Coy Mathis. Foto: Reprodução Mail Online
CRIANÇA TRANSGÊNERO: NEM MENINO, NEM MENINA
Gender non-conforming: este é o termo apropriado para estes casos que ainda são um tabu da sociedade. Conheça mais sobre este assunto!
Com certeza, sempre existiram muitos casos de transgêneros, no entanto, é algo pouco falado já que se trata de um assunto tabu. Ultimamente, aqui no Brasil, o tema acabou ficando em evidência com a modelo Lea T., filha do ex-jogador de futebol Toninho Cerezo.
Mas imagine as situações e frustrações que Lea e seus pais passaram quando ela ainda era uma criança? Então, apesar de todo o preconceito e sofrimento, algumas famílias estão enfrentando o mundo pela aceitação de seus filhos.
Com isso, diversos casos têm se tornado público. Por exemplo, uma mãe norte-americana com filho diagnosticado como "gender non-conforming", ou seja, indivíduo que não se encaixa em um estereótipo claro de gênero, relata em seu blog o comportamento do pequeno, que desde os 2,5 anos tem mostrado interesses femininos.
Cheryl Kilodavis, autora do livro "My Princess Boy" ("Meu Menino Princesa") se surpreendeu quando seu filho caçula Dyson passou a se interessar por vestidos de princesas. No entanto, ela ainda não tem certeza se ele é uma criança transgênero, pois ele se identifica como menino, apesar de gostar dos vestidos.
Também nos Estados Unidos, um casal contou à rede de televisão ABC que seu filho Coy Mathis já se recusava a usar roupas de meninos quando tinha apenas 1,5 ano.
Breno Rosostolato, psicólogo clínico e professor da Faculdade Santa Marcelina, diz que são exatamente esses os primeiros sinais e ressalta que não é algo raro. "Os casos de crianças que apresentam preferências e comportamentos do gênero oposto e não correspondem ao comportamento esperado conforme sua anatomia são comuns e as primeiras evidências surgem ainda na primeira infância."
Ele explica que existe um termo apropriado, o "gender non-conforming", ou seja, crianças que não se encaixam a classificações tradicionais de gênero: menino ou menina, como mencionado anteriormente. "Os sinais mais evidentes são revelados nas brincadeiras, escolhas de brinquedos e roupas. Existe, inclusive, todo um movimento de dar liberdade para a criança se enquadrar naturalmente ao gênero que ela desejar, o "gender neutral parenting" (criação de gênero neutro). A incompatibilidade com o corpo vai se manifestar de forma mais acentuada à medida que esta criança se desenvolve", detalha Rosostolato.
Logo, vale definir o que é indivíduo transgênero. "Ele é sustentado pela identidade sexual, ou seja, a maneira como se identifica e se reconhece. Nem sempre o corpo confirma aquilo que ele pensa. É o homem que se vê como mulher, mas o corpo não combina com sua identidade e vice-versa. Os transgêneros são os sexos cerebrais", explana o especialista, acrescentando que gênero, masculino ou feminino, erroneamente, é um eufemismo para sexo. "O sexo está ligado ao órgão genital, pênis ou vagina. O gênero é o comportamento, postura e atitude que a sociedade espera e que, portanto, é imposto."
Em razão do desconhecimento dessa definição mais detalhada apresentada pelo psicólogo, é muito comum as pessoas associarem o transgênero ao homossexualismo. Na verdade, isso é um engano, já que a homossexualidade, assim como a heterossexualidade e a bissexualidade, está ligada à sexualidade, ou seja, como é vivenciado e concretizado o desejo sexual. Logo, a orientação sexual não está condicionada ao órgão sexual, pênis e vagina, tampouco ao papel social e ao gênero, masculino ou feminino.
"A pessoa pode ter nascido com o corpo de um homem, sentir-se uma mulher e ter o desejo por uma mulher, ou seja, o transexual pode ser heterossexual ou homossexual. A questão é que se sentir masculino ou feminino difere de se sentir homem ou mulher, até porque essas últimas classificações são estereotipadas e reforçam a dicotomia social", afirma o especialista.
Foto: Blog Raising My Rainbow
Como lidar?
Não há como contestar que se trata de uma situação complicada, não só para a criança como também para os pais. Por isso, é necessário ter coragem e força para defendê-la do preconceito. No entanto, primeiramente, pai e mãe precisam entender e aceitar o diagnóstico do filho.
"A participação e compreensão são imprescindíveis. Os pais devem praticar a tolerância e não adotar uma postura preconceituosa, constrangedora ou de reprovação. Portanto, precisam sustentar a diferença, compreender a situação, manter o diálogo e ajudar a criança no que for necessário. Para tal, não devem se prender às exigências e imposições sociais, mas se libertar para poder acolher o filho. Amar é respeitar e é diante deste preceito que os pais devem viver", ressalta Rosostolato.
O especialista ainda afirma que é primordial passar segurança para a criança, que pode acontecer, concomitantemente, com o diálogo e as explicações que os pais podem fornecer. Com isso, é possível abordar a sensação e os sentimentos que ela possui sobre si mesma, procurando esclarecer que esta diferença não interfere na relação dela com os amigos e que não há nada de errado.
"Pai e mãe podem amenizar eventuais discriminações na escola conversando com a diretoria e professores. A conversa e o apoio dos pais fortalecem o filho que inevitavelmente experimentará o sofrimento causado pelo preconceito. Mas proteger não é esconder ou enclausurar a criança num mundo fechado. Ela precisa ser encorajada a se relacionar com as outras crianças e não se sentir envergonhada. Isso facilita a aceitação", adiciona o psicólogo.
E foi exatamente o que fizeram o pai e a mãe de um menino de 6 anos que se identifica como menina, nos Estados Unidos. Desde que passou a frequentar a sua escola atual escola no Colorado, Coy Mathis se apresentava como menina, sendo tratado dessa forma por professores e colegas, inclusive, usando o banheiro feminino.
Entretanto, há alguns meses, ele tem sido proibido de usar o banheiro das meninas, podendo ir somente ao dos meninos ou ao da enfermaria. Em razão dessa postura discriminatória, seus pais prestaram uma queixa na agência estadual de direitos civis. "Nós queremos que Coy tenha as mesmas oportunidades educacionais que qualquer outra criança no estado do Colorado", disse a mãe do menino à rede de televisão ABC.
O casal teve a coragem de defender seu filho, tentando evitar problemas no seu desenvolvimento provocados por uma atitude preconceituosa. "Aos poucos, a discriminação e o preconceito fazem a criança, que não possui recursos e defesas construtivas, retrair e isolar-se. Ela acaba se sentindo diferente, como um ser doente e anormal. Ela vai definhando e perdendo sua autoestima. Assim, fica vulnerável emocionalmente e propensa a depressão. O afeto vai se embotando e a criança fica sem referências positivas", conclui Rosostolato.
Por Fernanda Oliveira (MBPress)
Fonte:http://www.vilamulher.com.br/familia/filhos/crianca-transgenero-9152.html
FILHOS TRANSGÊNERO: CRIANÇAS QUE NASCERAM NUM CORPO DIFERENTE
Skylar Kergil e Jazz Jennings passaram pela transformação da identidade de gênero desde a infância
Jazz Jennings e Skylar Kergil - fotos: reprodução
Ainda existe muita incompreensão a respeito do conceito de transgênero, mas para crianças que nascem com uma identidade de gênero na qual não se identificam, está muito claro.
Imagine um menino nascer em um corpo de menina. O indivíduo não se “encaixa” dentro daquela embalagem e pode sofrer muitas dificuldade ao longo da vida. Embora muitos adultos estranhem esse comportamento, na verdade essa é uma questão tão natural que algumascrianças, desde muito pequenas, têm a convicção exata do que são, independente do corpo que possuem.
Um exemplo disso é Skylar Kergil, um jovem de 23 anos que nasceu num corpo de menina. Ele resolveu documentar sua história em um vídeo no Youtube, narrando sua trajetória desde a compreensão que tinha de ser na verdade um menino – embora tenha nascido menina como Katherine Elizabeth - e sua transformação para um corpo masculino que levou cinco anos de tratamento hormonal e cirúrgico.
fotos: reprodução
Através de fotos ele conta sua trajetória por estar num corpo no qual se sentisse confortável. “Ao entrar na puberdade, eu sequer tinha ouvido a palavra 'transgênero', nem mesmo a consciência do que era gênero. Tudo que eu sabia era que tinha passado de um menino alegre, otimista e andrógino para uma pessoa ansiosa, desconfortável com o corpo e que se escondia”, relatou o jovem em artigo para o Huffington Post. Depois da transformação, Skylar costuma falar sobre sua experiência para adolescentes em escolas e universidades pelos os Estados Unidos. Ele diz que encontrou muito apoio após passar a publicar seus relatos na internet.
Outra história muito similar é de Jazz Jennings, uma garota de 14 anos que nasceu no corpo de um menino. Famosa no Youtube por seus relatos pessoais, ela conta suas dificuldades por ser uma criança transgênero.
"Eu sempre soube quem eu era: uma menina presa no corpo de um menino. No colégio, meus colegas se cumprimentavam com abraços e eu só recebia um 'oi'. Até já fui chamada de 'aquilo'. O meu verdadeiro eu está feliz e cheio de orgulho pelo que sou", afirma.
fotos: reprodução
A garota fala com tanta naturalidade a respeito de si e tão engajada na luta pelos direitos de jovens transgêneros, que foi convidada a estrelar uma propaganda publicitária da marca Clean & Clear, da Johnson & Johnson.
A empresa, que busca atingir outros públicos, escalou a jovem transgênero para a campanha “See The Real Me” (Veja o Verdadeiro Eu), com a proposta de mostrar a “verdadeira face” de pessoas comuns.
Por Jessica Moraes
Fonte:http://www.vilamulher.com.br/familia/criancas/filhos-transgenero-criancas-que-nasceram-num-corpo-diferente-m0315-700393.html
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