Melhora.
E se piora, é porque não era amizade.
Eis o resumo.
Agora vou me enrolar em amor, ciência e dúvida.
UMA PESQUISA CIENTÍFICA
Meninas, meninas… Tenho certeza de que em algum momento eu já disse umas oitocentas palavrinhas a respeito do sexo-amigo. Vamos às novecentas.
A nossa amiga Heidi Reeder, por exemplo. Informam os sites que ela é uma doutora na Boise State University, nos Estados Unidos. A Heidi entrevistou 300 cidadãos e chegou a uma conclusão: sim, sim, sim, passar a canetinha colorida na amizade faz bem pra amizade.
Diz ela que 76% das pessoas que transaram com um amigo notaram um fortalecimento dessa fraternidade suada.
O que nos leva a espocar o champã da vitória e disparar, neste momento, recadinhos de celular em prol de amizades eternas e um grito: transemos com nossos amigos!
UMA PESQUISA BRASILEIRA
Meninas, diante da nossa Reeder, fui a campo, fui apurar. E numa pesquisa modesta, que compilou as opiniões de mais ou menos quatro amigos, chego à conclusão de que a nossa doutora Reeder diz groselhas, escreve caramelos e enxerga duendes.
Mas sim, que feliz eu fiquei em ouvir os caramelos, as groselhas e os duendes.
Porque eu quero acreditar! Quero sim.
Mas a verdade é que… É que é raro, raríssimo isso dar certo.
E é justamente porque é raro que isso dê certo que eu direi: meninas, meninos: transem. A vida nem é curta assim, como diz a oposição. Não se trata da duração, mas de um fato: ela é uma só. E uma vontade perdida é uma vontade perdida.
Sou a favor do sexo entre amigos. Sou mesmo. Mas sou a favor do sexo entre amigos sabendo o que pode gerar o sexo entre amigos: quase sempre briga, dor, desintegração, oblívio, terremoto e catarata.
Divago.
Volto à minha pesquisa.
Na minha franca apuração, ouvi duas verdades:
- Qualquer (TODA) amizade entre homem e mulher passa por algum momento de tensão sensual;
- Todo (TODO) homem já pensou em comer (o verbo é esse aí mesmo) a amiga…
(um parênteses neste quesito: todo homem, a bem da verdade, já pensou em comer quase qualquer garota com quem ele travou relações além de um “oi”, se a garota oferecer algum tipo de encanto).
Depois das duas verdades, ouvi três conclusões:
- Depois de transar com uma amiga, há sempre um estranhamento inicial que pode descambar em briga, em esfriamento, inimizade, amor ou cumplicidade.
- O futuro dos amigos que amassaram o lençol depende: do sentimento que as duas partes escondem sob a máscara da amizade; do nível de intimidade; da conversa anterior e posterior ao sexo;
- Depois de transar com uma amiga, o rapaz certamente, em algum momento, vai querer fazer de novo.
O QUE EU ACHO?
Não sei. Acho que sou a favor. Simplesmente porque se aconteceu, aconteceu porque os dois queriam. Uma transa de amizade guarda uma profunda vantagem em relação ao sexo de primeiro encontro: há intimidade suficiente e tempo para equilibrar prós e contras. Dá, ainda, chance de conversar antes, de sutilmente tatear o território. Mas acima de tudo, é um barato, quando dá certo.
Aquele sexo sem pressão, sem fingimento. Um sexo sem neura e com telefonema no dia seguinte pra falar de qualquer coisa, inclusive do sexo.
Aquele ombro, aquele seio, aquele pirulito amigo pro dia de solidão.
Eu acho uma maravilha.
Mas…
Mas o cuidado, o ponto complicado, o inferno é que o coração é aquilo, né: um músculo travesso e involuntário. Vai saber quais são os esforços necessários para manter uma amizade com transa apenas como uma amizade.
O inferno, meninas, é que as pessoas se apaixonam.
E é uma paixão cheia de sentido.
Porque rompida a barreira do sexo, uma amizade se torna o casamento perfeito, a relação ideal.
Um amizade com sexo vai esfarelando as barreiras que a gente cria pra manter a amizade uma amizade, e não um casório.
No fim, os dois, ou um dos dois, cede primeiro. E quer mais. Exige mais. Sente ciúme. Pede justificativa.
A amizade deixa de ser amizade. Vira um limbo em que, por fora, se diz assim, mas por dentro já é outra coisa.
Meninas, sou a favor. Sou sim. Mas sou a favor com responsabilidade e com a ciência dos riscos.
Concordo com a pesquisa da nossa doutora americana por um simples motivo: amigos quando transam seguem amigos. Quando a coisa dá errado é porque, no fundo, a amizade era só um recurso pra ficar perto de alguém por quem a gente está apaixonado em algum grau.
Sim, sim: escrevo isso e, escrevendo, desenho todo o sentido da coisa! É esse o motivo que faz com que após as transadas entre amigos quase sempre um dos lados fraqueja e sai desintegrado.
Pode reparar.
Um dos lados é sempre frio, insensível, aproveitador. E o outro, sentimental, esquentado, dolorido, traído.
Porque entre dois amigos que transaram um lado é gelado (quer seguir como amigo) e o outro é foguinho (quer algo mais)?
Porque o sexo é um senhor detergente de sentimentos. Um limpa-vidros maravilhoso. Permite ver o que há por trás de um laço fraternal.
Minha teoria é esta: dois amigos que brigam depois do sexo não eram amigos. Eles utilizavam a amizade (ao menos um dos dois fazia isso) para ficar perto de alguém, conscientes dessa paixão ou quase conscientes.
No fundo, não eram amigos.
UM SONHO
E se a gente pudesse transar com os amigos deixando tudo tão leve, tão igual, tão respeitoso, tão divertido quanto é ir ao cinema, à calçada, ao sofá, ao bar com o amigo? Ah, como é uma lindeza aquela trepada inesperada, aquela trepada suave, sem medo, sem vergonha, sem pressão… Com respeito.
Já disse e vou dizer de novo: eis o amor ideal, o maior dos amores.
Ainda acho possível.
Sou a favor. Sim e sempre.
O melhor dos mundos, quando dá certo. E o pior, quando dá errado. Contas feitas, prefiro o melhor e o pior ao que é médio. Prefiro um risco. Não gostaria de viver guardando debaixo das calças vontades que circulam na afeição entre duas pessoas.
O mundo, colorido, é um mundo melhor.
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