O Amor Sem Condição
Lusa Silvestre
28 julho 2015 | 11:29
O Amor Incondicional é como o amor materno,aceita qualquer desaforo.
O amor é um vírus complexo. Quando você começa a entender o bicho, ele muda de forma. Vai da paixão ao ódio em questão de 24 horas. O tempo de um sábado. Além desse poder individual, considere que são bilhões de tipos de amores e taras e obsessões diferentes. Ou seja: além do amor ser mutante, ainda por cima ele ataca de turma. Quase filme de zumbi. É inacreditável que a gente sobreviva.
Dentre todos os amores que existem, destaco um: o Amor Incondicional. Ou Amor que Engole Sapo. Ou, ainda, Amor que Leva Desaforo Pra Casa. É o amor que releva tudo. Resumindo a descrição do caso: independentemente do que acontecer na relação (pisadas, brigas, traições), o amor sobrevive. É normalmente associado à mães. Porque elas sempre amam os filhos, em qualquer circunstância. O rebento pode roubar, pode se alistar na Al Qaeda, pode torrar a grana da família pra mudar de sexo, pode virar deputado – que tudo bem; a mãe vai continuar amando seu nenê do mesmo jeito. É uma praga que elas aceitam felizes, padecendo no paraíso.
Mas acontece que, às vezes, a maldição do Amor Incondicional cai na cabeça de pessoas normais mesmo. Pessoas sem o poder supremo da maternidade. Gente do bem, como eu e você.
Funciona assim: você conhece uma pessoa e se encanta a ponto de topar qualquer coisa pra ficar com ela. Então, esta pessoa pode fazer o que bem quiser que a paixão continua viva. Eita, pode xingar, pode falar que vai te encontrar às nove e nunca aparecer, pode expôr suas segredâncias na frente de todo mundo – que tudo bem, também. Você chora, mas continua amando. É igual cocaína: você sabe que vai te levar pra cova, mas não consegue parar.
Tem um lado bom: o sofrimento é excelente combustível para a arte. Se você for pintor, saia desenhando. Se você for do Cirque du Soleil, saia dando cambalhotas. Se você for poeta… melhor escrever sambas. Pelo menos dá dinheiro; todo mundo gosta de um batuque doído. Chico Buarque troca de carro todo ano nessa onda aí.
Quem sofre de Amor Incondicional vai se adaptando. Vai formando calo na aorta. As pisadas na bola não fazem mais tanto efeito. Apareceu bêbado e atrasado ? Tudo bem; pelo menos veio. É o que os psicólogos chamam de “resiliência” – a capacidade de superar dificuldades. Lutadores de MMA rotulam de outro jeito: “poder de encaixe”. Os amigos preferem ainda um terceiro nome: “burrice”. Acontece com ambos os sexos; fazer a outra pessoa sofrer não é algo exclusivo do cromossomo Y.
Só existe uma maneira de se curar do Amor Que Pisa na Bola. Só existe um antídoto: o Amor Próprio. A saída é perceber que você não merece isso. Que arranja coisa melhor. Que encheu. No fim, é quase como uma alforria. Você se sente libertando Paris dos nazistas. Porque, como bem disse Vinícius, chega uma hora que a paciência estoura e até o perdão cansa de perdoar.
Fonte:http://vida-estilo.estadao.com.br/blogs/xavecos-e-milongas/o-amor-sem-condicao/
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