De meras reprodutoras a vadias!
A novela Gabriela da Rede Globo mostrou claramente o quanto as mulheres evoluíram no âmbito sexual e comportamental, desde aquela época, na década de 1920, até os dias atuais. Passaram de meras reprodutoras a ‘putas na cama e damas na rua’. O ato sexual deixou de ser exclusivamente para gerar filhos, herdeiros aos nossos maridos. Conquistaram o direito ao prazer.
Hoje podem dizer a eles: “quero sexo”. Tudo é resultado da revolução sexual que vem mudando conceitos desde os anos 60. O surgimento da pílula anticoncepcional abriu as portas para o sexo feito com gosto, capaz de gerar satisfação. Aquele ato sexual por obrigação ficou para trás.
No início do século passado, moças de família estudavam apenas até completar o ensino médio. Algumas nem estudavam, mal sabiam ler e escrever. Existiam também as analfabetas. As mulheres não podiam ler, nem ter vontades. Deveriam saber cozinhar, cuidar da casa, do marido e ser extremamente submissas. Homem não lavava nenhum copo em casa, não cuidava dos filhos… essas eram “obrigações” das mulheres. Lógico, existiam casos isolados, exceções, mas a maioria era totalmente dependente do marido, praticamente uma escrava que só servia pra aumentar a família. Não podiam trabalhar fora, tinham que ser espelho da sociedade para as solteiras e algumas até apanhavam dos homens. As relações eram basicamente: eles podem tudo, elas têm que obedecer e servir ao marido. Sem reclamar.
Existiam as solteiras, as casadas, as viúvas e as dos bordeis. As solteiras mal estudavam, não podiam aprender profissão, se não tivesse família era motivo de desrespeito, pois era o pai que arrumava casamento. Elas deveriam se casar com quem o pai escolhesse. Pronto. Era essa a regra. As casadas tinham obrigações somente com casa, marido e filhos. Quando chegava visita em casa, a mulher logo era convidada a se retirar da sala ou ordenada a fazer um café. Os homens eram comerciantes ou fazendeiros e as esposas não podiam dar pitaco nenhum nos negócios deles, nem questionar nada. Eles podiam ficar em botecos e elas não deveriam passar nem perto. As que não conseguiam engravidar eram inúteis, ignoradas, maltratadas pelo marido. Mesmo que o fator de infertilidade fosse masculino (naquela época não se admitia nunca uma coisa dessas – homem era o ser perfeito, intocável) o problema sempre era a mulher. As que engravidavam, mas não dessem à luz um filho homem, também eram imprestáveis, porque “filhas só davam despesas e filhos que eram o orgulho da família”. As viúvas acabavam largadas, pois já tinham sido “defloradas” e tornavam desinteressantes, uma vez que só casavam bem as virgens. As dos bordeis eram a diversão dos homens. Era normal o marido largar a esposa em casa cuidando dos filhos e ir a um puteiro.
Porque a esposa devia ser respeitada. As putas não. Eles mal transavam com as esposas. Claro, certamente havia casos isolados, mas no geral era assim: esposa em casa, cuidando dos filhos e marido no puteiro, se divertindo. Os que não iam ao puteiro, eram mal vistos. Logo surgiam piadinhas de que eram gays. Caso fossem mesmo, apanhavam e eram deserdados.
As mulheres que eram pegas em adultério acabavam assassinadas “para lavar a honra do marido”. A verdade é que era um “sim senhor, meu marido” para lá e para cá. Como essas mulheres sobreviviam? Imagina. Ainda bem que essa de “sim senhor”, “como o senhor quiser” acabou. Ser submissa hoje em dia, é opção. Tomou outros formatos. Elas podem (e muitas vezes devem) trabalhar fora. Conquistaram espaço na sociedade, no mercado de trabalho, e na cama. Há muitas mulheres separadas ou mães solteiras que são independentes – o que era considerado um absurdo, virou motivo de orgulho . Evoluíram tanto que os homens compromissados, que não têm casamento aberto, só procuram puteiros se são sacanas ou se andam “mal servidos” em casa.
As mulheres modernas, que gostam de sexo, que não têm frescuras, perceberam que o caminho era se inspirar nas putas. Aprenderam com elas como se faz. Passam horas e horas lendo sobre sexo, pensando em novidades para o relacionamento. Abertas a falar de suas vontades, ouvir as deles. Fazem de tudo para realizar as taras de seus parceiros. Sentem-se satisfeitas ao vê-los gozar em sua boca após um boquete feito com gosto, ou quando metem no cu, gemendo, chamando-as de vadias. A modernidade permitiu essa libertação. É o que chamo de “lei do evolucionismo sexual”, que parece excluir as meninas frescas, que não gostam de sexo, que preferem “feijão com arroz”. Afinal, desde que o mundo é mundo, os homens, em sua maioria, são safados, tarados, querem sexo todo dia, em qualquer lugar e buscam cada vez mais parceiras que os deixem satisfeitos. O feminismo permitiu que elas tivessem também o direito de querer.
Ao comparar o padrão de mulher daquela época com o dos dias atuais, nota-se um enorme abismo. Hoje o desejo sexual feminino não é tão coibido ou evitado – muitas vezes, é incentivado. O rapaz adora quando sua namorada o começa a chupar enquanto ele joga videogame. Ao mesmo tempo, eles também ajudam cada vez mais nas tarefas domésticas. Elas vão à cozinha só de camiseta e calcinha enfiada na bunda, eles de cueca… e o sexo começa ali mesmo. Curtem assistir a um filme a dois e no meio da trama começarem a se masturbar – e deixar o filme para outro dia. Surpreender o parceiro no banho e provocar um gasto maior de água debaixo do chuveiro, ou passar horas e horas na banheira. Ir a um jantar a dois e dizer no ouvido dele “estou sem calcinha”. Mandar torpedos safados durante o dia, enquanto ambos estão trabalhando. E inúmeras atitudes que, se fossem há 50 anos, fariam que elas fossem violentadas e escorraçadas de casa – seriam motivo de vergonha.
Bendita hora em que alguém pensou nessa pílula, que alguma mulher teve a coragem de usar uma calça, de pôr uma saia curta, coragem de falar de sexo, de usar um batom vermelho. Hoje somos mais livres. Ainda existem restrições, mas houve grandes e significativas mudanças.Podemos dizer que gostamos sexo, rejeitar um homem, escolher nossos parceiros, ter um amigo para relacionamento puramente sexual, inovar na cama. Dar e receber prazer. Isso sim é viver! Deixamos de ser meras reprodutoras para ser fonte inesgotável de prazer. As que gostam de sexo estão vivendo uma mudança incrível. As que não gostam, só lamento profundamente.
Por Laura Rezende*
*Laura Rezende está sempre com um bom livro na bolsa. É viciada em escrever. Fala de sexo e relacionamento sem frescuras. Gosta de provocar reflexões; ainda que vez ou outra, gere polêmicas. Acredita no amor e na existência de príncipes encantados (apesar de estarem em extinção), pois tem um representante dessa espécie em casa. Mantém o blog Safadices. Outros artigos de Laura.
Fonte:http://lasciva.blog.br/atitude/de-meras-reprodutoras-a-vadias/
Comentários
Postar um comentário