Getty Images
Quem seduz quem?
Site "Olga" adverte: 83% das brasileiras odeiam ser cantadas. Será? Não odiei quando, caminhando pela praia, passei por dois homens pescando e ouvi um dizer para o outro: “A gente pode não pegar nem um peixe, mas em compensação vê cada sereia!” Quem deve cantar? O homem ou a mulher?
Pesquisa do site "Olga" mostra que 83% das mulheres brasileiras não gostam de ouvir uma cantada
O que quer uma mulher?, perguntou o dr. Freud. A Olga sabe. Ou pelo menos sabe o que as mulheres odeiam. Segundo pesquisa realizada por esse site, 83% das mulheres brasileiras o-dei-am ser cantadas. Sim, senhores.
No Brasil do século XXI Leila Diniz já estaria com sua faixa na manifestação: “Você não me representa”. E a "Garota de Ipanema", você acredita mesmo que ela preferiria ter sido abortada em vez de se transformar na cantada mais tocada no mundo?
Sei não. Será que essas mulheres vivem no mesmo mundo que deu fama e cama à cantada sem-vergonha “Ai se eu te pego” do Michel Teló? “Sábado na balada / A galera começou a dançar / E passou a menina mais linda / Tomei coragem e comecei a falar / Nossa, nossa / Assim você me mata / Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego / Delícia, delícia."
Não odiei nem fiquei ofendida quando, caminhando pela praia, passei por dois homens pescando e ouvi um dizer para o outro: “A gente pode não pegar nem um peixe, mas em compensação vê cada sereia!”.
Adriano, meu filho, escolheu a campeã. Estava com uma amiga quando um cara falou: “Oi, você é vizinha da minha avó". Ela disse não, nem morava ali, era de outro Estado. Vencida, enfim, a moça perguntou onde morava a avó do galanteador. O mancebo levou a mão ao coração dizendo: “Aqui”.
A sábia Miss Corações Solitários já suplicava aos novos Adões e Evas que andam usando aplicativo para marcar seus encontros: não deixem a cantada morrer. Foi uns meses atrás, quando o escritor e jornalista Xico Sá saiu em defesa da “sagrada arte da cantada”, dos “fragmentos do discurso amoroso”, da “dramaturgia da conquista”, do “suspense Hitchcock do xaveco”, da “incerteza que instiga e aumenta a fissura, a fome de tudo”.
NOVO ADÃO NÃO QUER LEVAR CANTADA, NÃO
Mas não é só a cantada que hoje provoca tumulto entre as filhas de Eva e os donos da costela originária, privilegiados pela parcialidade do Altíssimo na Criação. A cantada da dama, mesmo sendo comum, ainda é um tabu. O novo Adão não quer levar cantada, não.
É científico. Pesquisei com um amigo que fez questão de enfatizar: a “maioria” dos homens prefere dar cantada a receber. Nem adianta a cantora ser bela. “O homem se assusta em geral quando recebe cantada; no mínimo, perde o sabor. Fica fácil demais.” A velha Eva que habita o âmago do meu ser antiquado entendeu o que ele dizia.
Uma coisa puxa a outra e lá estava eu lembrando do Ulisses, um homem apaixonado pelas mulheres meio à la Bertrand do filme de Truffaut, “O Homem que Amava as Mulheres”. Mas Ulisses não era desse tipo de homem que ciscava uma transa e bye my love. Não, Ulisses queria o banquete completo, sonhava com o amor por inteiro, com suas dores e alegrias.
Com os olhos nas donzelas e a mão no interruptor da luz da razão, o moço bonito e romântico sabia da atração que sua figura – e seu poder – exerciam sobre o sexo frágil. Sempre alerta, remoía a sabedoria do nosso político defunto: “Eu não sou ministro, eu estou ministro”.
Se o poder era afrodisíaco para ele, imagina para a filha de Eva que o dr. Freud disse padecer da “inveja do pênis”. Passada a fervura provocada por essa definição das mulheres e do bate-boca com os feministas, é chegada a hora da serenidade.
Em vez de julgar o doutor, meditemos sobre suas palavras. Não foi pelo “roubo” ou apropriação indébita, digamos assim, que muitas resolveram o problema e que outras tantas continuam a vislumbrar o caminho? É sabedoria milenar, tá lá na Bíblia: foi a cabeça do profeta iluminado que Salomé pediu em troca de sua dança sedutora.
Mas como a luz da razão tem lá suas sombras, nosso Ulisses se esqueceu do truque do seu xará homérico e avançou pelo mar das Sereias sem tampar os ouvidos com a cera da prudência.Deu no que deu. Quero você, disse sua princesa, mas vamos ficar no ora veja, porque se eu brincar com fogo vou me queimar. Traduzindo: ai se eu te pego, delícia. Então neca de pitibiriba, a gente não vai nem provar o couvert. O canto fascinante, a declaração de amor velada enfeitiçou Ulisses de vez.
Perguntei: isso não se chama sedução? Se a donzela guardasse a verdade no seu cofrinho nada aconteceria. Bertrand alforriado do cativeiro amoroso focaria outros pares de pernas.
O macho atraente, moreno de modos elegantes, inteligência aguçada e humor afiado ficou mega surpreso quando soube que havia caído no canto da Sereia. Pois não era ele o cantor?
EVA SEDUZIU ADÃO, SALOMÉ EXIGIU A CABEÇA DE JOÃO BATISTA
No nosso imaginário cultural é sempre um ela que canta e encanta. A Sereia, com seu canto mortífero, arrasta os homens para a morte. Sua parente, a Esfinge de Tebas da lenda de Édipo, era um monstro fêmea “ávido de sangue e de sexo” que cantava seus enigmas. Os antigos a chamavam de A cantora e A Angustiante. Ela tinha o péssimo hábito de comer os moços tebanos até que Édipo a levou a se matar.
A mulher-maçã seduziu Adão. Salomé, a dançarina bíblica, exigiu a cabeça de João Batista. A mãe da princesa, Herodíades, largou o marido para ficar com o cunhado. Para os psicanalistas todo filho comete parricídio (o complexo de Édipo). Para onde a gente olha não tem jeito: o homem é sempre a vítima da eterna Salomé.
Por Márcia Neder*
*Marcia Neder é psicanalista, doutora e pós-doutora em psicologia clínica, escritora, autora de "Déspotas Mirins. O poder nas novas famílias", entre outros.
O que faz uma cantada agradar ou não?
Humor, inteligência e delicadeza diferenciam cantadas de rua agradáveis ou ofensivas
O documentário “Femme La Rue” , dirigido por Sofie Peeters, mostrou que as cantadas de rua na Bélgica e em outros países da Europa são consideradas agressivas e invasivas. O parlamento belga até aprovou uma lei, em vigor desde setembro de 2012, para tentar coibir a prática. Quem extrapola nas gracinhas por lá acaba levando multa.Aqui no Brasil, no entanto, a reação às cantadas não parece ser tão negativa. Pelo menos foi o que revelou a enquete feita com internautas do iG.
Respondendo à pergunta “O que você acha de ser cantada na rua?”, 49,23% das mulheres que votaram escolheram a opção “Depende da Cantada” e 26,37% responderam “Faz bem para a autoestima”. A alternativa “Acho agressivo e invasivo”, teve apenas 16,41% dos votos e a opção “É galanteador, não vejo problema” foi a menos votada, com 7,99% dos votos.
A primeira dúvida que surge é por que a cantada incomodaria menos as mulheres daqui do que as europeias? “No Brasil, existe a cultura do brincar. Acredito que as brasileiras têm condições de levar a cantada na brincadeira e por isso se incomodam menos”, opina a consultora, escritora e psicanalista Betty Milan.
Betty, aliás, avalia que se um homem aborda uma mulher de maneira agressiva, na verdade, não está ‘dando uma cantada’. “Quem canta quer aproximar o outro de si. Quem agride, afasta o outro”, distingue Betty, que é autora dos livros “E O Que É O Amor?” e “Quem Ama Escuta”, ambos lançados pela editora Record.
Além da pista de que as mulheres brasileiras encaram as cantadas de forma mais brincalhona, a alternativa mais votada da enquete, ‘Depende da cantada’, nos levou a consultar especialistas em comportamento amoroso para tentar descobrir o que torna uma cantada ‘boa’ para uma mulher e, assim, ajudar os rapazes a acertarem a mão.
“Se for inteligente e leve, a mulher vai gostar. Mesmo que não fique interessada especificamente no homem que deu a cantada. Ela vai se divertir, pelo menos”, aposta a psicóloga Eliete Amélia de Medeiros, diretora da agência de encontros Eclipse Love. “Se eu fosse homem, me valeria da provocação e procuraria despertar o riso, porque ele descontrai”, acrescenta Betty, lembrando que quem se expressa de maneira incomum e graciosa tem grandes chances de ter êxito.
Eliete, porém, ressalta que uma cantada tem grandes chances de dar errado se não for precedida antes por uma aproximação visual, como uma troca preferivelmente intensa de olhares. “O homem não deveria chegar de supetão e falar uma frase do nada, sem nenhum tipo de contexto. Isso vai causar constrangimento à mulher, que pode se sentir invadida”, avalia a psicóloga.
Contato visual feito, aí sim, vale a cantada. Nessa hora, o grande risco que eles correm é se afobar demais e errar a mão. “Um homem seguro, que fala com firmeza, tem muito mais chances de agradar uma mulher do que um indivíduo hesitante, que se atrapalha todo ao falar”, aponta o psicólogo e professor Universidade de São Paulo, Ailton Amélio, autor do livro “Relacionamento Amoroso - Como Encontrar Sua Metade Ideal e Cuidar Dela” (Publifolha).
Lembrando de um período marcante da história mundial, no qual os jovens ao redor do planeta desafiavam as instituições e a caretice dos mais velhos, Betty puxa na memória um exemplo de cantada que, ao mesmo tempo, a agradou e a provocou. “Em maio de 68, fui cantada por um homem que me disse ‘proibido proibir’ e eu fui na onda dele. Era o mote da época, uma frase que liberava e eu gostei”, conta a psicanalista.
Ao contrário do que se pode imaginar, enaltecer as características físicas e a beleza da mulher nem sempre é uma boa ideia. Eliete exemplifica, contando de uma conhecida com mais de 40 anos de idade que ouviu de um homem mais jovem algo como ‘Nossa, você está inteirona ainda, hein?’. “Ele provavelmente queria agradar e elogiar a boa forma física dela, mas, sem perceber, acabou chamando a mulher de ‘velha’, e ela, obviamente, não achou graça da brincadeira.”
Da mesma forma, as cantadas maliciosas em excesso têm pouquíssimas chances de agradar. “Um cara que grita e chama a mulher de ‘gostosa’ no meio da rua não vai conseguir nada com isso, além de causar constrangimento. No fundo, esse homem está só se exibindo”, pondera Amélio, denunciando o ‘estilo pavão’ de muitos marmanjos. “Talvez, ele não esteja nem preparado para replicar se ela corresponder à abordagem”, completa.
Essa grosseria da rua muitas vezes acaba invadindo as casas noturnas e baladas. “Nesses lugares, as cantadas funcionam, na maioria das vezes, como uma senha para homens e mulheres ‘ficarem’ sem intenção de compromisso futuro. Mas algumas pessoas bebem demais, perdem a linha e acabam sendo inconvenientes nas abordagens”, aponta Amélio.
Indelicadezas são desnecessárias, anotaram aí, moços? Anotem também outra dica de Ailton: numa abordagem a forma e o conteúdo não são as questões mais importantes. “No final, são só um pretexto para puxar o assunto. O que realmente importa é se os dois estão a fim de alguma coisa. Desde que não seja grosseira, a cantada nesse contexto, em geral funciona”, sentencia.
Amélio revela que as cantadas, na rua e nas baladas, não são a maneira mais eficiente de provocar um namoro, mas também não dá para descartar esse tipo de abordagem na construção de relacionamentos duradouros. “A maioria dos envolvimentos amorosos acontece por intermédio de amigos e conhecidos que acabam apresentando os pares", avisa o psicólogo. Segundo as estatísticas, ele conclui, “apenas 20% das relações mais longas começam com uma cantada”.
Algumas internautas do Delas apontaram as melhores e as piores cantadas que já ouviram. Veja quais são e coloque seus comentários lá no final:
As 5 melhores
Me joga no Google, me chama de pesquisa, e diz que eu sou tudo o que você procurava!
Vamos fazer um acordo. Eu te dou um beijo. Se você gostar, eu te dou outro. Se você não gostar, me devolve.
Você acredita em amor à primeira vista? Ou devo passar por aqui mais uma vez?
Não sabia que flor nascia no asfalto
Se beleza fosse um segundo, você seria 24 Horas
As 5 piores
Eu queria ser uma abelha pra beijar a sua flor!
Tá esperando o busão? Porque você tá no ponto!
Você faz aula de canto? Vamos ali no canto que eu te ensino
Você tem a barriga recheada com creme? Porque você é um sonho.
Vamos brincar de nuvem? eu fico Nu, e você VEM.
Por Ricardo Donisete
http://delas.ig.com.br/amoresexo/2012-09-01/o-que-faz-uma-cantada-agradar-ou-nao.html
Os limites da cantada
A linha que separa um elogio de uma ofensa é tênue. Cruzá-la pode ser motivo de constrangimento e até delito.
Às vezes, os homens exageram no que consideram recursos de sedução. O que eles consideram uma arma para se aproximar da pretendente acaba disparando no pé do galanteador e, mais do que levar um fora, ele deverá lidar com as consequências de uma ofensa - ou até de um delito.
Não existe uma cartilha completa que dite as melhores maneiras de abordar alguém, embora haja o consenso de que algumas cantadas são, infelizmente, desprezíveis. A linha que separa um elogio de uma ofensa pode ser muito tênue e cruzá-la pode ter implicações mais sérias, particularmente se a investida ocorrer no ambiente de trabalho, tendo como suporte a condição hierárquica ou uma posição privilegiada do assediador. Neste caso, trata-se de assédio sexual, e o delito está previsto no Código Penal.
Mas entre o elogio bem-vindo e o crime existe uma gama complexa que passa muitas vezes pelo desrespeito à mulher e pela simples grosseria. “Não configura o crime de assédio uma proposta sexual que não envolva a relação de poder entre as pessoas”, explica a advogada Juliana Perrella. “Poderá ser considerado apenas uma cantada de mau gosto”. Mas o mau gosto pode ofender e humilhar.
É o que torna o caso de Marcelo Mezzomo especial: recentemente, ele foi o primeiro juiz demitido pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul por ter feito cantadas consideradas impróprias para a funcionária de uma sorveteria. A advogada explica que, tendo uma autoridade constrangido alguém “valendo-se” de sua posição social privilegiada, a situação poderia ser configurada como incontinência de conduta, caracterizada pela insistência em razão da falta de aceitação. “Isso, a depender do caso, pode gerar uma situação desagradável ante um comportamento inoportuno”, diz Juliana.
Elogio é bom, agressividade incomoda O ex-juiz chegou a afirmar, em sua defesa, que seus avanços seriam considerados “normais” se não fosse sua posição. “Talvez o fato aqui não esteja especificamente ligado ao que é normal, mas, sim, ao que representa aos olhos masculinos”, ressalta a psicóloga e mestre em sexualidade humana, Maria Lúcia Beraldo. “Nesses casos, a cantada não é um recurso de sedução e, sim, uma forma agressiva de demonstrar sua atração sexual.
Sexo e agressividade estão relacionados no mundo animal, e somos animais; contudo, o que fará a diferença será a capacidade do indivíduo conter seus instintos e demonstrar seu interesse da forma que convém, e não da que tem vontade – isso se chama civilização”. Ao se portar como um animal, o homem trata a mulher como outro. “Aqueles avanços que ofendem a integridade moral da mulher, que façam ela se sentir humilhada como pessoa e como cidadã, são inaceitáveis”, pontua Maria Lúcia.
Se toda a aproximação entre um homem e uma mulher tem uma sombra da atração sexual, o problema não está no sexo e nem na atração sexual, mas, na forma como as pessoas se portam diante desse desejo. “O 'outro' é alguém que desejo, mas, antes de tudo, é 'alguém'”, ressalta ela. Pode parecer algo subjetivo demais para ser levado em consideração em uma festa, por exemplo, mas é algo sempre avaliado na hora do cortejo – caso contrário, termos considerados grotescos fariam parte de nosso dia-a-dia.
Limites
“A primeira coisa que um homem precisa entender antes de dar uma cantada em uma mulher é que ele não deve insistir caso leve um fora”, diz a comunicadora Patrícia Weidner sobre os avanços que recebe . “É a cara de tarado do estranho que ofende”. A economista Ana Carolina Hirsh concorda: “As piores cantadas são as que sempre chegam relacionadas a sexo, como 'nossa, você é gostosa', 'mas que delícia', ou coisas deste tipo”.
Mesmo que comentários deste tipo possam ofender, muitas vezes a ideia não é agredir a mulher. A psicóloga Maria Lucia afirma que a intenção pode ser uma autoafirmação do homem enquanto “macho da espécie”, a partir da exposição do desejo sexual. Como se ele estivesse mostrando que tem capacidade de possuir a mulher à força, se assim o desejar - mesmo que não o faça. “Ele pode tanto estar agindo como macho quanto como um sedutor; vai depender da linguagem do seu meio. É importante lembrar que há pouco tempo as garotas dos bailes funks eram definidas como 'cachorras preparadas' e, naquele contexto, a linguagem tem um sentido, mas choca quem está de fora”.
Mesmo que a linguagem corporal ou a roupa possa ser entendida como sinal verde pelo conquistador, avanços exagerados são condenados. “Elas gostam de se sentir desejadas, algumas até baseiam sua autoestima neste atributo, mas não esperam que os homens cheguem a um ponto mais grosseiro. Assim, a dificuldade em administrar a distância está no homem, que interpreta a constituição física da mulher como um sinal de possibilidade sexual”, ressalta Maria Lucia. Quando o homem sente que se tornou refém do desejo, que a mulher tem poder sobre a sua libido, pode, eventualmente, tornar-se mais agressivo e ofender.
É dos espirituosos que elas gostam mais
“As melhores cantadas sempre são seguidas de uma boa risada. Às vezes, você não chega a terminar a noite com o cara, mas rola um papinho, uma amizade”, diz Ana Caroline. “Eu achei uma cantada muito original quando um moço veio me mostrando um amigo dele, chegou e apontou, dizendo 'Você está vendo aquele cara ali? Então, ele quer saber se você quer ficar comigo'”.
De acordo com a psicóloga Maria Lúcia, as mulheres gostam de elogios. Mas percebem quando isso faz parte de um roteiro que o pretendente diz para todas. “Isso é mostrado em pesquisas que apontam que as mulheres preferem homens inteligentes, cultos e espirituosos, isto é, que as façam rir. Com certeza, esta é a forma de sedução que funciona mais”.
Elogios na contramão
Não precisa ser necessariamente paquera: certos elogios podem ofender, independentemente da conotação sexual: “Eu detesto quando falam que agora eu sou simples”, comenta a cantora Amanda Barros, que afirma ter escutado esta frase diversas vezes. “Para mim, parece que a pessoa está dizendo que eu me descuidei a beça, sabe? Sempre vem acompanhado de algum comentário sobre roupa, cabelo, maquiagem...”. Da mesma forma, Patrícia se irrita quando falam que ela “até que está bem para a idade que tem”.
Nestes casos, o que era para causar uma reação positiva acaba se tornando uma situação constrangedora - com o impacto semelhante ao de uma cantada grotesca. Para não deslizar na conversa, vale recorrer à lista que Jonathan Swift, autor de “Viagens de Gulliver” (mas também de “A Conversa Polida”), elaborou ainda no século 18 sobre a arte de bem conversar, em que o pedantismo e a falta de calma na apresentação dos argumentos figuram como pecados mortais das boas maneiras.
“A sedução depende de uma abertura, então, a questão não é a cantada, em si, mas a percepção do contexto”. A dica pode se estender a qualquer tipo de interação, já que a liberdade, de uma forma geral, termina onde a liberdade do outro é respeitada, e a sedução não se limita apenas a conquistas entre sexos opostos, mas, entre pessoas que desejam de alguma maneira conquistar as demais.
Por Tatiana Gerasimenko
Fonte:http://delas.ig.com.br/comportamento/os-limites-da-cantada/n1238093617451.html
Mas entre o elogio bem-vindo e o crime existe uma gama complexa que passa muitas vezes pelo desrespeito à mulher e pela simples grosseria. “Não configura o crime de assédio uma proposta sexual que não envolva a relação de poder entre as pessoas”, explica a advogada Juliana Perrella. “Poderá ser considerado apenas uma cantada de mau gosto”. Mas o mau gosto pode ofender e humilhar.
É o que torna o caso de Marcelo Mezzomo especial: recentemente, ele foi o primeiro juiz demitido pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul por ter feito cantadas consideradas impróprias para a funcionária de uma sorveteria. A advogada explica que, tendo uma autoridade constrangido alguém “valendo-se” de sua posição social privilegiada, a situação poderia ser configurada como incontinência de conduta, caracterizada pela insistência em razão da falta de aceitação. “Isso, a depender do caso, pode gerar uma situação desagradável ante um comportamento inoportuno”, diz Juliana.
Elogio é bom, agressividade incomoda O ex-juiz chegou a afirmar, em sua defesa, que seus avanços seriam considerados “normais” se não fosse sua posição. “Talvez o fato aqui não esteja especificamente ligado ao que é normal, mas, sim, ao que representa aos olhos masculinos”, ressalta a psicóloga e mestre em sexualidade humana, Maria Lúcia Beraldo. “Nesses casos, a cantada não é um recurso de sedução e, sim, uma forma agressiva de demonstrar sua atração sexual.
Sexo e agressividade estão relacionados no mundo animal, e somos animais; contudo, o que fará a diferença será a capacidade do indivíduo conter seus instintos e demonstrar seu interesse da forma que convém, e não da que tem vontade – isso se chama civilização”. Ao se portar como um animal, o homem trata a mulher como outro. “Aqueles avanços que ofendem a integridade moral da mulher, que façam ela se sentir humilhada como pessoa e como cidadã, são inaceitáveis”, pontua Maria Lúcia.
Se toda a aproximação entre um homem e uma mulher tem uma sombra da atração sexual, o problema não está no sexo e nem na atração sexual, mas, na forma como as pessoas se portam diante desse desejo. “O 'outro' é alguém que desejo, mas, antes de tudo, é 'alguém'”, ressalta ela. Pode parecer algo subjetivo demais para ser levado em consideração em uma festa, por exemplo, mas é algo sempre avaliado na hora do cortejo – caso contrário, termos considerados grotescos fariam parte de nosso dia-a-dia.
Limites
“A primeira coisa que um homem precisa entender antes de dar uma cantada em uma mulher é que ele não deve insistir caso leve um fora”, diz a comunicadora Patrícia Weidner sobre os avanços que recebe . “É a cara de tarado do estranho que ofende”. A economista Ana Carolina Hirsh concorda: “As piores cantadas são as que sempre chegam relacionadas a sexo, como 'nossa, você é gostosa', 'mas que delícia', ou coisas deste tipo”.
Mesmo que comentários deste tipo possam ofender, muitas vezes a ideia não é agredir a mulher. A psicóloga Maria Lucia afirma que a intenção pode ser uma autoafirmação do homem enquanto “macho da espécie”, a partir da exposição do desejo sexual. Como se ele estivesse mostrando que tem capacidade de possuir a mulher à força, se assim o desejar - mesmo que não o faça. “Ele pode tanto estar agindo como macho quanto como um sedutor; vai depender da linguagem do seu meio. É importante lembrar que há pouco tempo as garotas dos bailes funks eram definidas como 'cachorras preparadas' e, naquele contexto, a linguagem tem um sentido, mas choca quem está de fora”.
Mesmo que a linguagem corporal ou a roupa possa ser entendida como sinal verde pelo conquistador, avanços exagerados são condenados. “Elas gostam de se sentir desejadas, algumas até baseiam sua autoestima neste atributo, mas não esperam que os homens cheguem a um ponto mais grosseiro. Assim, a dificuldade em administrar a distância está no homem, que interpreta a constituição física da mulher como um sinal de possibilidade sexual”, ressalta Maria Lucia. Quando o homem sente que se tornou refém do desejo, que a mulher tem poder sobre a sua libido, pode, eventualmente, tornar-se mais agressivo e ofender.
É dos espirituosos que elas gostam mais
“As melhores cantadas sempre são seguidas de uma boa risada. Às vezes, você não chega a terminar a noite com o cara, mas rola um papinho, uma amizade”, diz Ana Caroline. “Eu achei uma cantada muito original quando um moço veio me mostrando um amigo dele, chegou e apontou, dizendo 'Você está vendo aquele cara ali? Então, ele quer saber se você quer ficar comigo'”.
De acordo com a psicóloga Maria Lúcia, as mulheres gostam de elogios. Mas percebem quando isso faz parte de um roteiro que o pretendente diz para todas. “Isso é mostrado em pesquisas que apontam que as mulheres preferem homens inteligentes, cultos e espirituosos, isto é, que as façam rir. Com certeza, esta é a forma de sedução que funciona mais”.
Elogios na contramão
Não precisa ser necessariamente paquera: certos elogios podem ofender, independentemente da conotação sexual: “Eu detesto quando falam que agora eu sou simples”, comenta a cantora Amanda Barros, que afirma ter escutado esta frase diversas vezes. “Para mim, parece que a pessoa está dizendo que eu me descuidei a beça, sabe? Sempre vem acompanhado de algum comentário sobre roupa, cabelo, maquiagem...”. Da mesma forma, Patrícia se irrita quando falam que ela “até que está bem para a idade que tem”.
Nestes casos, o que era para causar uma reação positiva acaba se tornando uma situação constrangedora - com o impacto semelhante ao de uma cantada grotesca. Para não deslizar na conversa, vale recorrer à lista que Jonathan Swift, autor de “Viagens de Gulliver” (mas também de “A Conversa Polida”), elaborou ainda no século 18 sobre a arte de bem conversar, em que o pedantismo e a falta de calma na apresentação dos argumentos figuram como pecados mortais das boas maneiras.
“A sedução depende de uma abertura, então, a questão não é a cantada, em si, mas a percepção do contexto”. A dica pode se estender a qualquer tipo de interação, já que a liberdade, de uma forma geral, termina onde a liberdade do outro é respeitada, e a sedução não se limita apenas a conquistas entre sexos opostos, mas, entre pessoas que desejam de alguma maneira conquistar as demais.
Por Tatiana Gerasimenko
Fonte:http://delas.ig.com.br/comportamento/os-limites-da-cantada/n1238093617451.html
Comentários
Postar um comentário