Barbara Thomaz e sua coleção: “Sou uma grande entusiasta dos
sextoys. Um deles mudou minha vida “ (Foto: Dejumatos)
Como me
entender com os vibradores transformou minha vida sexual
As mulheres
heterossexuais são o grupo que menos chega ao orgasmo: 65% das vezes que mantêm
relações. Colunista de Marie Claire, Barbara Thomaz, 34 anos, era uma delas –
até que iniciou sua experiência com os vibradores. Com eles, não só passou a
gozar mais e melhor, como entrou em uma jornada de autoconhecimento que a
(re)apresentou ao próprio prazer
BARBARA THOMAZ, EM COLABORAÇÃO PARA MARIE CLAIRE
12 JUN 2019 - 06H01 ATUALIZADO EM 26 JUL
2019 - 15H08
Após séculos de repressão,
demos um duplo twist carpado sem volta na sexualidade humana e celebramos mais
um momento histórico rumo à libertação. O direito ao prazer não apenas é um ato
político, mas uma questão de saúde. Tanto é que o vibrador foi inventado para
fins medicinais.
A histeria, especulada e
difundida principalmente por Freud, era uma doença psicopatológica tida como
essencialmente feminina. Apesar do estigma que o termo nos rendeu, foi através
dele que nossa sexualidade chegou aos consultórios. O tratamento para as
angústias e perturbações psíquicas de um corpo feminino reprimido em suas
potências era, nada mais nada menos, que o orgasmo. Ele, que libera doses de
dopamina em nosso sistema, um hormônio associado à energia, motivação e
bem-estar. O fato é que as mãos da medicina não deram conta da demanda e, dessa
forma, nasceu, ainda no século 19, o vibrador, que não tardou em saltar das
clínicas para a nossa intimidade – não sem encontrar resistência e moralismo
pelo caminho, claro.
Muitas
mulheres relacionam o uso do vibrador à ausência de alguém para satisfazê-las.
Ledo engano. O vibrador é um
grande aliado na ampliação do autoconhecimento e na diversificação das fontes
de prazer. Incluí-los na rotina ajuda a estimular a região íntima, fazendo com
que os orgasmos aconteçam com mais facilidade. Encontrei uma pesquisa esses
dias que mostrava: aquelas que usam o brinquedo obtêm níveis mais elevados de
excitação, clímax, lubrificação e sentem menos dor no sexo. Além disso, seu uso
atenua sintomas da menopausa, uma vez que a falta de estrogênio no corpo
diminui o fluxo de sangue na região genital, podendo causar falta de
lubrificação, atrofia vaginal e fraqueza do músculo pélvico.
Barbara
Thomaz (Foto: Dejumatos)
Sou
uma grande entusiasta dos sextoys, afinal um deles mudou minha vida. Como
muitas mulheres, fui deixada à própria sorte nas descobertas da minha própria
anatomia, sem as devidas orientações sobre o prazer e quem deveria estar no
comando dele. Infelizmente, também como muitas mulheres, fui vítima de abusos
na infância, o que fez com que meu corpo e mente estabelecessem uma guerra
velada de sobrevivência, da qual só tive plena consciência muitos anos depois.
Tanto no colégio quanto no ginecologista, a educação sexual era exclusivamente
direcionada a evitar doenças ou uma gravidez precoce, ocasionando mais
desconforto e medo em torno da sexualidade do que conhecimento. Se por um lado
a sociedade nega valiosas informações sobre os encantos de nosso aparelho
sexual, por outro sobram orientações de como levar um homem à loucura.
Como resultado óbvio dessa
alquimia, passei boa parte da vida desconectada do meu prazer e focada em
agradar parceiros. Embora tivesse experiências sexuais na bagagem, havia a
sensação de que algo importante estava ficando de fora. A dica veio lá do
subconsciente e literalmente me tirava o sono. Tinha sonhos eróticos
frequentemente, seguidos de uma onda de prazer tão forte que me despertava. Me
perguntava que coisa era aquela que nunca sentia acordada e, confesso, fiquei
assustada, mas não desisti de obter a resposta.
Barbara Thomaz
(Foto: Dejumatos)
O jeito foi explorar. Dildos de silicone e vibradores de plástico mais
simples já não eram novidade para mim à essa altura. Porém foi preciso superar
a ideia de que o orgasmo viria através da penetração, o que hoje sei ser
possível para apenas 18% das mulheres. Andando em São Paulo pela avenida Amaral
Gurgel, logo abaixo do Minhocão, entrei de supetão em uma sexshop para fuçar.
Trinta minutos se passaram e continuava perdida no infinito mundo dos toys. A
vendedora, uma mulher com seus 45 anos, se aproximou e ofereceu ajuda.
– Do que você precisa?
A resposta saltou da minha boca num surto sincero.
– Eu preciso de algo que garantidamente me faça gozar. O que você sugere?
Com um sorriso largo no rosto, ela prontamente alcançou uma espécie de bullet
(nº 2 da lista ao lado) rosa revestido de silicone texturizado, com duas anteninhas finas e compridas em uma das pontas.
– Leve este, é infalível. Você não vai precisar de mais nada.
– Do que você precisa?
A resposta saltou da minha boca num surto sincero.
– Eu preciso de algo que garantidamente me faça gozar. O que você sugere?
Com um sorriso largo no rosto, ela prontamente alcançou uma espécie de bullet
(nº 2 da lista ao lado) rosa revestido de silicone texturizado, com duas anteninhas finas e compridas em uma das pontas.
– Leve este, é infalível. Você não vai precisar de mais nada.
Aquele anjo não estava
brincando em serviço. O bendito nem sequer tinha marca, havia custado R$ 100,
mas abraçava e massageava divinamente o clitóris, pegando o ponto superior,
também as laterais e um pouco da base dele – que fica na parte interna e é
uma região frequentemente ignorada. Era tão incrível que beirava o
insuportável, e isso parecia um bom sinal. Então minhas mãos começaram a
formigar, meu sangue parecia fervilhar, a respiração foi ficando ofegante e um
friozinho na barriga anunciava a glória. BOOM! Indubitavelmente um orgasmo do
qual jamais me esquecerei. Fiquei desnorteada por uns 10 minutos.
Barbara
Thomaz (Foto: Dejumatos)
Se
você conhece alguma mulher que nunca teve um orgasmo ou até mesmo é uma delas,
acredite, infelizmente o problema é mais comum do que se pensa. A confirmação
me deixou confusa quanto aos próximos passos. Apesar de estar me relacionando
na época, temia o estrago da notícia no ego masculino. Parecia impossível abrir
a questão com meu parceiro sem abalar sua autoestima, afinal a masculinidade é
fortemente baseada no desempenho sexual do homem. O problema é que buscam o
orgasmo feminino não pela nossa satisfação, mas para alimentar a própria
vaidade. Não se trata de querer dar prazer, mas de se sentir o máximo. Não
fosse isso, os caras teriam um vibrador na manga caso todo o resto falhasse, o
que só me ocorreu duas vezes na vida.
Por
essa razão, muitas mulheres fingem orgasmos e fatalmente os homens seguem se
autoavaliando calçados na ilusão de uma teatralidade inútil. Um estudo
publicado recentemente no periódico científico Archives of Sexual Behaviour
[Arquivos do comportamento sexual] diz que as mulheres heterossexuais são o
grupo que menos chega ao orgasmo: somente 65% das vezes que mantêm relações. Em
primeiro lugar estão os homens heterossexuais, com uma porcentagem de orgasmos
de 95%, seguidos pelos gays (89%), os homens bissexuais (88%), as lésbicas (86%)
e as mulheres bissexuais (66%). Qual seria o fator determinante para que
mulheres lésbicas tenham 21% mais chances de atingirem o clímax já que
partilham da mesma biologia das heterossexuais? Eu diria que a disposição de
suas parceiras e abertura dentro do relacionamento.
O uso do vibrador, além de
quebrar a rotina, pode melhorar a relação como um todo. Li em um outro estudo
que casais que incluíram o brinquedo em suas transas obtiveram resultados mais
positivos também na convivência, tornando-se mais cúmplices e parceiros. Muita
diversão e intimidade são perdidas com o fato de que qualquer elemento extra
dentro da dinâmica sexual heterossexual seja visto como uma diminuição da
macheza, e não como um complemento ao prazer.
Porém
eu estava obstinada e com jeitinho fui tentando introduzir a novidade na
relação; como esperado, havia um semblante ameaçado e desconfortável do outro
lado. As barreiras da masculinidade minaram a relação. Meu prazer era urgente e
não podia esperar sua boa vontade. Entre meus orgasmos e o ego alheio, pela
primeira vez escolhi o meu prazer. Quantas voltas o mundo pode dar por causa de
um orgasmo, não? Saltei.
Segui
meu laboratório fazendo diversas vivências, terapias, cursos e investindo em
novos acessórios, com erros e acertos, numa jornada de cura e autoconhecimento
que segue até hoje. Uma das surpresas mais interessantes foi o estimulador da
zona G (nº 4) da Key, de formato curvado – parecendo um cachimbo – com uma
cabeça esférica que possibilita massagear a região interna superior na entrada
da vagina. Se quiser ver estrelas, faça um estímulo simultâneo no clitóris e me
agradeça depois. Foi com essa combinação que também tive minha primeira
ejaculação. Isso mesmo que você leu, e-ja-cu-la-ção.
O próximo grande achado
foi um estimulador clitoriano (nº 5) em formato de língua que se encaixa ao
clitóris sem muitas manobras durante as relações com penetração. A seguir,
conheci a FunFactory, uma marca alemã de sextoys, e com ela uma função até
então nova para mim: o pulsador. O Bi-Stronic Fusion (nº 1) é um vibrador que
penetra e estimula o clitóris sem a ajuda das mãos, fazendo o movimento de
vai-e-vem. O modelo Volta (nº 3) também é um dos meus queridinhos. Com a ponta
bifurcada, serve tanto para a penetração quanto para o estímulo clitoriano.
Pode parecer exótico a princípio, porém as linguinhas vibrantes fazem a magia
acontecer rapidamente.
Nas massagens orgásticas
da PrazerEla, espaço de empoderamento feminino através do prazer – feito por e
para mulheres –, meu corpo conheceu uma nova dimensão de sua sexualidade. A
ação conjunta de fatores como tempo, toque e relaxamento revolucionaram meu
entendimento sobre a excitação e a importância de sua construção. Por lá tive
orgasmos pitorescos com o Magic Wand da Hitachi (nº 7). Um massageador corporal
individual que ganhou uma utilidade extra após cair nas graças da mulherada. O
design não inspira tesão, no entanto basta usar uma única vez para ser cativada
por sua potência.
Hoje a marca também oferece
adaptadores específicos para o estímulo íntimo e as opções são bem variadas.
Devido ao sucesso e uma certa dificuldade de importação, o modelo ganhou
concorrentes genéricos no mercado. Existem versões de todos os tamanhos, com ou
sem fio. Minha mais recente aquisição foi o Satisfyer (nº 6), que suga o
clitóris e vibra ao mesmo tempo. O começo com ele exige mais paciência para
entender o encaixe certo, porém também é tiro e queda. Os bullets são com
certeza a forma mais barata e compacta para garantir e turbinar o prazer. Dá
pra levar no bolso! Só não pode esquecer de higienizar corretamente seus
amiguinhos, para não estragar a diversão no parquinho.
Nessa
intrépida busca algo ficou claro: ainda conhecemos pouco de nossa potência
sexual. Esse fato me mantém curiosa, ativa nas descobertas e mais seletiva. A
partir daquele dia minhas exigências aumentaram e o sexo
hetero-pornô-egóico-performático ficou cada vez menos interessante, graças a
deusa. Vale lembrar que nada substitui a troca de calor humano e o afeto que
tão bem nos faz. Todavia, escolher parceiros genuinamente interessados em
nossas necessidades e que prezam pela comunicação honesta é sinal de que você
se respeita e, acredite, respeito é por si só um orgasmo para a alma. Optar por
colocar seus desejos e prazeres em primeiro plano, seja sozinha ou acompanhada,
é o maior ato de amor que você pode se dar. Se afaste de tudo o que te limita e
vá gozar a vida já!
Sextoys
(Foto: Dejumatos)
A LISTA DO PRAZER:
1. Bi Stronic Fusion, fun factory, R$ 1.590,90
2. Estimulador clitoriano, prettylove, R$ 99,90
3. Volta, fun factory, R$ 899,90
4. Ponto G, californi aexotics, R$ 1.585,98
5. Língua, california exotics, R$ 451
6. Vibrador satisfyer, R$ 351
7. Magic wand, R$ 219,90
1. Bi Stronic Fusion, fun factory, R$ 1.590,90
2. Estimulador clitoriano, prettylove, R$ 99,90
3. Volta, fun factory, R$ 899,90
4. Ponto G, californi aexotics, R$ 1.585,98
5. Língua, california exotics, R$ 451
6. Vibrador satisfyer, R$ 351
7. Magic wand, R$ 219,90
BELEZA:
CARLOS ROSA (CAPA MGT) COM PRODUTOS LOWEL E NARS / PRODUÇÃO-EXECUTIVA: VANDECA
ZIMMERMANN / AGRADECIMENTOS: FUN FACTORY BRASIL E NOVA PANTY (VIBRADORES)
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