Novos conflitos da masculinidade
A questão da semana é o caso do homem que diz desejar uma relação estável, mas não aceita as mulheres que demonstram gostar de sexo nem as recatadas. Ao contrário do que muitos pensam, o sexo ainda não é livre.Na vida de cada um, liberdade sexual é objetivo difícil de ser atingido. Muitos se reprimem e estão sempre prontos a criticar o outro por sua conduta sexual. As pessoas padecem por conta das próprias fantasias, desejos, culpas, medos e frustrações sexuais.
A sexualidade que vemos no relato desta semana é típica do machão: impessoal, estereotipada e limitada. Cumprir o papel de macho é o principal objetivo. Trocar afeto e prazer com a parceira é secundário. A mulher, para tal homem, só é interessante como meio de lhe proporcionar esse prazer que, na realidade, não tem nada a ver com prazer sexual.
Reich tinha razão quando denunciou a miséria sexual das pessoas. Ele lutou a vida inteira, apesar dos ataques sofridos, para convencer a todos de que a sexualidade, quando expressa de modo adequado, é a nossa principal fonte de felicidade. E quem é feliz está livre da sede de poder. Ele dizia que, se alguém tem a sensação de uma vida viva, alcança uma autonomia que se nutre das potencialidades do eu.
Em outras épocas, o internauta provavelmente não teria o conflito descrito. Os papéis que homens e mulheres tinham que desempenhar eram muito bem definidos. Para casar ou mesmo namorar, o homem não titubeava, escolhia aquela moça que correspondesse ao que dela se esperava: recato sexual.
Vivemos um momento de transição na história das mentalidades, e por conta disso surgem dilemas tão esdrúxulos. Sem dúvida, a moça reprimida, que demonstra não se interessar por sexo, perdeu todo o seu glamour. Os tempos são outros, e não faltam estímulos para que se viva um sexo mais intenso e prazeroso, incluindo aí a realização de variadas fantasias.
A satisfação sexual na relação com a parceira passou a ser fundamental. Por outro lado, a mulher livre, que não esconde que sexo é tão bom para ela como para o homem, pode gerar insegurança. Tudo indica que os homens que ainda não conseguiram se libertar dos valores tradicionais, estão, ao menos momentaneamente, impossibilitados de estabelecer relacionamentos afetivo/sexuais satisfatórios.
É difícil negar então que a masculinidade está em crise. Nos últimos 30 anos foi constatado nos homens o aumento da depressão e em vários países registram-se doenças do homem esgotado. Todo o esforço exigido deles para ser considerados “homens de verdade” provoca angústia, medo do fracasso e dificuldades afetivas.
Mas como resolver o impasse entre a proibição social de expressar sentimentos considerados femininos e a crítica cada vez mais acirrada ao homem machista? Como os homens podem recuperar sua autonomia?
Talvez o jeito seja se unir às mulheres e, examinando o mito da masculinidade, repudiar essa masculinidade como natural e desejável. Nem todos aceitam o roteiro do macho e cada vez mais homens, em todo o mundo, tomam consciência da desvantagem desse papel e empreendem a desconstrução e a reconstrução da masculinidade.
Regina Navarro Lins
Fonte:http://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2013/08/03/novos-conflitos-da-masculinidade/
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