KUNDALINE TANTRA -TEXTO DO LIVRO ESCRITO POR SWAMI SATYANANDA SARASWATI



Livro: Kundalini Tantra

A vida sexual tem sido sempre um problema para a humanidade. Desde o começo da história, a energia primal tem sido mal compreendida. Professores religiosos e moralistas têm denunciado isto. Mas a vida sexual continua, não porque o homem a respeite, mas porque ele necessita dela. Ele talvez a renuncie, mas ele não pode removê-la de sua mente, porque ela é um de seus mais poderosos impulsos.

No contexto do yoga e do tantra, a comum definição de vida sexual não tem relevância. É absolutamente não científico e incorreto. Essa definição tem criado uma sociedade e uma nação de hipócritas. Tem conduzido milhares de pessoas jovens para dentro de um asilo mental. Quando você quer algo o qual você pensa que é mal, todos os tipos de complexos de culpa surgem. Isto é o início da esquizofrenia, e todos nós somos esquizofrênicos em certa extensão.

Entretanto, os yoguis têm tentado dar uma direção correta para o impulso sexual. Yoga não interfere com a vida sexual. A vida sexual normal nem é espiritual ou não espiritual. Mas se você pratica yoga e domina certas técnicas, então a vida sexual se torna espiritual. Naturalmente, se você segue uma vida celibatária, isto é também espiritual.

Tantra da mão esquerda

A ciência do tantra tem dois principais ramos, os quais são conhecidos como vama marga e dakshina marga. Vama marga é o caminho esquerdo o qual combina vida sexual com práticas de yoga para despertar os centros de energia adormecidos. Dakshina marga é o caminho da direita das práticas de yoga sem lei sexual. Previamente, devido as barreiras na vida sexual, o caminho mais largamente seguido foi o dakshina marga. Hoje, entretanto, estas barreiras estão sendo rapidamente quebradas, e o caminho mais procurado pelas pessoas em todos lugares é vama marga, a qual utiliza a vida sexual para o desenvolvimento espiritual.

De acordo com o tantra, a vida sexual tem uma proposta tríplice. Alguns praticam-na para procriação, outros por prazer, mas as práticas tântricas são para o samadhi. Ele não mantém nenhuma visão negativa sobre isto. Ele a faz como uma parte de sua sadhana. Mas, ao mesmo tempo, ele se dá conta que para propostas espirituais, a experiência deve ser mantida. Ordinariamente, esta experiência é perdida antes que alguém possa aprofundar-se nela. Dominando certas técnicas, entretanto, esta experiência pode tornar-se contínua mesmo em todas as parte da vida diária. Então os centros silenciosos do cérebro são despertados e começam a funcionar todo o tempo.

A energia principal

A alegação do vama marga é que o despertar de kundalini é possível por meio da interação sexual entre o homem e a mulher. O conceito atrás disso segue as mesmas linhas que o processo de fissão e fusão descritos na física moderna. O homem e a mulher representam a energia positiva e negativa. Em um nível mental eles representam tempo e espaço. Ordinariamente, estas duas forças permanecem em pólos opostos. Durante a interação sexual, entretanto, eles movem-se para fora de suas posições de polaridade, em direção ao centro. Quando eles vem juntos ao núcleo ou ponto central, uma explosão ocorre e a matéria torna-se manifesta. Este é o tema básico da iniciação tântrica.

O evento natural que toma lugar entre o homem e a mulher é considerado como a explosão do centro de energia. Em todo pontinho da vida, ela é a união entre os pólos positivo e negativo que é responsável pela iluminação, e a experiência que ocorre neste momento de união é um vislumbre da alta experiência.

Este assunto tem sido cuidadosamente discutido em todas as antigas escrituras do tantra. Verdadeiramente mais importante do que as ondas de energia que são criadas durante a união mútua, é o processo de direcionamento dessa energia para os centros mais altos. Todos sabem como esta energia é criada, mas ninguém sabe como dirigi-la para os centros mais altos. De fato, muito poucas pessoas tem completo entendimento positivo desse evento natural o qual quase todas pessoas no mundo experienciam. Se a experiência conjugal, a qual é geralmente muito transitória, pudesse ser extendida por um período de tempo, então a experiência de iluminação poderia ocorrer.

Os elementos que são trazidos juntos nesse processo de união são conhecidos como Shiva e Shakti. Shiva representa o purusha ou consciência e Shakti representa prakriti ou energia. Shakti, de diferentes formas, é representada em toda a criação. Ambos a energia material e espiritual são conhecidos como Shakti. Quando a energia move-se externamente, ela é a energia material e quando ela é dirigida interiormente é a energia espiritual. Entretanto, quando a união entre homem e mulher é praticada de uma forma correta, ela tem uma influência muito positiva no desenvolvimento da consciência espiritual.
Mantendo o bindu
Bindu significa um ponto ou uma gota. No tantra, bindu é considerado o núcleo, ou domicílio da matéria, o ponto do qual toda criação torna-se manifesta.

Verdadeiramente, a fonte do bindu são os mais altos centros do cérebro. Mas devido ao desenvolvimento das emoções e paixões, o bindu cai para uma região mais baixa onde é transformado em esperma e óvulo. No nível mais alto, bindu é um ponto. No nível mais baixo, ele é a gota de líquido, a qual goteja do organismo masculino e feminino.

De acordo com o tantra, a preservação do bindu é absolutamente necessária por duas razões. Primeiramente, o processo de regeneração pode unicamente ser executado com a ajuda do bindu. Em segundo lugar, todas as experiências espirituais ocorrem quando existe uma explosão do bindu. Esta explosão pode resultar na criação de tudo ou de nada. Entretanto, no tantra, certas práticas são recomendadas através das quais o parceiro masculino pode parar a ejaculação e manter o bindu.

De acordo com o tantra, a ejaculação não deveria ocorrer. Alguém deveria ensinar como interrompê-la. Para este fim, o parceiro homem deveria ter aperfeiçoado as práticas de vajroli mudra tão bem quanto mula bhanda e uddiyana bandha. Quando estas três kriyas estão perfeitas, a pessoa está apta a parar a ejaculação completamente em qualquer ponto da experiência.

O ato sexual culmina em uma particular experiência a qual é alcançada somente no ponto de explosão da energia. A menos que a energia exploda, a experiência pode não ocorrer. Mas esta experiência tem de ser mantida, assim que o nível da energia mantem-se alto. Quando o nível da energia cai a ejaculação ocorre. Entretanto, a ejaculação é evitada, não tanto para preservar o sêmen, mas porque isto causa a depressão no nível de energia.

Para fazer esta energia viajar para cima através da espinha, certas kriyas do hatha yoga tem sido dominadas. A experiência a qual é concomitante de energia tem que ser elevada para os centros mais altos. Isto somente é possível fazer se você pode prolongar e manter esta experiência. À medida que a experiência continua, você pode dirigi-la para os centros mais altos. Mas tão logo o nível de energia sofra uma depressão, a ejaculação ocorre.

A ejaculação baixa a temperatura do corpo e ao mesmo tempo, o sistema nervoso sofre uma depressão. Quando o sistema nervoso simpático e parassimpático sofrem uma depressão, isto afeta o cérebro. Isto é o que faz muitas pessoas terem problemas mentais. Quando você pode manter o sêmem sem absolutamente ejacular, a energia no sistema nervoso e a temperatura em todo corpo são mantidas. Ao mesmo tempo, você está livre do sentido de perda, depressão, frustração e culpa. A retenção também ajudará você a aumentar a freqüência sexual, e isto é melhor para ambos os parceiros. O ato sexual não cria fraqueza ou dissipa a energia, pelo contrário, ele pode tornar-se um meio de expansão da energia. Entretanto, o valor de manter o bindu não deveria ser subestimado.

No Hatha yoga existem certas práticas as quais devem ser aperfeiçoadas para este fim. Você deveria começar com asanas tal como paschimottanasana, shalabhasana, vajrasana, supta vajrasana e siddhasana. Estas são benéficas conforme elas determinam uma automática contração nos centros mais baixos. Shirshasana é também importante porque ventila o cérebro assim que toda a experiência de uma pessoa será saudavelmente vivenciada. Quando estas posturas tiverem sido dominadas, shambhavi mudra é aperfeiçoada a fim de segurar a concentração firmemente no bhrumadhya. A prática de kumbhaka é necessária enquanto a ejaculação está sendo retida.

Retenção do fôlego e o bindu seguem de mãos dadas. A perda da kumbhaka é a perda do bindu, e a perda do bindu é a perda da kumbhaka.

Durante a kumbhaka, quando você está mantendo a experiência, você deveria poder direcionar isto para os centros mais altos. Se você pode criar um arquétipo desta experiência, talvez na forma de uma serpente ou de uma continuidade luminosa, seqüêncial, então o resultado será fantástico. Assim, na vida espiritual, o bindu deve ser preservado a todo custo.

A experiência feminina

No corpo da mulher, o ponto de concentração é o muladhara chakra, o qual está situado no cervix, justamente atrás da abertura do útero. Este é o ponto onde espaço e tempo unem-se e explodem na forma de uma experiência. Esta experiência é conhecida como orgasmo na linguagem ordinária, mas na linguagem do tantra ela é chamada um despertar. Para manter a continuidade da experiência, é necessário que o desenvolvimento da energia ocorra em um particular bindu ou ponto. Usualmente isso não acontece, porque a explosão de energia dissipa o corpo totalmente através do sexo médio, moderado. Para evitar isto, a mulher deve poder segurar sua mente em concentração absoluta neste ponto particular. Para isto, a prática é conhecida como sahajoli.

Verdadeiramente, sahajoli é a concentração no bindu, mas isto é muito difícil. Entretanto, a prática de sahajoli, a qual é a contração da vagina tanto quanto dos músculos do útero, deveria ser praticada por um longo período de tempo.

Se as meninas são ensinadas a fazer uddiyana bandha cedo, elas aperfeiçoarão sahajoli muito naturalmente com o tempo. Uddiyana bandha é sempre praticado com retenção externa. É importante poder faze-la em qualquer posição. Usualmente, ela é praticada em siddha yoni asana, mas a pessoa deveria poder faze-la em vajrasana ou na várias outras posturas também. Quando você pratica uddiyana bandha, as outras duas bandhas – jalandhara e mula bandha ocorrem espontaneamente.

Anos desta prática criarão um aguçado senso de concentração no correto ponto no corpo. Esta concentração é de natureza mais mental, mas ao mesmo tempo, desde que não seja possível faze-la mentalmente, a pessoa tem que começar de algum ponto físico. Se uma mulher é capaz de concentrar e manter a continuidade da experiência, ela pode despertar sua energia para um alto nível.

De acordo com o tantra, existem duas diferentes áreas de orgasmo. Uma é na zona nervosa, a qual é a experiência comum da maioria das mulheres, e a outra é no muladhara chakra. Quando sahajoli é praticado durante o maithuna (o ato de união sexual ), o muladhara chakra desperta e o orgasmo espiritual ou tântrico ocorre.

Quando a yogui mulher pode praticar sahajoli por digamos 5 a 15 minutos, ela pode manter o orgasmo tântrico pelo mesmo período de tempo. Mantendo essa experiência, o fluxo de energia é revertido. A circulação do sangue e as forças simpáticas e parassimpáticas movem-se para cima.
Neste ponto, ela transcende a consciência normal e vê as luzes. É como se ela entrasse em um estado mais profundo de dhyana. A menos que a mulher possa praticar sahajoli, ela não poderá manter os impulsos necessários para o orgasmo tântrico, e conseqüentemente ela terá o orgasmo nervoso, o qual tem uma vida curta e é seguido por insatisfação e exaustão.

Esta é a mais freqüente causa de histeria e depressão nas mulheres. Assim, sahajoli é uma prática extremamente importante para a mulher. Em uddiyana, nauli, naukasana, vajrasana e siddha yoni asana, sahajoli vem naturalmente.

A prática de amaroli é também muito importante para a mulher casada. A palavra amaroli significa “imortal” e por esta prática a pessoa é liberta de muitas doenças.

A prática de amaroli após um prolongado período também produz um importante hormônio conhecido como prostaglandina a qual destrói o óvulo e previne a concepção.

Guru tântrico

Justamente como no esquema da criação, Shakti é a criadora e Shiva a testemunha de todo jogo, no tantra a mulher tem o status de guru e o homem de discípulo. A tradição tântrica é verdadeiramente passada da mulher para o homem. Na prática tântrica, é a mulher que dá a iniciação.

É somente por seu poder que o ato de maithuna ocorre. Todas as preliminares são feitas por ela. Ela coloca a marca na testa do homem e conta-lhe onde meditar. Na interação comum, o homem toma o papel agressivo e a mulher participa. Mas no tantra, eles trocam de papéis. A mulher torna-se a operadora e o homem o seu mediador. Ela tem que poder despertá-lo. Então, neste mesmo momento, ela deve criar o bindu assim ele pode praticar sahajoli. Se o homem perde seu bindu, significa que a mulher falhou em desempenhar suas funções com propriedade.

No tantra é dito que Shiva é incapaz sem Shakti. Shakti é a sacerdotisa. Entretanto, quando vama tantra é praticado, o homem deve ter uma absoluta atitude tântrica em direção à mulher. Ele não pode comportar-se com ela como os homens geralmente fazem com outras mulheres. Ordinariamente, quando um homem olha uma mulher ele torna-se apaixonado, mas durante o maithuna ele não deveria. Ele deveria olha-la como a mãe divina, Devi, e desenvolver com ela uma atitude de devoção e rendição, não com luxúria.

De acordo com o conceito tântrico, as mulheres são mais dotadas de qualidades espirituais e seria uma coisa sábia se a elas fosse permitido assumir posições elevadas nas questões sociais. Então, existiria maior beleza, compaixão, amor e compreensão em todas as esferas da vida.

O que nós estamos discutindo aqui não é uma sociedade patriarcal versus uma sociedade matriarcal, mas tantra, particularmente tantra da mão esquerda.

O caminho dos yoguis não bhogis

No tantra, a prática do maithuna é dita ser o mais fácil modo de despertar o sushumna, porque ele envolve um ato o qual a maioria das pessoas já estão acostumadas. Mas, francamente falando, muito poucas estão preparadas para este caminho. A interação sexual ordinária não é maithuna. O ato físico talvez seja o mesmo, mas o conhecimento trazido é totalmente diferente.

No relacionamento entre marido e esposa, por exemplo, existe dependência e posse, mas no tantra cada parceiro é independente, cada um com si mesmo. Outra coisa difícil na sadhana tântrica é cultivar a atitude de não apaixonado. O homem tem que virtualmente tornar-se brahmacharya para poder libertar a mente e as emoções dos pensamentos sexuais e de paixão os quais normalmente despertam na presença de uma mulher.

Ambos parceiros devem ser absolutamente purificados e possuir auto-controle tanto interna e externamente, antes de praticarem o maithuna. Isto é difícil para as pessoas comuns compreenderem porque para a maioria das pessoas, a interação sexual é o resultado de paixão e atração física e emocional, também para procriação ou prazer.

É somente quando você está purificado que estes impulsos instintivos são ausentes. Isto é porque, de acordo com a tradição, o caminho do dakshina marga deve ser seguido por muitos anos antes de poder entrar no caminho do vama marga. Então a interação do maithuna não ocorre para a gratificação física. A proposta é muito clara – despertar do sushumna, a subida da energia de kundalini do muladhara chakra, e a explosão das áreas inconscientes do cérebro.

Se isto não está claro quando você pratica os kriyas e sushumna se torna ativo, você não poderá encarar o despertar. Sua cabeça ficará quente e você não poderá controlar a paixão e excitação porque você não terá traquilizado seu cérebro.

Entretanto, em minha opinião somente aqueles que são adeptos do yoga estão qualificados para o vama marga. Este caminho não deve ser usado indiscriminadamente como um pretexto para auto-indulgência. Ele é referido para maduros e sérios sadhakas chefes de família cuidadosos para despertar a energia potencial e obter o samadhi.

Eles devem utilizar este caminho como um veículo do despertar, de outra forma ele torna-se um caminho de queda.

Texto retirado do livro: Kundalini Tantra escrito por Swami Satyananda Saraswati
Tradução: Teresa Cristina Muniz
Fonte:http://pistasdocaminho.blogspot.com.br/

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