, em um dia, então a mente veio há apenas alguns segundos... Ela não conheceu o começo, não conheceu o fim e veio apenas agora, no meio. Ela não tem perspectiva.
Se a pessoa quiser realmente saber o que é esse desconhecido, ela precisará deixar de lado a mente e desaparecer na existência. Esse é o caminho do Tantra. O Tantra não é uma filosofia; ele é absolutamente existencial. E lembre-se: quando digo que o Tantra é existencial, não quero dizer o existencialismo de Sartre, de Camus, de Marcel e de outros. Esse existencialismo é novamente uma filosofia, uma filosofia da existência, mas não o caminho do Tantra. E a diferença é imensa. Os filósofos existencialistas do Ocidente só se depararam com o negativo: a angústia, o desconforto, a depressão, a tristeza, a ansiedade, a desesperança, a falta de sentido, a falta de propósito... Tudo negativo. O Tantra se deparou com tudo o que é belo, alegre e feliz. O Tantra diz que a existência é um orgasmo, um eterno orgasmo seguindo em frente, um orgasmo infindável, um êxtase.
Filosofia é fazer tempestade em copo d’água. Você pode seguir em frente indefinidamente, não há fim para ela. Durante pelo menos cinco mil anos o ser humano tem filosofado sobre tudo, sobre o começo, sobre o fim, sobre o meio, sobre tudo, e nem uma questão foi resolvida, nem a menor das questões foi resolvida ou dissolvida. A filosofia provou que é o mais inútil dos esforços, mas ainda assim as pessoas continuam com ela, sabendo perfeitamente bem que ela nunca contribui com nada. Por quê? Ela fica prometendo, mas nunca entrega nada... Então, por que as pessoas continuam com esse esforço? A filosofia é barata, não requer nenhum envolvimento, não é um compromisso. Você pode se sentar na sua cadeira e ficar pensando; a filosofia é um sonho, não requer que você mude para perceber a realidade. É aqui que a coragem é necessária, que a coragem aventureira é necessária.
Conhecer a verdade é entrar na maior aventura que existe. Você poderá se perder, poderá nunca mais voltar, quem sabe? Ou você pode voltar completamente mudado, e quem sabe se será melhor ou não? A jornada é desconhecida, tão desconhecida que você nem pode planejá-la. Você precisa dar um salto dentro dela com os olhos vendados, na noite escura, sem mapa, sem saber onde está indo, sem saber para que está indo. Apenas alguns atrevidos entram nessa aventura existencial. Assim, o Tantra tem apelo apenas para muito poucas pessoas, mas essas pessoas são o sal da terra.
A INTENSIDADE DO MOMENTO
O Tantra diz que, para conhecer a verdade, a pessoa precisa apenas de uma coisa: intensidade, total intensidade. Como criar essa intensidade total? Abandone o passado e abandone o futuro; então, toda a sua energia de vida ficará focada no pequeno aqui e agora. E nesse focar você fica incandescente, um fogo vivo, o mesmo fogo que Moisés viu sobre a montanha; e Deus estava no fogo, e o fogo não o estava queimando, não estava queimando nem o arbusto verde que permaneceu vivo, fresco e jovem. O todo da vida é fogo. Para conhecê-lo, você precisa de intensidade; do contrário, a pessoa vive de uma maneira morna. O Tantra diz que existe apenas um mandamento: não viver de uma maneira morna. Essa não é uma maneira de viver, mas um lento suicídio.
Quando você está comendo, esteja intensamente presente. Os ascetas condenaram muito os tântricos, dizendo que eles são pessoas do tipo “comer, beber e se casar”. De uma certa maneira eles estão certos, mas de outra, estão errados, porque há uma grande diferença entre a pessoa comum do tipo “comer, beber e casar” e um tântrico. O tântrico diz que essa é a maneira de conhecer a verdade; mas, enquanto você estiver comendo, deixe que haja apenas o comer e nada mais, deixe que o passado desapareça e também o futuro, deixe que toda a sua energia seja despejada na sua comida, deixe que haja amor, afeição e gratidão para com a comida. Mastigue cada bocado com imensa atenção e você não terá apenas o sabor da comida, mas o sabor da existência! Ela traz vida, traz vitalidade, deixa-o palpitante, ajuda-o a permanecer vivo. Se você saborear apenas a comida e não saborear nela a existência, estará vivendo uma vida morna e não saberá como vive um tântrico. E quando você estiver bebendo água, torne-se a sede! Deixe que haja uma intensidade nisso, de tal modo que cada gota fresca lhe dê uma imensa alegria. Na própria existência dessas gotas entrando na sua garganta e proporcionando-lhe grande contentamento, você saboreará Deus, saboreará a realidade.
SEJA TOTAL EM TUDO
O Tantra não é uma permissividade ordinária, mas uma permissividade extraordinária. Ele não é uma permissividade ordinária porque é permissivo para com o próprio Deus. O Tantra diz que é através das pequenas coisas da vida que você tem o sabor. Não há grandes coisas na vida; tudo é pequeno. A coisa pequena torna-se grande e vasta se você entrar nela completamente, totalmente, inteiramente. Ao fazer amor com um homem ou com uma mulher, seja o amor e se esqueça de tudo o mais! Nesse momento não deixe que haja mais nada, deixe que toda a existência se convirja para o seu ato amoroso, deixe que esse amor seja vibrante, inocente, inocente no sentido de que não haja nenhuma mente para corrompê-lo; não pense nele, não fantasie a respeito dele, porque todas essas imaginações e pensamentos o deixam rarefeito. Deixe que todo o pensamento desapareça, deixe que o ato seja total! Esteja absorto no ato e, então, através do amor, você saberá o que é a divindade.
O Tantra diz que a divindade pode ser conhecida através do beber, através do comer, através do amor, que ela pode ser conhecida a partir de cada espaço, de cada recanto, de cada ângulo, pois todos os ângulos são de Deus. Tudo é a verdade. Não pense que você é desafortunado porque não estava por perto no começo, quando Deus criou o mundo; ele está criando o mundo neste exato momento! Você é um felizardo por estar aqui, você pode perceber a criação deste momento. E não pense que você perderá quando o mundo desaparecer numa explosão; ele está desaparecendo neste exato momento. A cada momento o mundo é criado e a cada momento ele desaparece; a cada momento ele nasce e a cada momento ele morre. O Tantra diz para deixar que assim também seja a sua vida: a cada momento morrendo para o passado e a cada momento nascendo mais uma vez.
Não carregue nenhum fardo; permaneça vazio.
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