A REVOLUÇÃO SEXUAL : O DIREITO AO PRAZER E SUAS CONSEQUÊNCIAS

A primeira revolução sexual

Um novo livro mostra que a liberdade sexual não começou com os cabeludos nos anos 1960. Surgiu no século XVIII, por uma aliança de prostitutas, intelectuais e libertinos

IVAN MARTINS
27/09/2013 07h00
OS DISSOLUTOS The rake’s progress  (O progresso do libertino), ilustração de 1735 de William Hogarth (Foto: Ann Ronan Pictures/Heritage Images/Glow Images)
O mundo em que vivemos é um monumento intelectual ao Iluminismo. A superioridade da razão, a primazia da consciência individual e a noção de que as leis da natureza (e não de Deus) governam o mundo são pilares da visão moderna sobre a vida. Essas premissas do Iluminismo estão tão entranhadas na consciência contemporânea que se tornaram parte do senso comum. Mais de 300 anos depois do movimento que sacudiu o mundo cristão e serviu de base às revoluções Americana e Francesa – assim como ao surgimento da ciência e da sociedade como as conhecemos –, ainda é possível encontrar, na mente de um rapaz de 20 anos que caminhe pelas ruas, concepções que vieram diretamente do arsenal iluminista, mesmo em áreas inesperadas e surpreendentes como o sexo.
O livro de Dabhoiwala. De acordo com ele, o Iluminismo começou também nos bordéis (Foto: Reprodução)
Uma dessas premissas, que sobreviveu intacta desde 1700, diz respeito à diferença entre a sexualidade dos homens e das mulheres. Por volta de 1700, formulou-se uma tese segundo a qual os homens, como todos os animais, precisam naturalmente de sexo e deveriam estar mais ou menos livres para procurá-lo; e as mulheres, embora filhas da mesma natureza, estão sujeitas a outras regras de procedimento. No caso delas, decidiu-se, a necessidade de sexo era menor, por isso deveriam levar vida mais casta.

“Essa ideia estava em choque com toda cultura anterior desde a Bíblia, que apontava a mulher como naturalmente lasciva, incapaz de conter seu desejo sexual”, disse a ÉPOCA Faramerz Dabhoiwala, historiador da Universidade de Oxford, autor de As origens do sexo – uma história da primeira revolução sexual (Editora Globo, 687 páginas), monumental estudo sobre o sexo na Grã-Bretanha e na América do Norte entre os séculos XVI e XVIII. “Ainda somos tão influenciados pelo período iluminista que reproduzimos até suas contradições, como tratar de forma diferente a sexualidade de mulheres e homossexuais.”
O livro de Dabhoiwala, recebido com aplausos e prêmios no mundo anglo-saxão, revê radicalmente a história da liberdade sexual. Em vez de invenção dos jovens cabeludos dos anos 1960, que incendiaram as ruas de Paris e tomaram as pastagens de Woodstock pelo direito de transar sem casar, ele a atribui a uma conquista de libertinos e prostitutas dos anos 1700, que lutavam nas ruas de Londres e na Justiça contra a polícia dos costumes. O resultado prático desse embate é sintetizado numa estatística: em 1650, apenas 1% das crianças inglesas nasciam fora do casamento. Em 1800, esse número subira para 20%. “Como na época não havia contraceptivos, essa é uma evidência forte de que as pessoas faziam mais sexo. Em todas as classes sociais” afirma Dabhoiwala.

Os antecedentes, o contexto e os detalhes dessa transformação vertiginosa constituem o material de As origens do sexo. Sua narrativa começa em tempos sombrios como o ano de 1654, “quando Susan Bounty foi condenada por adultério em Devon (e) pediu misericórdia em virtude de sua gravidez. Ela conseguiu permissão para gestar o bebê até o fim. Pouco depois de dar à luz e segurar seu filho, o bebê foi tirado de seus braços e ela foi carregada até o patíbulo. Depois da execução da mãe (por enforcamento), a criança foi enviada ao pai viúvo, Richard”. Dez anos antes, em Boston, na colônia inglesa de Massachusetts, haviam sido executados os jovens James Britton e Mary Latham. Doente, ele julgava ter sido punido por tentar (sem conseguir) seduzir Mary. Confessou seu “crime” aos magistrados, que mandaram chamar a moça e a interrogaram. Ela negou ter feito sexo, mas foi condenada da mesma forma. Na hora da execução, ao lado de James, Mary admitiu em lágrimas que pecara e exortou outras jovens a evitar o mesmo caminho. “Ela foi enforcada pelo pescoço até a morte”, escreve Dabhoiwala. “Tinha 18 anos.”
300 anos de avanço em busca do prazer (Foto: Getty Images)
Essas duas cenas de barbárie reúnem os elementos essenciais da vida pré-moderna, abolidos pela cultura contemporânea. O Estado, antes do século XVIII, tinha o direito de se imiscuir no comportamento íntimo das pessoas, porque não existia a noção da privacidade do corpo ou da vida. Tudo era público, e discutido publicamente, segundo os preceitos da religião e das leis, que se misturavam arbitrariamente. O Estado tinha o direito de investigar, julgar e executar, com base em ritos sumários, que dispensavam a necessidade de evidências factuais e testemunhos isentos. As pessoas eram condenadas por “fama” e “circunstâncias suspeitas”.

Se uma mulher casada permanecesse com outro homem que não fosse seu marido entre quatro paredes, poderia ser condenada à morte por adultério. Se um jovem solteiro de “má fama” fosse acusado de incidir sexualmente sobre uma mulher (ainda que solteira), poderia ser preso, açoitado e exilado por “fornicação”. O sexo entre homens, tratado pelo termo bíblico de sodomia, era punido com a morte. A polícia dos costumes e uma rede vigilante de delatores comunitários cuidavam para que as regras fossem implementadas sem desvios.

Um dos fundamentos desse mundo repressivo era a concordância coletiva em torno de seus valores. O público acreditava que o sexo fora do casamento era pecado. Tinha certeza de que Deus as puniria por seus erros. Concordava que a comunidade tinha o direito de vigiar e denunciar infratores, pois eles poderiam colocar a coletividade em desgraça junto a Deus. Havia vozes que se levantavam para defender que não havia erro em fazer sexo, mas eram tímidas e esporádicas. No livroTrópico dos pecados, que trata da inquisição sexual no Brasil no final do século XVI, o historiador Ronaldo Vainfas mostra que, mesmo na colônia desregrada, sujeita a controle social mais frouxo que nas metrópoles, a maioria moral prevalecia. “Para cada homem que negava haver pecado na fornicação”, escreve Vainfas, “vários diziam o contrário, advertindo o suposto herege e não raro denunciando-o à Inquisição.”

Dabhoiwala mostra como a combinação de uma série de novidades históricas acabou com a unanimidade moral. Primeiro, diz ele, veio o crescimento das cidades. Vigiar e punir, em metrópoles como Londres e Paris, tornou-se virtualmente impossível. O autocontrole das comunidades rurais de 200 pessoas não era aplicável a cidades com quase 1 milhão de habitantes. Depois houve as guerras religiosas entre protestantes e católicos, a partir do século XVI. Elas abriram a porta ao dissenso radical das ideias que levaria, gradualmente, ao rompimento do fundamentalismo religioso e ao questionamento da ordenação divina da sociedade. Por fim, emergiu desse caldeirão de ideias e fatos a noção de indivíduo, onde antes havia apenas Deus, a família e a comunidade. O indivíduo abstrato, com seus direitos e aspirações, passou a ocupar o centro das atenções dos intelectuais e agitadores políticos. É a esse novo homem, um igual entre iguais, que se dirige o preâmbulo da Constituição americana de 1787, ao afirmar o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade.

Quando o médico austríaco Sigmund Freud publicou Três ensaios sobre a sexualidade, em 1905, e estabeleceu a importância do impulso sexual sobre o comportamento humano, houve escândalo e discordâncias. Mas a balança moral já se inclinara em direção à liberdade. Mesmo atacado, Freud podia dizer, anos depois: “A moral sexual – como é definida pela sociedade, e em sua forma mais extrema pelos americanos – parece-me muito desprezível. Defendo uma vida sexual incomparavelmente mais livre”. No tempo dele, a repressão sexual ainda era forte, mas não era mais exercida pela polícia. Ficara a cargo da educação, da família e da religião. Tornara-se ideológica – e podia ser combatida abertamente.

Freud trabalhava sobre a herança de gigantes intelectuais como o enciclopedista Denis Diderot (1713-1784), nas palavras de Dabhoiwala, um “obcecado” pelas questões da moral sexual. “Os iluministas acreditavam que o sexo estava no coração daquilo que definia a humanidade. Ele era absolutamente essencial ao projeto iluminista”, diz Dabhoiwala. “Eles consideravam o sexo como o prazer mais importante da vida, fundamental ao propósito da felicidade.”

Passados 300 anos, é possível identificar esses valores nas ideias que ouvimos e repetimos todos os dias. O sexo evoluiu da condição de pecado para a de manifestação inevitável e saudável de vida. A tolerância em torno dele, seja profissional, seja amador, tornou-se universal. A última barreira é o preconceito contra homossexuais, mas ele perde espaço em toda parte. Apenas nas sociedades pré-modernas, em que o fundamentalismo religioso e os comportamentos tradicionais ainda vigoram, persistem a proibição sexual e as patrulhas do comportamento. Mesmo em países como Arábia Saudita e Irã, a repressão ao sexo está sob pressão. Os fatores que levaram às mudanças na Europa do século XVII – o crescimento das cidades, a educação das mulheres e a difusão incontrolável das ideias – estão presentes também nessas sociedades. É impossível afirmar que o resultado será o mesmo, mas parece provável. A única forma de progresso inventada pela humanidade exige um grau cada vez maior de liberdade para homens e mulheres. E mais liberdade, como ficou claro em 1700, leva, inevitavelmente, a mais sexo.
Fonte:http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2013/09/primeirab-revolucao-sexualb.html


A revolução sexual e as novas formas de dominação


Entre os anos 60 e 70 eclode o fruto tão lentamente amadurecido: a chamada “revolução sexual”. Nesta história, um novo ato se abre com o desembarque da pílula anticoncepcional ao Brasil. Livres da sífilis e, ainda, longe da AIDS, os jovens podiam experimentar de tudo. O rock and roll, feito sobre e para adolescentes, introduzia a agenda dos tempos: férias, escola, carros, velocidade e, o mais importante, amor! A batida pesada, a sonoridade e as letras indicavam a rebeldia frente aos valores e a autoridade do mundo adulto. Um desejo sem limite de experimentar a vida hippie, os cabelos compridos se estabelecia entre nós. As músicas de Bob Dylan, Joan Baez exportavam, mundo afora, a idéia de paz, sexo livre, drogas como libertação da mente e, mais uma vez, amor. Os países protestantes, – EUA, Inglaterra e Holanda- consolidavam uma desenvoltura erótica, antes desconhecida. Tudo isto junto, não causou exatamente um milagre, mas somado a outras transformações econômicas e políticas, ajudou a empurrar algumas barreiras.
Insisto, só algumas…Nas capitais e nos meios estudantis, os jovens vão escapando às malhas apertadas das redes familiares. Encontros em torno de festas, festivais de música, atividades esportivas, escolas e universidades, cinemas e, após a II Guerra, a multiplicação de boates e clubes noturnos deixam moças e rapazes cada vez mais soltos. Saber dançar tornou-se o passaporte para o amor. “Banho de lua” e “Estúpido Cupido”, na voz de Celly Campello, representavam tentativas de adaptação deste mundo, um mundo novo e esforçadamente rebelde.
A moral sexual se flexibilizava e casais não casados, eram cada vez mais aceitos, já podendo circular socialmente. A sexualidade ainda era vivida como um pecado, aos olhos da Igreja, mas um número crescente de católicos – e, em 1950, 93,5% da população se declarava apostólica romana – começava a acreditar que amor e prazer podiam andar juntos. O Concílio do Vaticano II e a encíclica Gaudium et Spesconvidavam a olhar o mundo com simpatia e compreensão. Falava-se em paternidade responsável, em planificação familiar por meio de métodos naturais e, muito importante, em amor conjugal: o amor entre esposos como um bem incalculável para os filhos, a interação entre amor físico e espiritual e a renovação contínua do amor. Uma agenda, sem dúvida, revolucionária e generosa para seu tempo.
Por influência dos meios de comunicação e, sobretudo, da televisão, o vocabulário para dizer o amor, passa a evitar eufemismos. Embora nos anos 60 ainda se utilizasse uma linguagem neutra e distante para falar de sexo – mencionavam-se, entre dentes, “relações” e “genitais” -, devagarzinho, se caminhou para dizer coito, orgasmo e companhia. Os adolescentes ainda eram “poupados” pelos adultos, de informações mais diretas.  As relações no cotidiano dos casais começaram a mudar. Ficava longe o tempo em que os maridos davam ordens às esposas, como se fossem seus donos. Um marido violento não era mais o dono de ninguém, mas, apenas, um homem bruto.
Mas novas formas de dominação, mais insidiosas vão se esboçando. A mulher não se submetia mais por pressão familiar ou social, mas, por amor, pois com a chegada dele, chegam também todas as formas de manipulação afetiva; entre elas o ciúme doentio.
Carícias se generalizavam e o beijo mais profundo – o beijo de língua ou French Kiss – antes escandaloso e mesmo considerado um atentado ao pudor passava a ser sinônimo de paixão. Na cama, novidades. A sexualidade bucal, graças aos avanços da higiene íntima, se estende a outras partes do corpo. As preliminares ficam mais longas. A limpeza do corpo e certo hedonismo já latente, alimentam carinhos antes inexistentes. Todo o corpo-a-corpo amoroso torna-se possível. No quarto, a maior parte das pessoas ficava nua. Mas no escuro. Amar ainda não era se abandonar. É bom não esquecer que os adultos dos anos Sessenta foram educados por pais extremamente conservadores. Regras de pudor muito estritas lhes devem ter sido inculcadas. Na moda, a minissaia começava a despir os corpos. Lia-se William Reich, segundo quem o nazismo e o stalinismo teriam nascido da falta de orgasmos. A ideia de que os casais, além de amar, deviam ser sexualmente equilibrados começa a ser discutida por alguns “prá frente”. Era o início do direito ao prazer para todos, sem que as mulheres fossem penalizadas ao manifestar seu interesse por alguém.
Era o início do fim de amores que tinham que parar no último estágio: “quero me casar virgem”! Deixava-se para trás a “meia-virgem”, aquela na qual as carícias sexuais acabavam “na portinha”. As mulheres começavam a poder escolher entre desobedecer às normas sociais, parentais e familiares.
Uma vez acabado o amor muitos casais buscavam a separação. Outros faziam mais fácil: tinham um “caso”. E deste ponto de vista, o adultério feminino era uma saída possível, para quem não ousasse romper a aliança. Muitos “casos”, sobretudo nas elites, sustentavam casamentos burgueses e sólidos. Maridos e mulheres, com vidas paralelas, encontravam nas “garçonniéres”, apartamentos secretos para encontros amorosos, o espaço para relações afetivo-sexuais que já não existiam dentro do matrimônio. Na maior civilidade, “tinha-se um caso” com o melhor amigo do marido ou com a melhor amiga da mulher. O importante era não dividir os patrimônios: o material e o simbólico. O patrimônio simbólico bem representado em nomes de família tradicional, em posições profissionais de projeção, em carreiras públicas, enfim, no status que seguia impoluto, sem a mancha do divórcio, do lar desfeito ou da consciência pesada.
- Mary del Priore.
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O rock and roll e liberação dos jovens.

Fonte:http://historiahoje.com/?p=4983


Revolução sexual: direito ao prazer?


Entre os anos 60 e 70 eclodiu o fruto tão lentamente amadurecido: a chamada “revolução sexual”. A liberação significou a busca de realização no plano pessoal e a consciência de que “problemas sexuais” não teriam lugar num mundo “normal”. Ao defender a ideia do “direito ao prazer”, nossos pais fabricaram um tipo de sofrimento: o que nascia da ausência do prazer. Ao mesmo tempo, tinha inicio a democratização da beleza – graças à multiplicação de produtos, academias de body building, consultórios de cirurgia plástica etc -, fato que tanto levou à busca do bem estar quanto às tensões e frustrações por não encontrá-lo. Junto, mas, lentamente, forjava-se a intolerância à doença, à fragilização dos corpos e ao envelhecimento. Sexualidade em dia e saúde davam-se as mãos. O “direito ao prazer” tornou-se norma. E norma cada vez mais interiorizada. Apenas conformando-se a essa regra seria possível sentir-se feliz, alegre e saudável.
Nesta história, um novo ato abriu-se com o desembarque da pílula anticoncepcional ao Brasil. Livres da sífilis e, ainda, longe da AIDS, os jovens podiam experimentar de tudo. O rock and roll feito sobre e para adolescentes, introduzia a agenda dos tempos: férias, escola, carros, velocidade e o mais importante, amor! A batida pesada, a sonoridade e as letras indicavam a rebeldia frente aos valores e a autoridade do mundo adulto. Um desejo sem limite de experimentar a vida hippie e os cabelos compridos se estabelecia entre nós. As músicas de Bob Dylan, Joan Baez exportavam, mundo afora, a idéia de paz, sexo livre e drogas como libertação da mente. Os países protestantes, – EUA, Inglaterra e Holanda – consolidavam uma desenvoltura erótica, antes desconhecida. Tudo isto junto, não causou exatamente um milagre, mas somado a outras transformações econômicas e políticas, ajudou a empurrar barreiras.
Nas capitais e nos meios estudantis, os jovens escapavam às malhas apertadas das redes familiares. Encontros multiplicavam-se em torno de festas, festivais de música, atividades esportivas, escolas e universidades, cinemas. Os palavrões, antes proibidos, invadiram a cena, inclusive dos teatros. E o alastramento de boates e clubes noturnos deixavam moças e rapazes cada vez mais soltos. Saber dançar tornou-se o passaporte para o amor. “Pode vir quente que eu estou fervendo”, na voz do “Tremendão” Erasmo Carlos e “Gostosa”, na das Frenéticas (“sei que eu sou bonita e gostosa…), representavam tentativas de adaptação a um mundo novo e esforçadamente rebelde. Nelson Rodrigues, conhecido jornalista e escritor reagia:
“Nunca se viu uma época mais pornográfica do que a nossa. Aconteceu uma com um amigo meu que considero simbólica. O meu amigo, já quarentão, apaixonou-se por uma menina de 21. Menina “prá frente”, claro. E o meu amigo ia largar a família…Até que um dia vai encontrar-se com a bem-amada; ela não lhe disse nem “oba”. Sem que, nem para que, recebeu-o com uma saraivada de palavrões jamais concebidos. Meu amigo rebentou em soluços”. E concluía: “Eu me lembro da geração anterior. Havia uma cerimônia solene entre o brasileiro e o palavrão, havia como que uma solenidade recíproca. O palavrão tinha sua hora certa e dramática. Vejo hoje, meninas, senhoras, de boca suja e nas melhores famílias. Diria que o palavrão se instalou entre os usos mais amenos e familiares da cidade”.
Por influência dos meios de comunicação e, sobretudo, da televisão, também o vocabulário passou a evitar eufemismos. Embora nos anos 60 ainda se utilizasse uma linguagem neutra e distante para falar de sexo – mencionavam-se, entre dentes, “relações” e “genitais” -, devagarzinho, se caminhou para dizer coito, orgasmo e companhia. Os adolescentes ainda eram “poupados” pelos adultos, de informações mais diretas.  As relações no cotidiano dos casais começaram a mudar.
Carícias se generalizavam e o beijo mais profundo – o beijo de língua ou French Kiss – antes escandaloso e mesmo considerado um atentado ao pudor passava a ser sinônimo de paixão. Na cama, novidades. A sexualidade bucal, graças aos avanços da higiene íntima, se estendeu a outras partes do corpo. As preliminares ficaram mais longas. A limpeza do corpo e o hedonismo alimentavam carinhos antes inexistentes. Todo o corpo-a-corpo amoroso tornava-se possível. No quarto, a maior parte das pessoas ficava nua. Mas no escuro. Amar ainda não era se abandonar. É bom não esquecer que os adultos dos anos 60 foram educados por pais extremamente conservadores.
Na moda, a minissaia despia as coxas. Lia-se William Reich, segundo quem o nazismo e o stalinismo teriam nascido da falta de orgasmos. A ideia de que os casais, além de amar, deviam ser sexualmente equilibrados começava a ser discutida por alguns “prá frente”. Era o início do direito ao prazer para todos, sem que as mulheres fossem penalizadas ao manifestar seu interesse por alguém.
- Mary del Priore.
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Minissaia: a moda companhando as mudanças da sociedade.

Fonte:http://historiahoje.com/?p=3307


Mulheres: sexo, corpo e liberdade


No Dia da Mulher: receberemos flores, homenagens e outros mimos. Malgrado o aspecto comercial da data, acho que é uma ocasião propícia para refletirmos um pouco sobre a situação da mulher nos dias de hoje. Acredito que conquistamos muita coisa, principalmente se fizermos uma análise de longo prazo: há um século não podíamos votar e vivíamos sob a tutela legal de pais e maridos. Conquistamos o mercado de trabalho, colhemos os frutos da revolução sexual e da pílula anticoncepcional. Não é pouco.
Mesmo assim, ainda sofremos com velhos e novos problemas, como a violência doméstica, estupro e abuso sexual, salários inferiores aos dos homens, acúmulo de tarefas (trabalhar, cuidar da casa e da educação dos filhos). O mundo da internet trouxe muitas coisas boas, mas também os ataques virtuais, em que a intimidade feminina é exposta por vingança. Em contrapartida, aprendemos a reagir: não nos calamos mais frente a ofensas e agressões. A luta, porém, continua desigual. A História é feita de permanências e mudanças. Sei que a frase está longe de ser original, mas é correta. Ainda há um longo caminho até acabarmos com a mentalidade machista.
Segmentos conservadores da sociedade se empenham em querer dominar nossos corpos e mentes. O Congresso e o poder público se recusam a discutir o aborto como um problema de saúde pública, insistindo em impor uma moral hipócrita a todas nós. Somos julgadas pelas nossas roupas, pela nossa profissão, pelo nosso modo de agir e falar. Somos cobradas por não ter filhos, ou por tê-los e não sermos mães perfeitas. Somos pressionadas a seguir um padrão de beleza inatingível. Continuamos a ser tratadas como objetos sexuais pela mídia e por parte dos homens.
Frente a tudo isso, vemos um movimento feminista fragmentado, em que vários grupos se colocam frente a problemas mais específicos – o que a meu ver está longe de ser negativo. Mulheres negras, homossexuais, trabalhadoras, intelectuais, pobres e ricas, todas têm colocado suas demandas de uma forma ou de outra. Queremos ser respeitadas e, principalmente, queremos ter liberdade de escolha.
Parece meio ultrapassado falar em busca da liberdade em pleno século XXI, mas sinto que caímos em novas armadilhas que nos limitam. Mary del Priore fala sobre o assunto. “A liberação significou a busca de realização no plano pessoal e a consciência de que ‘problemas sexuais’ não teriam lugar num mundo ‘normal’. Ao defender a ideia do ‘direito ao prazer’, nossos pais fabricaram um tipo de sofrimento: o que nascia da ausência do prazer”, destaca a historiadora.
Concordo plenamente: se ontem éramos cobradas para sermos santas, para não gostar de sexo e ter vergonha dos nossos corpos; hoje temos que ser “máquinas sexuais”, e ainda temos que exibir corpos sarados e atraentes. Envelhecer é quase uma doença. A professora Rachel Soihet, da UFF, especialista em história do feminismo, lembra que “O corpo da mulher não precisa ser associado à sexualidade ou à invasão. Os homens andam sem camisa sem problemas. Mas, claro, há a religião e uma série de tabus que associaram o corpo da mulher apenas á sexualidade”. (em entrevista à Revista de História da Biblioteca Nacional, nº 113).
O Brasil parece, à primeira vista, um país muito bem resolvido em relação à nudez e ao sexo. Carnaval, gente em trajes minúsculos nas praias e nas piscinas, roupas ousadas e alegres, revistas que estampam famosas e anônimas em poses sensuais, músicas com letras maliciosas. Liberais? Nem tanto.  Fazer top less, por exemplo, ainda é tabu. Já estive em outros países em que mulheres de todas as idades mostram os seios sem nenhum problema. Jovens ou mais velhas, em forma ou não. Aqui, mostrar o peito é “sensualizar” sempre. Até amamentar em público causa desconforto. Não é à toa que muitos movimentos de mulheres têm focado na questão do corpo e da nudez (o Dia da Minissaia é um caso). Em pleno século XXI, há homens e mulheres (e são muitos) que acham que quem usa roupa provocante está “pedindo” para ser assediada ou coisa pior.
O nosso corpo ainda é visto como objeto e, digo mais, como mercadoria. Veja bem: ser objeto é, por definição, não ter vontade própria, é ser “coisa”, algo inanimado, que pode ser usado em determinadas circunstâncias. O sujeito é quem faz uso do objeto. Almejamos ser protagonistas, escolher, queremos dizer sim ou não, de acordo com a nossa vontade. E mais: queremos também fazer as perguntas, tomar as iniciativas. Temos direito de ir ao bar ou à festa da faculdade, e beijar quem quisermos, ou não beijar ninguém. Podemos nos vestir como nos agrada, sem ter que ficar justificando nossas preferências. Se estivermos interessadas em sexo, deixaremos isso claro, se não estivermos, também o faremos.
Será que é pedir muito?
- Márcia Pinna Raspanti.
banhoturcoingres
“O Banho Turco” (1862), Jean-Auguste Dominique Ingres


Quando “ser solteiro” é uma escolha…


A revista Vox Objetiva publicou uma reportagem sobre a escolha de ser solteiro nos dias de hoje. Contribuímos com a perspectiva histórica da questão. Confira no link abaixo:
Para quem se interessa pelo assunto, segue outro artigo sobre o tema:
As mulheres sozinhas sofrem com o preconceito e a discriminação desde os tempos coloniais. O papel da mulher era bem definido na sociedade que se formava: esposa e mãe, de preferência com uma prole bem extensa. Quem não se adequasse a este modelo era mal vista. A promiscuidade sexual era tão condenada quanto o celibato.  Uma mulher que não usufruísse de uma vida sexual regrada – dentro do casamento obviamente- poderia ser acometida por doenças terríveis: melancolia, histeria, ninfomania, febres e achaques. Frágeis, as mulheres, diferentemente do sexo oposto, tinham a necessidade física de procriar. Já os homens, podiam viver sem uma companheira tranquilamente, sem que isso afetasse sua saúde física ou mental.
Uso a expressão “mulher sozinha” porque, é bom destacar, ser solteira tinha um significado bem diferente naqueles tempos. A solteira era aquela que não tinha marido, nem família que a defendesse. Era a mulher pública, que podia ser seduzida, abandonada ou mesmo violada. A carga pejorativa do termo já existia na península ibérica desde o século XV, de acordo com Ronaldo Vainfas, em “Trópico dos Pecados”.
Mary del Priore, em “ Ao Sul do Corpo”, destaca que as “solteiras do mundo, vítimas ou metáfora para o desregramento, viviam no avesso das mulheres que alegavam honra, recato e honestidade, como faziam as boas e virtuosas mulheres.  As santas e honestasdistinguiam-se daquelas que eram públicas amancebadas”. Se as mulheres dadas à luxúria eram mal vistas, as “direitas” que não se casavam não tinham melhor sorte. Gregório de Matos, poeta baiano do século XVII, as descrevia de forma cruel, como “donzelas embiocadas, maltrajadas e malcomidas”.
Não havia muitas alternativas, como vemos. Se não fosse casada e honrada, a mulher seria classificada como prostituta ou como solteirona enrustida. As amancebadas, caso adotassem um comportamento devotado ao marido e à família, podiam gozar de umstatus semelhante ao das casadas. Lembremo-nos de que o concubinato era muito comum na Colônia, mesmo porque devido às grandes despesas envolvidas, a população mais pobre não tinha condições de casar-se da forma que a Igreja exigia.
A situação não muda muito no século XIX e nem no início do XX. Em uma época em que havia mais homens que mulheres, aquelas que não conseguiam um companheiro eram vistas com desconfiança. Deveria haver algo de errado com elas…”Numa sociedade em que as mulheres, nasciam, cresciam e casavam, para ter filhos, a donzelona era aquela que não cumpria as regras. Que se colocava fora do lugar certo. Que falhara. E tudo isso, com tanta discrição, que era como se não existisse. Quanto mais idade, pior. Uma mulher de trinta anos era considerada ‘moça velha’ e, portanto, não mais ‘amável’. Não sendo capaz de inspirar um casamento, ela também não impunha respeito”, conta Mary del Priore, em “Matar para não morrer”.  A partir dos 22 anos, quem não casava era estigmatizada como “moça-velha”.
A sociedade era cruel com essas mulheres: elas se tornavam alvo de zombarias e desprezo. Os médicos acreditavam que o celibato era uma das causas principais da histeria, uma grave doença que atingia o sexo feminino. Nesse período, surge uma opção de trabalho “honesto” para aquelas que não se casavam: o magistério. A caricatura da professora solteirona, séria e amarga, se torna popular. Jornais a retratavam assim, como uma mulher pouco atraente que, sem ter os próprios filhos, dedicava-se a tomar conta dos filhos dos outros.
Nas primeiras décadas da República, com o surgimento das primeiras feministas, estas passaram a ser associadas ao celibato. O feminismo, por sua vez, era ligado a feiura e masculinização. A imprensa, mais uma vez, ajudava a estigmatizar essas mulheres, retratando-as como mal amadas e sem atrativos, cuja única vingança possível contra a sociedade que as desprezava era lutar pela emancipação feminina.  Se tivessem filhos e marido para cuidar, certamente não se preocupariam com essas coisas, acreditava-se. Na verdade, a mulher instruída, culta e que lutasse por seus direitos assustava a sociedade de então.
A mulher brasileira só iria atingir a tão sonhada liberdade com a revolução sexual dos anos 70 e a conquista do mercado de trabalho. A independência financeira abriu uma série de possibilidades antes impensáveis, como, por exemplo, ser sozinha por opção. As mulheres podiam se divorciar, abrindo mão de um casamento que não lhes trouxesse felicidade. Ou simplesmente não se casar ou não ter filhos, em nome da sua liberdade ou mesmo da carreira.
Mesmo assim, até hoje, conheço mulheres, de diferentes idades e profissões, incluindo muitas leitoras do nosso blog, que se queixam da grande pressão que existe para que elas se casem e tenham filhos. Ainda existe preconceito contra quem decide ser sozinha ou não quer constituir uma família. Há mulheres maravilhosas, instruídas, bem sucedidas, que ainda se sentem inferiorizadas por não serem casadas ou não terem um relacionamento “sério”. A cobrança ainda é forte. Já o homem solteiro, em muitos casos, é visto com inveja por não ter sido “fisgado”. Enfim, a História é feita de mudanças e permanências…
Márcia Pinna Raspanti.
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Casamento de princesa Isabel e conde D’Eu; fotos de casamentos, no final do século XIX e início do XX.
Fonte:http://historiahoje.com/?p=4694

O “gay power” e a vitimização do “macho”


No final dos anos 60, os papéis femininos e masculinos começavam a ser discutidos. Um exemplo  de como estes temas eram tratados é a revista Ele&Ela, nascida em 1969, num contexto cultural conturbado, quando discussões sobre o uso de LSD, a revolução sexual, e o feminismo davam o tom do debate público. A revista surgiu exatamente como alternativa moderna para o leitor interessado nas questões novas. É interessante notar que a identidade masculina começava, também, a ser problematizada. A revista não deixava de lado, na sua discussão sobre a mudança dos costumes, o impacto que tais transformações causavam no homem. Uma delas dizia respeito à “efeminação do homem moderno”, no artigo “Até que ponto o homem é feminino?”:
No início, somente os rapazes duvidosos davam à boa apresentação o cuidado que era próprio das mulheres. Hoje, a maioria dos homens demora mais diante do espelho e submete-se a tratamentos quase femininos”.
Tais questões, entretanto, não se radicalizaram até surgir, no discurso da revista, o movimento gay, ou Gay Power – ao que a revista se referia como o “poder alegre”. Ao buscar dar visibilidade e legitimidade para o “amor entre pessoas do mesmo sexo”, – como dizia a revista -, o “poder alegre” causou um impacto na hegemonia da masculinidade tradicional. Mas ao contrário do feminismo, – tratado quase como uma curiosidade – a homossexualidade e qualquer expressão sua, nunca teve aceitação sendo invariavelmente tachada de “desvio” e de “doença”.
Embora a revista se visse forçada, dentro da sua proposta de dar conta da questão, informando sobre as quantas andava o gay power nos EUA e na Europa, a tradição conservadora falava mais alto. E da mesma forma como tratou de forma ambígua o feminismo, a revista abordava termos como “gay”, de forma distanciada. Numa tradução literal, preferia chamar os gays de “alegres”. Ao abordar os temas do movimento gay, o preconceito era tão forte, que a maneira mais simpática e neutra com a qual a revista se referia à questão era: “a mais discutida e possivelmente a mais disseminada forma de desvio do comportamento sexual humano”.
No artigo “As tristezas do Poder Alegre” a linguagem utilizada é propositadamente irônica em diversos trechos, quase ridicularizando as pretensões do movimento: “De uns tempos para cá, e aproveitando as reivindicações do grupos minoritários da sociedade, surgiu um movimento que a si próprio se intitulou de “poder alegre”. Na verdade, não se trata de um poder, nem chega a ser alegre. O movimento procura legalizar o homossexualismo, conferindo-lhe um status de absoluta normalidade humana. Aqui, analisamos a dura realidade dos fatos”.
A ironia com a qual a revista tratava a questão aparecia também numa seção de cartas, na qual um leitor de São Paulo escrevia:
“[pai]- Meu filho anda muito preocupado com as suas amizades. Tem rapaz assim em volta dele – e isso o impede de namorar as moças de sua idade. Reconheço que ele é muito bonito, mas não creio que seja anormal.
[Ele Ela] – O caso é delicado, seu João de Deus. Por mais amizades masculinas que seu filho tenha, sempre haveria tempinho para dar umas voltas com moças, desde que ele quisesse mesmo. O fato de o senhor achar seu filho muito bonito é bastante inquietador. Se o senhor acha isso, imagina os outros que não são pai dele! Da próxima vez que tiver filhos, faça-os bem feios, pois assim o senhor ficará sem este peso na consciência”.
A revista que deveria ser inovadora, aberta aos ventos da contemporaneidade só lia a homossexualidade na chave da aberração e se aceitava discursos a favor destas práticas, o fazia, inevitavelmente, com humor irônico. O comportamento gay parecia-lhe ser algo por demais ridículo, para ser levado a sério. Já em 1971, viam-se os primeiros sinais de repulsa ao feminismo e de revolta contra as “minorias”. O discurso tradicional transformara o homem em vítima e buscava salvá-lo da destruição, como afirma o artigo “Homem, com orgulho”:
“De uns dez anos para cá, ser macho é sinônimo de grosso, cafona e superado. As minorias se somam e formam um todo quando o assunto é derrubar o homem-homem. Contra estes preconceitos é preciso que alguma coisa seja feita. E já – antes que as minorias o destruam e ele passe a ser um marginal da história e da vida”.
Os gays, continuavam sob os fogos do preconceito. Mesmo ao som de Ney Matogrosso e seu “Vira, vira, vira homem/ Vira, vira? Vira, vira, lobisomem”, eles e elas continuavam presos aos velhos esquemas. Mundo mudando? Lá fora. Cá entre nós, para a grande maioria de mulheres e homossexuais, só mudava no papel…- Mary del Priore.
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Ney Matogrosso: mudanças na imagem masculina.
Fonte:http://historiahoje.com/?p=3337

A revolução sexual depois da pílula: o lado negro amplamente ignorado

Aprendemos com Thomas Sowell que quando se trata de questões sociais, não há soluções definitivas, apenas “trade-offs”. Pensei nesse ensinamento ao ler Adam and Eve After the Pill, de Mary Eberstadt. Trata-se de uma leitura instigante mostrando o lado mais sombrio da revolução sexual que foi possível após a invenção da pílula anticoncepcional.
O lado positivo todos conhecem e repetem aos quatro ventos. A mulher é mais independente, não precisa ser submissa ao marido, os gays gozam de mais direitos e liberdade, muitos tabus acerca do sexo foram derrubados, etc. O problema é que a geração da década de 1960 prometeu mundos e fundos com toda essa libertação sexual que simplesmente não se concretizaram. Ao menos não para muita gente, principalmente nas camadas sociais mais baixas.
Sou da tese de que o pêndulo exagerou. Da era vitoriana mais repressora chegamos ao paraíso dos libertinos, onde “vale tudo” e quase não existem mais tabus para serem derrubados (à exceção, talvez, do incesto e da pedofilia, sendo que há controvérsias sobre o último). Por isso considero o livro importante para o debate sobre valores morais, ainda que não concorde com tudo.
A autora parece crer que não é irreversível o que aconteceu, e que seria viável recolocar o gênio na garrafa. Não só discordo disso, como não acho que seria tão desejável assim regressar aos tempos anteriores à pílula. Há conquistas reais. O que não nos impede, como já mencionei, de olhar e encarar o lado negro da coisa. Ele também existe.
Para Eberstadt, a situação é análoga ao ambiente ideológico da Guerra Fria. O fracasso comunista era um fato empírico, estava diante de todos que quisessem enxergar, mas ainda assim muitos, especialmente os “sofisticados” da elite, adotaram postura neutra quando não endossaram o regime. Ao menos o anti-anticomunismo foi muito forte: era coisa de reacionário condenar tal ideologia responsável pela desgraça de milhões de pessoas.
Havia uma vontade deliberada de desacreditar nas evidências do retumbante fracasso comunista. Para a autora, o mesmo ocorre hoje, só que com a revolução sexual. Inúmeros dados empíricos e pesquisas apontam para problemas graves provenientes da revolução sexual, mas a maioria insiste em ignorá-los ou fingir que não estão, de forma alguma, atrelados ao fenômeno em si.
Indicadores como taxas crescentes de divórcio, doenças sexualmente transmissíveis, consumo de drogas da juventude, casos de estupro, abortos etc., mostram que algo saiu pela tangente nessa promessa de paraíso após a libertação sexual. Estudos mostram, ainda, que as crianças, principalmente de baixa renda, são as que mais sofrem com esse cenário: apresentam menor probabilidade de desempenho positivo em várias medidas de qualidade de vida.
Eis algumas coisas que estudos e pesquisas demonstram estatisticamente: mulheres cujos maridos são os chefes de família (provedores) tendem a ser mais felizes do que outras mulheres; homens casados tendem a trabalhar e ganhar mais do que homens solteiros; promiscuidade na juventude parece estar fortemente relacionada ao fracasso educacional e problemas como uso de drogas e álcool; crianças (principalmente meninas) cujas mães são divorciadas ou solteiras têm maior probabilidade de sofrer abuso sexual em casa do que crianças com os pais biológicos casados; etc.
Tudo isso afeta, evidentemente, de forma desigual por faixa de renda. A revolução sexual costuma ser muito celebrada entre as pessoas mais “sofisticadas” da elite, mas seu custo maior recai sobre os mais pobres. Charles Murray mostrou bem isso em seu livro Coming Apart, e Theodore Dalrymple tem sido um autor incansável no esforço de expor a realidade nada glamourosa da vida nas comunidades pobres nos tempos modernos.
A outra vítima maior da revolução sexual, além das crianças, são as próprias mulheres. Quem precisa conviver com o aborto e ficar deprimida depois são elas; quem sofre o maior impacto financeiro no divórcio são elas; quem precisa normalmente educar os filhos quando o parceiro vai embora são elas; etc. Tudo isso, não custa repetir, tende a se agravar bastante quando falamos de comunidades mais pobres, onde a mãe solteira não desfruta de um exército de babás e empregadas para ajudá-la, não é, enfim, uma Madonna ou Jane Fonda da vida.
Outro efeito da revolução sexual é o que passou a ser chamado de “adultescência”: adultos cada vez mais agindo como adolescentes. A modernidade vendeu a ideia de que era possível praticar sexo livre à vontade sem pagar preço algum por isso. Os homens celebraram, claro. Muitos deles, porém, viram-se incapazes de sair da eterna adolescência, de assumir maior responsabilidade por suas vidas e de seus dependentes.
A explosão da pornografia é outro corolário disso. A autora faz uma curiosa, mas interessante analogia entre o tabaco na década de 1950 e a pornografia hoje. Os papeis se inverteram por completo. Havia um estigma moral que condenava a pornografia naquela época, enquanto o cigarro era amplamente aceito como a coisa mais natural do mundo, consumido em tudo que é lugar. Hoje ocorre o oposto: fumar é moralmente condenável, enquanto todos assumem que a pornografia é parte normal do cotidiano das pessoas, e que ninguém tem nada com isso.
Pesquisas e pareceres médicos, porém, mostram que há correlação entre o consumo crescente de pornografia e a perda de libido em relação a mulheres reais, quase sempre a própria esposa. Maridos desinteressados nas suas mulheres e esposas frustradas que fogem para o chocolate levam ao aumento da taxa de divórcio, que por sua vez afeta negativamente as crianças e as mulheres.
Viciados em pornografia existem em quantidade cada vez maior. Homens românticos, em quantidade cada vez menor. Esse seria o paradoxo do mundo pós-moderno: hoje é mais fácil do que nunca conseguir sexo (o que tem oferta abundante costuma ter baixo valor de mercado), mas o contrário parece ser verdade para o romance. Talvez este seja o enigma central para os homens e mulheres modernos: desejo por romance em uma época de fartura sexual.
O filósofo Roger Scruton, na mesma direção, apontou para o risco real da pornografia: aqueles que se tornam viciados nessa forma de sexo sem risco correm o risco da perda do amor, em um mundo onde somente o amor traz a felicidade genuína. Aqueles que substituíram todos os propósitos mais elevados pelo sexo hedonista invariavelmente encontraram apenas um grande vazio existencial: seres humanos não são como os porcos selvagens.
Ironicamente, a farta literatura sobre o assunto mostra que as feministas, líderes da revolução sexual, são as mais insatisfeitas com seus resultados práticos. Livros abundam sobre o sofrimento feminino na modernidade, sobre o descontentamento com o sexo, a reclamação de homens que não prestam e não tratam mais as mulheres com dignidade, etc. Em muitos casos, o subúrbio é retratado como um campo de concentração, os homens como estupradores, as crianças como um fardo intolerável e o feto como um parasita. Não há nada parecido do lado masculino.
Em resumo, a revolução sexual inegavelmente reduziu os laços familiares, enfraqueceu a própria instituição do casamento, e como vários estudos demonstram, tais laços são importantes para indicadores sociais e para a qualidade de vida das crianças. Isso faz com que o assunto não seja, portanto, apenas individual, e sim do interesse de toda a sociedade.
O livro termina mostrando que há movimentos de reação, principalmente por parte dos mais jovens, das vítimas dessa libertação sexual excessiva ou inconseqüente, aqueles que pagam justamente o preço dos lares destroçados. Uma espécie de Geração X Conservadora começa a surgir em alguns lugares, valorizando aquilo que seus pais não valorizavam mais: a família tradicional.
Ninguém sabe o que vai acontecer daqui para frente. Mas uma coisa parece inegável: a revolução sexual está longe de ter apenas um lado positivo, ou de ter entregado as promessas de felicidade feitas na década de 1960. Olhar abertamente para o lado negativo, portanto, é crucial para que excessos sejam podados e males sejam evitados. Há um elefante na sala e todos fingem que ele não existe. Passou da hora de falar sobre ele…
Rodrigo Constantino

Fonte:http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/cultura/a-revolucao-sexual-depois-da-pilula-o-lado-negro-amplamente-ignorado/

5 exemplos de que a revolução 

sexual nos “divorciou” uns dos outros

A liberdade não consiste em fazer o que bem se entende, 

mas em poder fazer com autonomia o melhor a ser feito


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J.K. Califf 

Como podemos entender o casamento e a família hoje, com tantas perspectivas contraditórias? Primeiro, temos que entender como foi que chegamos até este ponto. Quase tudo o que o casamento unia foi separado, como resultado da chamada “revolução sexual”. Vejamos 5 exemplos:

1. O sexo foi “divorciado” dos filhos

A proliferação da pílula anticoncepcional nas décadas de 1950 a 1970 espalhou a mentira de que o sexo pode ser praticado só por prazer e sem quaisquer consequências indesejadas – como filhos, por exemplo. São João Paulo II observou na Evangelium Vitae, porém, que o perigo da contracepção é que ela coloca a satisfação pessoal no centro do sentido da vida e promove um conceito egocêntrico de liberdade: uma liberdade divorciada da verdade.

A liberdade não consiste em fazer o que bem se entende, mas em poder fazer com autonomia o melhor a ser feito. Esta é a diferença entre uma suposta liberdade que nos torna escravos dos instintos e caprichos e a liberdade que nos desata deles através da disciplina e do autodomínio. Ao fingir que o sexo é estéril, não estamos vivendo de acordo com a verdade da pessoa humana, o que nos coloca num caminho de autodestruição. A banalização do aborto e as descabeladas “explicações” para o sofisma de que um ser humano em formação não é um ser humano em formação dão exemplo disso.

2. O sexo foi “divorciado” do amor

O escritor Fulton Sheen comenta: "No sexo, o masculino adora o feminino. No amor, o homem e a mulher, juntos, adoram a Deus. O sexo procura a parte; o amor, a totalidade". Na “cultura do ficar”, o sexo é visto como apenas mais uma atividade recreativa sem nenhum significado mais profundo. Favorece essencialmente os desejos sexuais masculinos, deixando para as mulheres uma sensação maior de desconexão. Essa “cultura” tem produzido mais doenças sexualmente transmissíveis e gravidezes indesejadas, aumento da violência sexual e uma série de problemas emocionais e psicológicos que se tornam barreiras para o amor autêntico.

3. O amor foi “divorciado” do compromisso

O amor não é mais visto como uma ação, uma promessa e um compromisso ancorado na vontade. É baseado em uma mentalidade hedonista que o vê como uma emoção, um sentimento intangível construído na mente e apoiado por “borboletas no estômago” e pela atração física. O divórcio fez com que os casais pudessem separar-se por qualquer motivo, baseando-se erroneamente na ideia de que o casamento é um mero tipo de “romance adulto”.

4. O casamento foi “divorciado” dos filhos
Quase a metade dos primeiros filhos que nascem hoje nos Estados Unidos tem mãe solteira. Com a “normalização” das coabitações, diminui a estabilidade familiar, o que, por sua vez, leva à existência de mais famílias monoparentais. As estatísticas norte-americanas sugerem que essas famílias são mais propensas a sofrer a pobreza e que as crianças que crescem sem contar com ambos os pais são mais propensas a usar drogas, a cometer crimes, a ter filhos na adolescência e a ser presas.

5. Os filhos foram “divorciados” do sexo

O contrário da contracepção e do aborto é a ideia de que os filhos são um “direito”. Com as tecnologias reprodutivas, como a doação de óvulos e de esperma, a fertilização in vitro e a barriga de aluguel, não é mais a relação sexual que gera os bebês, e sim as clínicas de fertilização. Filhos podem ser um “empreendimento comercial”, legalmente autorizado a satisfazer desejos de adultos.

Este é o mundo em que vivemos. Os casais católicos que eu preparo para o casamento não estão imunes a esta realidade. Muitos deles já coabitam. Entre os católicos em geral, apenas 3% a 5% praticam o planejamento familiar natural.

Cabe a nós restaurar o que foi destruído e isto começa com a resposta para esta pergunta: "O que é o casamento?".

Nas palavras do escritor Ryan T. Anderson, o casamento sempre existiu para unir um homem e uma mulher como marido e esposa abertos a se tornarem pai e mãe dos filhos que essa união pode gerar de forma natural.
O casamento se baseia na verdade antropológica de que homens e mulheres são diferentes e complementares; no fato biológico de que a reprodução requer um homem e uma mulher; na realidade sociológica de que as crianças merecem uma mãe e um pai e se desenvolvem melhor quando são criadas pelos seus pais biológicos. Para nós, católicos, o casamento também foi elevado a sacramento, tornando-se, além de tudo isso, uma verdade teológica.

O casamento é um símbolo do amor de Cristo pela sua esposa, a Igreja. A graça do Espírito Santo nos capacita a nos doar uns aos outros como Cristo se doa à Igreja: livremente, fielmente, frutuosamente, completamente.
Tenhamos orgulho da beleza e da verdade do matrimônio!

Fonte:http://www.aleteia.org/pt/sociedade/artigo/5-exemplos-de-que-a-revolucao-sexual-nos-divorciou-uns-dos-outros-5907643432435712?page=2

HISTÓRIA RETROSPECTIVA DA REVOLUÇÃO SEXUAL

Revolução sexual

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Passeata feminista em Washington, D.C., em1970.
A revolução sexual (também conhecida globalmente como uma época de "liberação sexual") é uma perspectiva social que desafia os códigos tradicionais de comportamento relacionados à sexualidade humana e aos relacionamentos interpessoais. O fenômeno ocorreu em todo o mundo ocidental dos anos 1960 até os anos 1970.1 Muitas das mudanças no panorama desenvolveram novos códigos de comportamento sexual, muitos dos quais tornaram-se a regra geral de comportamento.2
A liberação sexual incluí uma maior aceitação do sexo fora das relações heterossexuais e monogâmicas tradicionais (principalmente do casamento).3 A contracepção e a pílulanudez em público, a normalização da homossexualidade e outras formas alternativas de sexualidade e a legalização do aborto foram fenômenos que começaram a ganhar força nas sociedades ocidentais.4 5
O termo "revolução sexual" tem sido utilizado pelo menos desde o final da década de 19106 e é muitas vezes atribuído como sendo influenciado pelos estudos de Freud sobre a liberação sexual e as questões psico-sexuais.Freud, entretanto, considerava todo ato sexual cujo propósito não fosse reprodutivo como uma perversão.7 8
Pessoas celibatárias não eram críticas de outras pessoas que escolheram os caminhos do "amor livre" e da "liberalização sexual."9 No final dos anos 1970 e 1980, a recentemente conquistada "liberdade sexual" foi explorada pelo grande capital que procurava lucrar numa sociedade mais aberta, com o advento da pornografia pública e da pornografia hardcore.10
O historiador David Allyn argumenta que a revolução sexual foi o momento da sociedade "sair do armário": em relação ao sexo antes do casamento, masturbaçãofantasias eróticas, o uso da pornografia e dasexualidade.1

Histórico


A artista holandesa Phil Bloom em 1967, conhecida como a primeira pessoa que ficou completamente nua em um programa de televisão.
A revolução sexual pode ser vista como uma conseqüência de um processo na história recente, apesar de suas raízes poderem ser rastreadas até o Iluminismo (Marquês de Sade) e a era vitoriana (poemas de Algernon Charles Swinburne de 1866). Seu desenvolvimento aconteceu no mundo moderno, que assistiu a uma perda significativa do poder de valores de uma moral enraizada na tradição cristã e à ascensão das sociedades permissivas, que começam a aceitar uma maior liberdade e experimentação sexual que se espalham por todo o mundo, fenômenos sintetizado pela expressão amor livre.
O período do puristanismo da Guerra Fria, dizem alguns, levou a uma rebelião cultural na forma da "revolução sexual". Apesar disso, no entanto, antes da década de 1920 e durante a era Vitoriana, a sociedade era muito mais conservadora do que nos anos 1930 e 1950. Devido à invenção da televisão e do seu uso cada vez mais amplo, a grande maioria dos estadunidenses tinham um aparelho de televisão na década de 1960.
Este dispositivo de comunicação de massa, juntamente com outros meios de comunicação como rádio e revistas, podia transmitir informações em questão de segundos a milhões de pessoas, enquanto que apenas algumas poucas pessoas ricas influentes controlavam o que milhões de pessoas que iriam assistir. Alguns têm agora a teoria de que talvez esses meios de comunicação social tenham ajudado a difundir essas novas idéias entre as massas.
A difusão dessas novas ideias para a população através das mídias foi radical e durante o final dos anos 1960 a contracultura estava se tornando bem conhecida no rádiojornaistelevisão e outros meios de comunicação.
Um dos gatilhos para a revolução sexual moderna foi o desenvolvimento da pílula anticoncepcional, em 1960, que deu o acesso das mulheres à contracepção fácil e confiável. Outro fator provável eram as vastas melhorias em obstetrícia, o que reduziu o número de mulheres que morrem durante o parto o que, portanto, aumentou a expectativa de vida das mulheres.
Outros dados sugerem que a "revolução" foi mais diretamente influenciada pela independência financeira adquirida por muitas mulheres que entraram na força de trabalho durante e após a Segunda Guerra Mundial, fazendo com que a revolução fosse mais sobre a igualdade individual ao invés da independência biológica. Muitas pessoas, no entanto, dizem que é difícil apontar uma causa específica para este fenômeno de grande porte.11

Revoluções modernas


Embalagem semi-usada de pílulas anticoncepcionais.
Revolução Industrial no século XIX e o crescimento da ciênciatecnologiamedicina e saúde, resultou em melhores métodos anticoncepcionais. Os avanços na fabricação e na produção da borracha tornou possível a concepção e produção de preservativos que podem ser usados por centenas de milhões de homens e mulheres para evitar a gravidez a um custo reduzido.
Avanços na produção de aço e na imunologia tornou o aborto prontamente disponível e menos perigoso. Avanços em químicafarmacologia e em conhecimentos de biologia e fisiologia humana levaram à descoberta e ao aperfeiçoamento dos primeiros anticoncepcionais também conhecido como "pílula". Comprar ou adquirir um afrodisíacos e/ou brinquedos sexuais se tornou "normal". O sadomasoquismo ("S&M") ganhou popularidade e odivórcio unilateral tornou-se legal e fácil de obter em muitos países durante os anos 1960 e 1970.
Todos estes desenvolvimentos tiveram lugar em paralelo e combinados com um aumento da alfabetização em todo o mundo e o declínio das práticas religiosas. Antigos valores, como a noção bíblica de "crescei-vos e multiplicai-vos" foram postos de lado conforme as pessoas continuaram a se sentir alienadas pelo passado e aprovavam o estilo de vida da modernização da cultura ocidentalizada.
Outro fator que contribuiu para esta revolução mais moderna da liberdade sexual foram os estudos de Herbert Marcuse e Wilhelm Reich, que assumiu a filosofia de Karl Marx e outros filósofos, e misturou à liberdade dos direitos sexuais e à cultura moderna.
Quando se fala de revolução sexual, os historiadores fazem uma distinção entre a primeira e a segunda revolução sexual. Na primeira revolução sexual (1870-1910), a moral vitoriana perdeu seu apelo universal. No entanto, não levou ao surgimento de uma "sociedade permissiva". Exemplar para este período é o aumento e diferenciação nas formas de regulação da sexualidade.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. ↑ Ir para:a b Allyn, 2000.
  2. Ir para cima Time, 1967.
  3. Ir para cima Escoffier, 2003.
  4. Ir para cima Germaine Greer and The Female Eunuch
  5. Ir para cima http://www.greenwood.com/catalog/GR9913.aspx The 1960s Cultural Revolution.
  6. Ir para cima The term appeared as early as 1929; the book Is Sex Necessary?, by Thurber & White, has a chapter titled The Sexual Revolution: Being a Rather Complete Survey of the Entire Sexual Scene.
  7. Ir para cima Freud, Sigmund. Introductory Lectures on Psychoanalysis (1915–17): Lecture XX: The Sexual Life of Human Beings. [S.l.: s.n.].
  8. Ir para cima Neu, Jerome. The Cambridge Companion to Freud. [S.l.: s.n.], 1997. p. 187. ISBN 052137779X
  9. Ir para cima Dudley 2000, pp. 203–206. Timothy Miller notes that the counterculture was a "movement of seekers of meaning and value...the historic quest of any religion." Miller quotes Harvey Cox, William C. Shepard, Jefferson Poland, and Ralph J. Gleason in support of the view of the hippie movement as a new religion. See also Wes Nisker's The Big Bang, The Buddha, and the Baby Boom: "At its core, however, hippie was a spiritual phenomenon, a big, unfocused, revival meeting." Billy Bob Joe Nisker cites the San Francisco Oracle, which described the Human Be-In as a "spiritual revolution".
  10. Ir para cima http://www.amazon.com/gp/reader/1560255250/ref=sib_dp_pt/104-9728303-1778302#reader-link/ Sexual Revolution by Erica Jong, Jeffrey Escoffier, Fred W. McDarrah.
  11. Ir para cima Alan Petigny, "Illegitimacy, Postwar Psychology, and the Reperiodisation of the Sexual Revolution" Journal of Social History, fall 2004

Bibliografia


A Revolução Sexual

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A Revolução Sexual (1936) (Sexuality in the Culture Struggle no original alemão) é um livro de Wilhelm Reich.1 2 O subtítulo é Para a Restruturação socialista dos Humanos. Esta duplicidade de título reflete a estrurura em duas partes do trabalho; a primeira parte analisa a crise da moral social burguesa e as tentativas de reforma sexual que preservavam a estrutura da sociedade capitalista e ideologia da família e do casamento. A segunda parte (ligada ao subtítulo) reconstrói a história da revolução sexual que ocorreu no establishment da União Soviética desde 1922, e que teve resistência de Stalin no final dos anos vinte2 .

Diferenças entre edições

A edição de 1945 mudou inexplicavelmente o título para A Revolução Sexual (ao passo que o título anterior era Sexualidade no Esforço Cultural). Esta mudança afetou não apenas a perspectiva mas também a metodologia, resultando numa apresentação deturpada do real trabalho contido no livro3 . Mais instrutiva foi a mudança no subtítulo: para Em Direção a uma Estrutura Autorreguladora.
As edições, desde 1945, também tiveram alguns ardis, mudanças de terminologia e abusos de editores, alguns dos quais tiveram a intenção de disfarçar a orientação revolucionária comunista, para evitar ofender o suscetível público americano4 . Houve também relevantes omissões e mudanças de conteúdo; enquanto a edição original (1936) baseou sua teoria na rejeição da família, enquanto instituição, as versões amenizadas rejeitaram apenas a estrutura familiar autoritária, buscando substituí-la por uma melhor e mais natural forma de família5 . Outras omissões ou mudanças afetaram os termos envolvendo religiãoclasses sociais, políticas radicais de esquerda, burguesia, famíliamoralidadesexualidadeproletariado, etc6 .
Em 1992, o editor Italiano Erre Emme publicou, logo no primeiro momento, não apenas uma edição integral como a de 19367 , mas também revelou as integrações da edição de 1945, com o objetivo de permitir uma confrontação cientifica.6

Conteúdo

Na primeira parte, Reich explica que as neuroses sexuais derivam da falta de gratificação da sexualidade natural. A sexualidade natural torna-se insatisfeita e, como consequência, cria neuroses devidas à sua supressão pelo Estado autoritário. Para o autor, este Estado é melhor caracterizado como capitalista e baseado na unidade da família patriarcal, na qual cada pai representa a autoridade absoluta, tal como o Estado.
De acordo com Reich, o Estado autoritário usa várias ferramentas para suprimir de seus cidadãos a sexualidade natural. Tais ferramentas englobam o que o autor entende por conservadorismo e moralismo anti-sexual e incluem:
  • ideologia do casamento monogâmico e vitalício, chamado por Reich de casamento obrigatório.
  • A supressão da sexualidade infantil, citada como causa primária de desejos sexuais anormais e perversões ao longo da vida adulta.
  • Falta de educação sexual honesta e liberdade sexual entre adolescentes.
  • A Perseguição daquilo que venha a ser considerado anormal, como a homossexualidade.
  • A Ilegalidade do aborto.
  • O casamento como instituição legalizada e a falta de uma mais ampla gama de causas válidas para o divórcio.
Estes vários fenômenos fazem com que os cidadãos, além de reprimirem seus desejos naturais, criem novos, neuróticos, doentios desejos sexuais. O autor explica que ocorre uma realimentação entre a supressão/repressão de desejos naturais e o próprio aumento do poder do Estado autoritário.
O objetivo do Estado autoritário, seja consciente ou não, é preservar sua estrutura econômica através da continuidade da família patriarcal como sua unidade social primária. A família, segundo Reich, é essencial à estrutura econômica do capitalismo pois ela beneficia o capitalista assim como o preserva até a geração seguinte. O objetivo posterior é alcançado pela supressão da atração sexual infantil pelos pais, produzindo, por conseguinte, uma união reprimida à unidade familiar.
criança ambiciona relações familiares e imita o ascendente do mesmo sexo na criação da sua própria família. O capitalista tira proveito da unidade econômica da família por causa da dominação econômica do marido sobre a esposa, que é dependente daquele e trabalha em casa sem salário. Isto permite ao empregador do marido lhe pagar um salário menor pois o empregador não precisa levar em conta o custo que o marido teria para pagar uma doméstica ou babá. Esta falta de salário extra para o trabalho feminino tradicional e educação das crianças encoraja a mulher a ser econômica, ao passo que permite ao empregador ter mais capital para si próprio. O marido também tira proveito pois ele tem em casa o poder e autoridade que não necessariamente tem no trabalho.
No prefácio da edição de 1945, Reich diz que nossa estrutura familiar ocidental foi herdada da antiga estrutura patriarcal.
Fraenkel (1992) percebe que a suposta "revolução sexual", alegada para o ocidente desde o final dos anos 60, é uma impropriedade. Sexo não é realmente aproveitado livremente e isto é observado em todos os campos culturais ("dessublimação repressiva"8 ). Para deslocar-mos daquilo que seria nossa liberação sexual real, nós somos obrigados a modificar nossa estrutura mental e nossa inibição moral. Ao inverso, a moral judaico-cristã ainda permanece e pequenas mudanças sociais são exageradas pois são vistas sob foco. Inclusive muitos que se declaram ateus simplesmente secularizaram e internalizaram os mesmos antigos preceitos morais9 .
A ideologia burguesa tinha um poderoso desejo que os adolescentes atingissem a maturidade sexual e fosse reprimidos à abstinência sexual. Para justificar esta triste privação, que era base de sua infelicidade, toda forma de justificativa não científica e até ridícula era apresentada10 . Este fenômeno, entretanto, não acontecia em sociedades que não tinham uma forte influência da ideologia patriarcal, marcada pela agricultura mecanizada, como mostram estudos antropológicos interculturais11 . Tais sociedades são controvertidamente chamadas "primitivas" pelos ocidentais.
Entre os antropólogos que estudaram tais povos e chegaram a conclusões similares, se encontram Bronisław Malinowski, com seu trabalho de 1929, A Vida Sexual dos Selvagens na Melanésia OcidentalPloss-Bartels12 , Havelock Ellis 13 , Hans Meyer14 .
Há um esforço para impedir que pubescentes deem início à atividade sexual. Isto inclui sonegar-lhes acesso à informação. A chamada educação sexual é praticamente um engodo que foca a biologia, dissimulando os aspectos da excitação, que os interessa mais, e esconde o fato de que suas preocupações e dificuldades se originam do impulso não satisfeito15

Nota

Referências

  1. Ir para cima Fraenkel 92, p.9
  2. ↑ Ir para:a b Fraenkel 92, p.11
  3. Ir para cima Fraenkel 92, pp. 12–14
  4. Ir para cima Fraenkel 92, p.15
  5. Ir para cima Fraenkel 92, p.17
  6. ↑ Ir para:a b Fraenkel 92, p.18
  7. Ir para cima La rivoluzione sessuale, editions Erre Emme, Rome 1992.
  8. Ir para cima Herbert Marcuse (1964) One-Dimensional Man, pp. 59, 75–82 [1] [2] [3] [4]
  9. Ir para cima Fraenkel 92, p.19
  10. Ir para cima Reich 1936, Part one "the failure.." 6. The puberty problem — (1°) "The puberal conflict" (pp. 158–159 of Italian edition)
  11. Ir para cima Eagly and Wood (2002)
  12. Ir para cima Ploss-Bartels (1902) Das Weib [5]
  13. Ir para cima Havelock Ellis Sex in Relation to Society
  14. Ir para cima Meyer. "Das Sexualleben bei den Wahehe und Wossangu" (Geschlecht und Gesellschaft, XIV Jahrg., H. 10, S. 455)
  15. Ir para cima Reich 1936, Part one "the failure.." 6. The puberty problem — (3°) "A reflection.." — c. sexual relationships of pubescents — paragraph 4.a (pp. 198–199 of Italian edition)

Bibliografia

  • Fraenkel, Boris (1992) Introduction to the Italian version for publisher Erre emme

Ver também

Ligações externas

Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Revolucao_Sexual

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