(Foto: Giphy)
As
mentiras que o pornô te contou sobre prazer feminino, corpos e consentimento
Mesmo com
toda a efervescência feminista nas redes e nas ruas, a produção pornográfica
continua, em sua maior parte, um ideário machista, excludente, violento e
ficcional
NATACHA CORTÊZ
DA MARIE CLAIRE
17 AGO 2018 - 06H00 ATUALIZADO EM 17 AGO
2018 - 16H35
Pornografia faz parte das nossas vidas. Uma hora ou outra, com mais frequência ou não, seus olhos vão esbarrar com ela. E é justamente pela abundante produção de imagens que ela põe no mundo que, nem querendo, seria possível escapar. Tudo certo se fosse mostrado um sexo possível. Por possível, imagine corpos reais, performances idem, consentimento sempre - a não ser em casos de fetiches sadomasoquistas (?) - e diversidade, em todos os sentidos.
Só que a gente sabe - e tá cansada de constatar - que no pornô as coisas raramente funcionam assim. Mesmo em pleno 2018, com toda a efervescência feminista nas redes e nas ruas, a produção pornográfica continua, em sua maior parte, um ideário machista, excludente, violento e ficcional. E mais: que atende, com prioridade, a cabeça masculina - ou o que foi feito dela pela própria indústria.
É por essas e outras que a gente decidiu colocar as cartas na mesa e listar as mais clássicas mentiras que o pornô tem disseminado, vídeo após vídeo. Afinal, já que o que tem pra ver é quase sempre uma falsa versão da realidade, que saibamos disso pra podermos escolher assistir ou não.
1. Corpos gordos, negros, amarelos, peludos, sardentos, barrigudos, franzinos e gigantescos também transam. Aliás, corpos com deficiência curtem trepar. O documentário espanhol Yes, we fuck mostra histórias de quem faz questão que o sexo seja mais que natural, inclusive em uma cadeira de rodas.
2. Nem todos os pênis serão eretos, enormes e depilados. Nem todas as vulvas serão cor de rosa, lisinhas e sem manchas. Aliás, padrão é uma expectativa irreal quando falamos de genitálias. O mundo dos sexos é muito mais diverso do que a produção pornográfica consegue retratar. Para um necessário choque de realidade, clique aqui.
3. Milf, sigla em inglês para “Mothers I’d like to fuck”, ou “Mães com as quais gostaria de transar”, é o segundo termo mais popular nos últimos 10 anos do site PornHub, atrás apenas de “amateur”, ou amador. Absolutamente nenhuma questão com mães transantes. O que acontece é: mulher nenhuma deveria ser categoria de pornografia. Aliás, no mundo real, mães sofrem preconceito e têm dificuldades de conseguir sexo casual, sabia?
4. Lésbicas não transam para o prazer dos caras. São mulheres autônomas, livres, que fazem sexo porque se curtem de verdade. Não tem nada a ver com performar para satisfazer o desejo masculino.
5. "Revenge porn" ou pornô de vingança é outra coisa que nunca nesse mundo deveria ser categoria em site pornô. O nome disso aí é violência e, no Brasil, inclusive, é crime divulgar imagens íntimas de alguém sem autorização.
6. Ejaculação feminina - ou squirting, como classifica o pornô - é xixi, na grande maioria das vezes. Não há consenso científico sobre qual a composição do líquido que sai como um esguicho durante o orgasmo feminino, ou mesmo o porquê de algumas mulheres terem a habilidade e outras não.
8. Não é NÃO. Fazer que alguém tenha qualquer interação sexual contra a vontade é assédio. Só que nessas situações, é assédio sexual. E assédio sexual é crime. De acordo com o artigo 216 do Código Penal, “constrangimentos e ameaças com a finalidade de obter favores sexuais feita por alguém normalmente de posição superior à vítima” tem pena de detenção entre um e dois anos. A mesma legislação enquadra como Ato Obsceno (artigo 233) quando alguém pratica uma ação de cunho sexual (como por exemplo, exibe seus genitais) em local público, a fim de constranger ou ameaçar alguém. A pena varia de 3 meses a um ano, ou pagamento de multa.
Pode até ser algo comum nos filmes eróticos, mas não é com agressividade que você vai conseguir o que quer, né? Na vida real, o jogo costuma ser outro.
"Fazer que alguém tenha qualquer interação sexual contra a vontade é assédio. Só que nessas situações, é assédio sexual. E assédio sexual é crime.""
9. Mulher quer sentir prazer SIM. Fica difícil de acreditar que mulheres de fato gostem de sexo com a produção de filmes pornôs que temos, em sua maioria, tão voltada aos desejos e prazer masculinos. Mas vai por nós: mulher adora sexo.
10. Aliás, não é que existam apenas filmes eróticos para as fantasias masculinas. A diretora sueca Erika Lust é prova viva de que pornô feminista existe, dá tesão e privilegia o prazer da mulher.
11. Nem toda mulher tem peito siliconado. Nada contra as que escolhem turbinar os seios, mas é que não dá pra viver acreditando que todas são assim, nem que só peitões são dignos de desejo.
12. Zoofilia, ou seja, sexo com animais, é coisa de cinema pornô: meia verdade. Há países que permitem a prática. A Suprema Corte do Canadá, por exemplo, descriminalizou as relações sexuais entre seres humanos e animais irracionais, desde que não haja penetração. Enquanto isso, bordéis de animais são permitidos na Dinamarca.
13. Existe uma infinidade de posições além do sexo de quatro ou, doggy style, se você preferir assim. Há, por exemplo, posições que estimulam o clítoris, o órgão responsável pela maior fonte de orgasmo das mulheres.
14. Nem todo sexo dura três horas. Rapidinhas podem ser tão maravilhosas quanto as transas demoradas.
15. Os filmes pornôs dão a impressão que a única coisa que realmente importa quando o assunto é sexo oral, é o pênis. Mudemos essa premissa. Mulheres TAMBÉM curtem uma boca feliz lá. Para quem quer saber mais sobre sexo oral em mulheres, Karol Conka explica, cantando.
16. Entregadores de pizza, encanadores, secretárias e outros prestadores de serviços nem sempre querem te comer a todo custo. A propósito, nem sempre você vai esperar isso quando fizer um pedido.
17. Sexo do tipo britadeira, com penetração forte e frenética não é necessariamente preferência de Deus e o mundo. Se for sem preliminares então, muito menos, né?
18. Cantada na rua não termina em sexo na sala de casa. Antes de dizer que o mundo está chato, entenda a sutil diferença entre assédio e elogio. Se há constrangimento para quem recebe, é assédio e é indesejado. Uma pesquisa realizada pelo coletivo feminista “Think Olga” com 7.762 brasileiras mostrou que 83% das entrevistadas consideram cantada na rua “uma situação desagradável”.
19. A indústria pornográfica não tem lá a melhor das reputações. Além da violência muitas vezes representadas em frente às câmeras - nas cenas de agressão, 94% dos atos são contra as atrizes, segundo a Pink Cross Fundation, instituição americana voltada a apoiar profissionais do mercado -, há casos emblemáticos de violência e exploração sofridas por mulheres. Um deles é o de Linda Lovelace, estrela pornô da década de 1970, explorada e agredida durante anos pelo marido para ganhar dinheiro atrevés da pornografia.
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