Será? Creio que sim. Mais do que o time, mesmo para os mais fanáticos e fundamentalistas. Mais do que o signo para uma orgulhosa leonina. Mais do que a ideologia para um reaça ou para o mais maluco dos anarquistas, mais do que a religião para um papa demissionário.
No livro “Desidéria”, do comuna italiano Alberto Moravia, que acabei de reler aqui na rede, na margem esquerda do Capibaribe, o autor caracteriza cada personagem por uma maneira predileta de fazer amor –ou sexo, vá lá, é que hoje estou muito romântico.
Ele diz que é a melhor forma de definir um ser humano. Assim como Charles Dickens marcava suas criaturas por um gesto mais forte, uma mexida estranha no nariz, por exemplo, e pelas cores das roupas.
Cada escritor com sua mania. Essa escolha sexual, porém, é muito interessante. No livro citado, cada um tem a sua posição ou modo de tentar o gozo mais, digamos assim, satisfatório.
A personagem principal, a Desidéria, é retratada pela imaginação. Viaja nos seus próprios dedos e consolos. A mãe dela, Viola, lindamente safada, é devota do anal. Praticamente só anal. Um outro lá aprecia o sexo da forma mais bruta, “sexo operário”, como ele mesmo diz.
E assim por diante.
Creio que seria mesmo, ficções à parte, uma boa maneira de catalogar a humanidade.
Por mais que se goste de variar nos bambuais do kama sutra, temos uma maneira preferida para chegar ao possível nirvana. Um item obrigatório no cardápio.
Apanhar para as muito histéricas é um clássico. Pelo menos vi isso na obra do tio Nelson e revi ontem no filme “Um método perigoso” (2011), que retrata a treta de Freud e Jung – direção David Cronenberg. Isso não significa, porém, que qualquer pessoa não possa apreciar, independentemente do diagnóstico, umas boas lapadas.
Já testemunhei, em rodas de amigas, algumas delas arriscarem a preferência de homens que circulavam no ambiente. Aquele ali tem cara de quem gosta disso ou daquilo. Aquele outro não faz sexo oral nem por esmola. E assim por diante.
Tem quem só acredite, na hora H, no papai e mamãe –com ou sem beijo na boca.
Há quem goste de ver o amor pelo retrovisor e de quatro.
O certo é que todos nós temos uma preferência. Quem acha obrigatório 69, por exemplo, é rotulado hoje em dia de um tremendo(a) nostálgico(a), old-school, vintage etc.
É, acho que é melhor mesmo cada um aplicar os dotes orais de uma vez, separadamente.
O franciscano dando-que-se-recebe talvez não encaixe bem no simultâneo. Talvez mate a necessidade de um certo egoísmo do gozo –como vou usufruir pesadamente e ao mesmo tempo retribuir da forma mais altruísta do mundo?
Nem de batina marrom com passarinhozinhos no ombro.
Mas isso é apenas um detalhe. Demodê por demodê, quer mais antigo que a suruba? E ainda conheço gente que a pratica.
O que importa é saber que, assim como temos um time, um signo, uma ideologia, vá lá, temos um modo preferido de fazer amor, digo, sexo, digo, amor, que nos define.
Fonte:http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/2013/02/22/
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