MÊS DA MASTURBAÇÃO: COMO AS MULHERES PODEM USAR O ISOLAMENTO SOCIAL PARA CHEGAR LÁ


Masturbação é vida, é libertação (Arte: Anderson Basquiat/Yahoo Brasil)

Masturbação é vida, é libertação (Arte: Anderson Basquiat/Yahoo Brasil)

Mês da Masturbação: Como as mulheres podem usar o isolamento social para chegar lá

Por Natalia Guaratto (@natyguaratto)
“Mulher, eu consegui. Consegui me masturbar e foi tão incrível. Tive uma ejaculação, um squirt [ato feminino de ejacular], uma cachoeira. Gritei tanto, tô aqui chorando agora”. Foi esse o relato que a terapeuta corporal May Irineu recebeu de uma cliente após ela ter conseguido, por meio de técnicas de massagem tântrica, experienciar um orgasmo sozinha. 
Desde 1995, maio é considerado o Mês Internacional da Masturbação. A data é uma homenagem a médica Joycelyn Elders, primeira mulher negra a ocupar o posto de secretária da saúde dos Estados Unidos. Elders acabou demitida após defender que a masturbação fosse incluída na educação escolar. Mas sua luta não foi em vão.
Depoimentos de mulheres satisfeitas como o acima tem aumentado durante o período de quarentena, afirma May em entrevista ao Yahoo. “Neste momento de pandemia, tenho atendido online e já fui procurada por algumas mulheres sobre essa questão do auto toque e da masturbação”, conta.
Terapeuta corporal há mais de 16 anos, com especialização em disfunções sexuais, massagem tântrica, massagem ayurvédica, shiatsu emocional e reiki, May acredita que o momento de isolamento social pode ser muito propício para as mulheres que desejam “viver a sexualidade na sua potência”.  
Recomendado por governos e até pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como uma prática saudável para se manter durante o isolamento social, o autoprazer vive seus dias mais populares. Nos Estados Unidos, uma marca de brinquedos eróticos anunciou a distribuição de vibradores como forma de colaborar com as mulheres sexualmente ativas durante a quarentena. 
A busca pelo prazer feminino, no entanto, passa por outros estágios e nuances antes da escolha de um brinquedo erótico. Masturbar-se, na quarentena ou em qualquer outro momento, antes de qualquer coisa, é uma prática de autoconhecimento. 

Por que mulheres não se tocam?

Mas antes de partir para as dicas práticas, é preciso entender a masturbação feminina - ou a falta dela - como uma questão estrutural.  “Se considerarmos que vivemos em uma sociedade machista e patriarcal, podemos compreender porque muitas mulheres nunca se tocaram, nunca tiveram um orgasmo sozinhas. Nosso corpo ainda é muito objetificado, principalmente o corpo da mulher preta. Então, muitas mulheres aprenderam que era feio, que era sujo, que não podia se tocar, que deveriam aprender sobre o sexo através do toque do homem”, explica May. 
A carência de espaços seguros para debater questões relacionadas à saúde e  à sexualidade levou oito amigas negras com idades entre 21 e 25 anos a fundarem um coletivo onde pudessem debater livremente suas dúvidas, traumas e anseios sexuais. Com 26 mil seguidores no Instagram, o Siriricas Co. (@siriricas.co) nasceu como um grupo de WhatsApp, mas evoluiu para outras plataformas e conta hoje com um podcast e encontros presenciais (antes da pandemia). 
“A hiperssexualização da mulher negra acaba influenciando o nosso prazer porque a partir do momento em que nossos corpos são vistos apenas com essa finalidade nos é tirado a autonomia na hora do sexo. Principalmente em relação aos homens. Eles só enxergam uma bunda grande para bater, uma coxa para apertar e não se importam com a gente. Isso faz com que a gente fique responsável pelo nosso próprio prazer”, afirma a estudante de direito Kenya Odara, uma das integrantes do Siriricas Co. 

Na ponta dos dedos: 5 dicas para você chegar lá sozinha

1.    Faça um ritual
A terapeuta sexual May Irineu orienta as mulheres a preparem um ritual para o momento de se conhecer. “Ela pode colocar uma música, dançar em frente ao espelho, ir se excitando pouco a pouco”, aconselha. O momento do banho também pode ser um aliado para as mulheres que não estão sozinhas no isolamento social e dividem a casa com parentes ou amigos.
1.    Relaxe
Esse foi o maior aprendizado que as mulheres do Siriricas Co. tiveram desde a formação do grupo. “A masturbação está muito ligada com o relaxamento do corpo, então só de deitar e ficar acariciando seu próprio corpo você já descobre um novo jeito de sentir prazer”, explica Kenya Odara. “As partes internas do corpo são as partes mais sensíveis, porque são as partes que correm para os nervos. A parte interna da coxa, a parte interna do braço e o pescoço têm grande potencial orgástico”, ensina May. 
1.    Entenda o seu clitóris
Para May Irineu, é essencial que as mulheres entendam que o prazer se intensifica na região genital por conta do clitóris. “As mulheres têm de 8 a 12 mil terminações nervosas no clitóris. É um tecido que não envelhece. Ele pode proporcionar prazer e uma vida sexual saudável até os 90 anos de idade. Não só através do toque, mas através de uma caminhada, de uma dança. A importância da auto exploração é justamente por isso, para que a mulher tenha mais autonomia consigo mesmo. Para que ela saiba, quando ela vai para uma relação sexual com uma pessoa, quais são os pontos que ela mais gosta, onde ela quer ser tocada, onde ela menos gosta do toque”, ensina.
1.    Leia contos eróticos 
Uma das alternativas que as mulheres do Siriricas Co sugerem para quem precisa de um estímulo para a libido são os contos eróticos.
“A imaginação também é uma grande amiga na hora da masturbação, a famosa "memória sexual" pode ajudar bastante. Mas se ainda assim não conseguir se estimular e precisar ver vídeos, procure vídeos caseiros, feitos por casais reais que não tentam passar nenhuma ideia de abuso ou posse na hora da relação. E se algum dia se sentir à vontade grave um vídeo com sua parceira ou seu parceiro, é bom para assistir sozinha e juntos também”, aconselha Kenya Odara. 
1.    Procure ajuda profissional
Existem disfunções sexuais que podem atrapalhar a mulher na busca por uma vida sexual mais saudável. Por exemplo o vaginismo que é a dor durante a penetração e a anorgasmia, inibição recorrente ou persistente do orgasmo. “O ideal nesse caso é a ajuda profissional. As mulheres devem recorrer a um médico especialista, a terapia com o psicólogo ou a terapia tântrica”, orienta May Irineu.



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