SEXO E BEIJOS TÓRRIDOS PODEM SUMIR DO CINEMA E DA TV NO MUNDO PÓS-CORONAVÍRUS


Sexo e beijos tórridos podem sumir do cinema e da TV no mundo pós ...

Sexo e beijos tórridos podem sumir do cinema e da TV no mundo pós-coronavírus

Produções feitas após o afrouxamento da quarentena devem ter menos contato físico e novas medidas de segurança


SÃO PAULO
Esqueça os beijos apaixonados, as cenas quentes debaixo das cobertas e a tensão capaz de preencher cada canto de um cômodo onde estão os personagens de um filme, série ou novela. Cenas assim, com muito contato físico ou gravadas em espaços fechados e pequenos, devem demorar a voltar para os roteiros.
Mesmo quando o isolamento social acabar, é provável que o novo coronavírus ainda esteja à espreita, sem vacina que o detenha. E, por causa disso, produções audiovisuais deverão ser cautelosas quando enfim puderem voltar a filmar.
Filmes como o thriller erótico “De Olhos Bem Fechados”, ou séries como a libertina “Elite”, em que há constante troca de saliva entre os personagens, dificilmente conseguiriam ser gravadas num mundo sob influência do coronavírus.
É cedo para saber quando e como a retomada da indústria vai acontecer , mas quem trabalha no setor já pensa em maneiras de se adaptar, mesmo que, por ora, qualquer aposta seja feita no escuro.
Testes para as equipes, termômetros no set, hotéis em quarentena, autorização de trabalho só para quem desenvolveu anticorpos, apetrechos descartáveis para as áreas de cabelo e maquiagem, uso obrigatório de luvas e máscaras atrás das câmeras, fim dos contratos de quem está no grupo de risco, cancelamento de gravações em outros países. Essas são algumas medidas que vêm sendo estudadas pela indústria.
De acordo com a Variety, circula entre os produtores de Hollywood um documento com sugestões do que seria necessário para a retomada das filmagens, que sugere a presença ininterrupta de especialistas na Covid-19 nos sets e novos limites para a quantidade de horas de gravação.
Mas tudo ainda é muito incerto. Hollywood sabe como se comportar se uma produção é atingida por diferentes tipos de imprevistos, como morte de atores ou desastres naturais, mas não há precedentes para uma pandemia de proporções tão grandes. O mesmo vale para o Brasil, que estuda, mas não crava métodos para um retorno do setor.
“Acho que a retomada será bem cautelosa. Tudo ainda será incerto até a descoberta de um tratamento eficaz ou uma vacina”, diz Marcelo Braga, produtor dos filmes “A Menina que Matou os Pais” e “O Menino que Matou Meus Pais”, sobre o caso Richthofen, que tiveram o lançamento adiado.
“Tudo passará por novas regras de higiene e conscientização, e é fato que no resultado final veremos essas mudanças. Essa pandemia vai gerar um grande reaprendizado de como sobreviver nesse mercado.”
Mariza Leão, produtora da Morena Filmes, que teve os calendários de estreia e filmagens abalados pela pandemia, também não arrisca uma data para a retomada. “Não sei pensar em termos de data, mas sim de pré-condições”, afirma.
“Vamos precisar ter sets muito higienizados, equipes testadas para a Covid-19, cuidados especiais com atores, que não podem atuar de máscara, e por aí vai. Tudo isso se traduz em algo bem concreto —vamos precisar de mais tempo para dar conta dos planos de filmagem. E tempo é dinheiro.”
No Brasil essa equação é especialmente complicada, já que a tendência por aqui é filmar em locações, não em estúdios. Autorizar a entrada das enormes equipes necessárias para se fazer um filme em qualquer local será uma tarefa árdua.
A televisão também enfrentará novos desafios. Na Globo, ainda não há expectativa para a volta das gravações de novelas, mas a emissora já pede a seus profissionais que trabalhem com diferentes cenários.
“Mesmo sem uma data definida, a Globo se adiantou e desenhou um protocolo de segurança para a retomada das atividades nos Estúdios Globo. Ele foi criado através da avaliação de protocolos globais, reunindo as nossas práticas às da indústria do audiovisual de vários países”, informa um comunicado da emissora.
“Nossos criadores foram convocados a repensar a forma de escrever e realizar para lidar com diferentes limitações, que vão impactar a narrativa e os recursos da produção.”
Na TV paga, o “Greg News”, humorístico comandado por Gregorio Duvivier, colunista deste jornal, tem conseguido se manter no ar, mas precisou repensar toda a sua logística.
Duvivier está gravando de casa, com a ajuda da irmã, que é fotógrafa. Ele cita como referências alguns talk shows americanos, que também levaram as câmeras para dentro do lar. “Estamos realmente nos adequando a esse novo esquema, porque a gente não sabe quando vai voltar. Pode ser mês que vem ou ano que vem”, diz.
Ele também integra o Porta dos Fundos, que segue publicando esquetes no YouTube. Agora, as cenas são gravadas individualmente, às vezes pela webcam do computador, e costumam fazer troça com os empecilhos da quarentena.
“Eu acho que, quando a gente voltar a gravar, certamente vai ser num esquema menor, pensando em esquetes em que as pessoas estejam sozinhas. Os figurantes, por exemplo, eu tenho a impressão que vão demorar muito para voltar. É capaz também de termos menos contato físico. Tudo vai ser readequado, já estou escrevendo roteiros pensando nisso.”
Voltando à Globo, há muita expectativa em torno da novela “Amor de Mãe”, que teve a transmissão suspensa no fim de março. Sua autora, Manuela Dias, continua escrevendo, ciente do provável contágio da trama pelo coronavírus.
“A volta à gravação deverá seguir um protocolo rígido de segurança, que impõe medidas muito restritivas, como número de figurantes, forma de filmar. E, no momento, eu trabalho com duas projeções, desenvolvendo as duas quase paralelamente. Numa delas a Covid-19 entra na trama de ‘Amor de Mãe’, e na outra, não.”
Mesmo com as incertezas quanto ao futuro do audiovisual, uma coisa já é certa —ele terá de se adaptar. Pré e pós-produção, roteiros, filmagens e distribuição não estarão imunes ao mundo que surgirá depois da quarentena.
“Eu acho que no mundo inteiro quem pode já está aprendendo a trabalhar de uma outra maneira. De forma alguma é a ideal, mas é o que é possível agora”, diz Kleber Mendonça Filho, diretor de “Bacurau”.
“Não sei o impacto que isso vai ter daqui a alguns anos, se os filmes vão passar por um momento de perder um pouco o tamanho e fazer coisas mais simples. Ainda é muito cedo."
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