COMO É O TRATAMENTO PARA VICIADOS EM SEXO

"Ninfomania", o filme de Lars don Trier que trouxe a tona a compulsão sexual (Foto: divulgação)

a compulsão sexual 
(Foto: divulgação)


Um sexpert no rehab: repórter relata sua experiência no grupo de terapia

Já se perguntou como é o tratamento pra viciados em sexo? Igor Zahir foi até o D.A.S.A e conta todos os detalhes a seguir



Quem me conhece sabe que sou apaixonado por sexo – e não falo apenas do apetite sexual. Sinto prazer em estudar, pesquisar, montar projetos, parcerias e escrever sobre o assunto. Mas isso, você que acompanha essa seção do nosso site, sabe muito bem. Imagine, então, o quanto meus olhos brilharam quando fui encarregado da missão de falar sobre a “reabilitação” de viciados em sexo! Pra realizar a tarefa, fui a uma reunião do D.A.S.A (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos), que funciona exatamente como outros grupos de auxílio pra viciados que querem sair de situações difíceis.

Chegando lá, me deparei com a cena já conhecida em filmes e novelas: umas 10 pessoas sentadas juntas em círculo, enquanto um deles dá as boas vindas, outro fica responsável por explicar as instruções da noite (o anonimato e não julgar cada situação explícita ali é uma das dicas mais importantes) e começa a reunião. Abaixo, alguns trechos de depoimentos que me chamaram atenção:

[Élcio, corretor de imóveis, 38 anos]
“Todos os dias tento lembrar porque vim aqui a primeira vez. Exercito isso pra não fazer certas coisas com as quais não consigo conviver depois de feitas. Já faz 17 anos que frequento D.A.S.A e faço terapia pra tratar meus vícios em sexo e álcool. Hoje estou solteiro, entrei no período de abstinência sugerido pelo grupo, mas dia desses tive uma recaída. Perdi de fazer uma venda lucrativa porque estava há 14 horas assistindo pornografia e me masturbando. Claro que, depois disso, fiquei muito mal e depressivo. Às vezes sinto que ando, ando...e volto pro mesmo lugar. Por isso sempre volto: em busca de mais 24 horas longe do vício”.

Um dos sintomas de ninfomania é se submeter a experiências desconfortáveis ou dolorosas (Foto: divulgação)
Um dos sintomas de ninfomania é se submeter a experiências desconfortáveis ou dolorosas (Foto: divulgação)

[Thayla, 28 anos, estudante]
“Sou uma D.A.S.A em tratamento e me orgulho de estar aqui em mais uma reunião. Há três anos vim aqui pela primeira vez por um motivo: não consigo manter um relacionamento pois sou viciada em sexo – tenho um apetite sexual compulsivo, fora do comum – e além disso, sou dependente de amor. Carente, possessiva e doentia (hoje eu admito). Também é bom saber que venho superando meus ‘demônios’, como comprovei esses dias. Conheci um rapaz na mesma igreja que frequento. Ele estava com a mulher e os filhos. Mas era tão bonito, tinha um físico tão atraente, comecei a fantasiar. O fato dele ser casado, evangélico e ter uma família de ‘comercial de margarina’ poderia ser um balde de água fria pras pessoas. Pra mim, beirou o fetiche. Mas me segurei. Tirei o foco desse pensamento e lembrei o quanto sou vitoriosa. Passei esse ano sem me relacionar com ninguém, até porque ninguém me aguenta. Nos três primeiros meses eles acham que sou apenas cuidadosa e superprotetora. Após isso, veem que na verdade é meu ciúme doentio e insegurança que domina. Junte isso à minha compulsão sexual. Como preciso fazer sexo todo santo dia, acredito que se o cara que me namorar passar um dia sem sexo, é porque ele tem outra. Não, não é normal. Mas como falei, me considero uma vitoriosa e só voltarei a me relacionar com alguém quando estiver segura de que me curei do mal”.

[Leo, 36 anos, profissional autônomo]
“Preciso começar abrindo o jogo: detesto esse lugar. Não gosto de vir aqui, me sinto uma merda, humilhado por minha fraqueza. No entanto, reconheço que é o único lugar que eu posso vir, desabafar, sem ser julgado, criticado ou olhado de igual pra igual, sem sentirem pena. Meu vício começou quando fui abusado sexualmente na infância pelos meus pais – ele alcoólatra e ela também uma compulsiva sexual. Cresci com as marcas daqueles traumas. Me tornei uma pessoa agressiva, que não fica com ninguém porque só quer tudo do seu jeito. O que se torna mais duro ainda, pois acabo buscando sexo em pessoas desconhecidas e que não precisam conhecer meu lado bruto, visto que não passará de uma transa. Mas quando venho ao D.A.S.A, parece que saio daqui me sentindo mais leve, sem querer alimentar esse vício. Agora, me relacionei com uma garota de 14 anos. Não achei que ela fosse tão jovem, me parecia ter uns 19. Resultado: estou sendo processado pelos pais da menina por abusar de uma menor de idade. Parece ironia: eu que cresci sendo abusado sexualmente e sofrendo abusos psicológicos por parte dos meus pais, agora sou acusado de fazer a mesma coisa”.

Auto-diagnóstico
Durante a reunião, me entregaram panfletos que explicam tudo a respeito da dependência em amor e sexo. Uma parte listava perguntas que ajudam as pessoas a identificarem se são viciadas em sexo ou não. Quer ver alguns exemplos?

- Você faz promessas ou estabelece regras pra si mesmo em relação a seu comportamento sexual ou amoroso e percebe que não pode cumprir?
- Você se sente desesperado ou ansioso quando está longe de seu companheiro sexual?
- Já perdeu as contas dos parceiros sexuais que teve?
- Sente que não está “realmente vivo” se não fizer sexo?
- Você já ameaçou a sua estabilidade financeira ou posição na sociedade ao manter um parceiro sexual?
- Se flagra flertando ou sendo sedutor com alguém mesmo quando não tem essa intenção?
- Você se sente desconfortável em relação a sua masturbação por causa da frequência, das fantasias relacionadas, dos acessórios que usa ou dos lugares em que pratica?
- Já se envolveu em prática de voyeurismo, exibicionismo, etc, de forma que lhe trouxeram desconforto ou dor?
- Tem dificuldades em se concentrar em outras áreas de sua vida por causa de pensamentos ou sentimentos relacionados a sexo?
- Alguma vez sentiu que sua sexualidade afeta a sua espiritualidade de forma negativa?

Fonte:http://revistaglamour.globo.com/Amor-Sexo/Sexpert/noticia/2014/11

Comentários